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Quando fui acompanhar a eleição do Javier Milei na Argentina, recebi uma mensagem de alguém que me conhece desde criança. “Quem defende fascista, fascista é.” Assim, do nada. Essa pessoa me viu crescer, me conhece, sabe exatamente o que eu penso. Mesmo assim, preferiu me atacar com um rótulo absurdo.
Na hora, fiquei chateada. Claro que fiquei. Mas não denunciei. Não fui atrás de “reparação”. Porque, apesar de ter sido injusto, aquilo não foi uma violência, e sim opinião. Por mais absurda que seja essa opinião ele tem o direito de dizer.
Estamos vivendo uma época em que tudo virou motivo para silenciar alguém. Basta uma fala desagradar, e pronto: já tem alguém pedindo para apagar, derrubar, investigar, cancelar. A ideia de que “a minha dor é o limite da sua liberdade” virou desculpa para calar qualquer um que pense diferente.
Mas nem tudo que dói é agressão. Liberdade de expressão não é só o direito de falar o que agrada. É o direito de falar o que incomoda, que provoca e faz pensar. É esse o papel da arte, do jornalismo, do humor, do debate público. Se começamos a censurar tudo que pode ofender alguém, o que sobra?
Nos Estados Unidos, por exemplo, até discursos considerados odiosos, os chamados hate speech, são protegidos. Se não incentivarem violência, eles são parte da liberdade garantida pela Constituição. Mas aqui no Brasil, estamos indo na direção contrária.
Um humorista foi condenado a oito anos de prisão por causa de uma piada. Um jornalista teve as redes bloqueadas por ordem do STF. Pessoas estão sendo investigadas por opiniões. Isso gera medo e censura prévia. Tem gente que evita publicar, comentar ou até conversar por receio de ser punida por falar.
Aos poucos, o silêncio vai tomando conta. Não porque as pessoas não tenham mais o que dizer, mas porque têm medo das consequências de dizer
Greg Lukianoff, que viralizou recentemente com um TED sobre esse tema, diz que a liberdade de expressão é o que mantém as sociedades livres. E ele tem razão. Não é só um direito bonito no papel. É o que nos protege contra abusos. É o que permite denunciar, discordar, questionar.
Mas eu ainda acredito que nem tudo está perdido.
Tenho visto pessoas se levantando. Gente comum, jornalistas, artistas e influenciadores. Gente que entendeu que abrir mão da liberdade, mesmo que só um pouquinho, nunca termina bem. E é essa indignação que pode virar força.
Vamos vencer esse tempo de censura falando, explicando, ensinando, e, principalmente, não se calando. Porque liberdade de expressão só existe quando é para todo mundo. Até para quem fala o que não queremos ouvir.
Sara Ganime é jornalista, CEO do Boletim da Liberdade e ativista pela liberdade de imprensa e de expressão. Sara é líder do LOLA Rio de Janeiro e foi bolsista do programa Maria Oropeza Activism Fellowship.



