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É preciso abrir-se a alternativas inovadoras que de alguma maneira façam ressurgir novas motivações educacionais na comunidade escolar. Perder o medo de ser menos ideológico e mais realista

Como consultor educacional, torna-se cada vez mais comum para mim ter de responder a inúmeros pais sobre as vantagens e desvantagens de determinado modelo escolar. Parece que paira no horizonte social certo descontentamento pelo que é oferecido na comunidade escolar e por isso é natural que os responsáveis pela educação comecem a buscar novas alternativas. Mas perguntemo-nos: o que estará incomodando esses pais?

Há alguns anos era a péssima qualidade do ensino, depois apareceram problemas de disciplina, bulliyng, drogas, estresse dos professores. Hoje, outras questões muito mais delicadas parecem inquietar os responsáveis, como ideologias sobre novos tipos de família, de sexualidade ou de orientação sexual; imposições absurdas com relação à boa autoridade e à disciplina. Enfim, tópicos bastante controvertidos vão sendo introduzidos nos currículos de vários centros de ensino e impostos em cartilhas às crianças desde muito cedo, causando depois profundas deformações em suas consciências. Parece natural, portanto, que algumas famílias que querem o melhor para os seus filhos comecem a acordar para o perigo que se avizinha e se mobilizem em busca de novas modalidades de ensino que de alguma maneira preservem os seus valores humanos e os seus ideais transcendentes.

Esse direito dos pais de escolher com prioridade o gênero de educação que querem para os seus filhos está garantido na Declaração Universal dos Direitos Humanos. Mas na hora de escolherem, muitas famílias sentem ainda hoje o autêntico monopólio e controle estatal, com um evidente viés ideológico. É uma pena! Sou da opinião de que somente quando as autoridades educacionais, em todos os seus níveis de ensino, começarem a compartilhar com a sociedade o enorme peso de acharem soluções para a qualidade do ensino, será possível vislumbrar as tão sonhadas melhorias a médio e longo prazo.

Quando me consultam sobre as vantagens e desvantagens do homeschooling, da educação diferenciada por sexo, das charter schools – modalidades escolares que vão sendo experimentadas com relativo sucesso já faz várias décadas em países desenvolvidos –, minha resposta é sempre a mesma: essas formas dependem das condições dos pais, dos professores, dos filhos, da comunidade, da cultura para dar certo ou não. Em educação não deve haver padronizações. Nunca se poderá tratar de forma igual as crianças desiguais, mesmo numa família com diversos filhos. Cada um é único e tem de ser ajudado a encontrar o caminho escolar que melhor o realize. Portanto, é importante que o governo enxergue que poderá ser muito salutar oferecer ao sistema educacional mais modalidades de ensino que de alguma maneira proporcionem novos remédios para tratar as atuais doenças educacionais, cada vez mais multifacetadas.

Examinemos alguns exemplos concretos: o homeschooling. Em geral, as famílias que adotaram esse modelo com sucesso apresentavam características bem definidas: muitos moravam longe dos melhores centros de ensino, tinham vários filhos, comungavam princípios éticos e valores humanos bem definidos, possuíam níveis culturais e econômicos razoáveis, os pais trabalhavam dentro ou próximos do lar. Os resultados acadêmicos, principalmente nos EUA e na Inglaterra, foram melhores que os das escolas regulares, fossem elas públicas ou privadas. As consequências no aspecto do desenvolvimento psicossocial dos alunos, por mais que algumas teorias desaconselhassem o modelo, também surpreenderam. No Brasil, ficaram famosos alguns casais que se aventuraram por essa via educacional e os resultados apresentados foram semelhantes. Infelizmente, não receberam o apoio do governo que se deveria esperar.

Averiguemos a educação diferenciada por sexo. Superados os preconceitos iniciais, os resultados científicos têm sido positivos. Segundo pesquisa empreendida por Cornelius Riordan, pesquisador americano da educação diferenciada por sexo, tal modelo se mostra uma alternativa educacional que eleva consideravelmente alguns índices de avaliação da qualidade do ensino, como aquisição cognitiva; comportamento relacional; desenvolvimento psicossocial; controle do ambiente escolar; atenção e concentração em sala. Para que essa forma de educação tenha sucesso, os pais precisam ser mais comprometidos com a educação e querer envolver-se efetivamente, dedicando mais tempo na própria formação integral, para que família e escola estejam durante todos os dias da semana em busca dos mesmos ideais.

Podemos concluir que está na hora de o Brasil quebrar seu "muro de Berlim" educacional e encarar essa urgência educativa com um espírito mais desbravador.

João Malheiro é doutor em Educação pela UFRJ. E-mail: malheiro.com@gmail.com BLOG: escoladesagres.org

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