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Opinião do dia 3

O Bom Aluno que o Brasil pode perder

A BS Colway é uma empresa instalada em Piraquara, região metropolitana de Curitiba. Ela recicla pneus que teoricamente não teriam mais serventia e seriam descartados. Os pneus velhos passam por um processo industrial que resulta em um pneu quase idêntico a um novo, porém muito mais barato.

Todavia, uma parte dos pneus usada nesse processo era importada da Europa. Era, porque alguém decidiu que a BS Colway não poderia mais importar os pneus, pois estava importando "lixo". Em parte isso é verdade, lixo para países de primeiro mundo, onde o povo não precisa rodar com o pneu até ele quase se desfazer. Talvez isso explique porque a BS Colway não pode utilizar o "lixo" que temos aqui. Porque aqui a grande maioria dos pneus é lixo mesmo, e só serve para fazer asfalto ou cimento.

Atualmente a BS Colway tem um estoque que possibilita a fábrica trabalhar até fevereiro de 2008. Se a última decisão que proíbe a importação de pneus não for revogada, a produção fica inviável e a BS Colway fecha.

Já seria triste se a única conseqüência disso fosse a demissão de algumas centenas de funcionários e a saída de mercado de uma das marcas mais acessíveis aos consumidores do Brasil. Porém, se a BS Colway fechar, não sei o que vai acontecer aos mais de 500 estudantes carentes que recebem, apenas em Curitiba, ajuda do Instituto Bom Aluno do Brasil, o Ibab.

Para os que não conhecem, o Bom Aluno é um programa criado e bancado pelos donos da BS Colway e que me ajudou a entrar no curso de Engenharia Mecânica da UFPR, que me deu uma bolsa integral no Colégio Bom Jesus da 8.ª série ao fim do ensino médio e ainda pagava vale-transporte e vale-refeição para eu estudar inglês.

Talvez eu não precise mais de tanta ajuda quanto antes, mas os estudantes que estão entrando agora no Bom Aluno precisam. Para muitas famílias, o Bom Aluno é a melhor coisa que poderia acontecer. Minha mãe pode dar seu testemunho.

Isso sem contar os outros programas desenvolvidos pela BS Colway, por meio do IBS – Instituto BS Colway Social, como o Rodando Limpo, a Vila da Cidadania e o Grupo Escoteiro Guardião das Águas, e todo o apoio dado aos seus funcionários, o que inclui academia de ginástica na fábrica (gratuita e com bônus em dinheiro pela freqüência), cursos supletivos, igualmente gratuitos e a inclusão digital.

É certo que o Bom Aluno tem outros colaboradores, mas o maior deles sempre foi a BS Colway. Neste mês o prefeito de Orange County, na Flórida, EUA, veio conhecer a fábrica da BS Colway. Quando perguntaram se ele queria uma fábrica assim na cidade dele, respondeu: "Pode apostar que sim!".

Não quero parecer egoísta, mas acho que o Brasil precisa mais de um programa como o Bom Aluno que os Estados Unidos. É por isso que escrevo. Se meu pequeno gesto não ajudar a reverter essa situação, pelo menos que o povo brasileiro saiba o que está perdendo.

Felipe Caron é estudante de Engenharia Mecânica da UFPR e integrante da Coem Jr – Consultoria em Engenharia Mecânica Júnior e da Equipe Piá de Mini Baja, ambas da UFPR.

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