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A Amazônia ocupa quase 50% do território brasileiro, concentra 10% da biodiversidade mundial e é estratégica para o equilíbrio climático do planeta. Mas há um dado menos comentado que expõe o abismo entre o discurso e a realidade: apesar de sua dimensão, a região responde diretamente por apenas 9% do PIB nacional.
Essa disparidade revela uma verdade incômoda: a ausência prolongada e seletiva do Estado brasileiro na região.
O governo federal atual, ao invés de encarar esse vazio com seriedade, parece optar por um modelo de intervenção burocrática, ideologizada e cada vez mais distante da vida real de quem mora aqui.
Quando Brasília, em todas as esferas de poder, trata a Amazônia como uma abstração intocável, ignora que nela vivem 30 milhões de brasileiros — trabalhadores, produtores, estudantes, empresários e servidores públicos — que querem o básico: infraestrutura, liberdade para empreender, segurança e respeito.
A COP 30 será realizada em Belém, no Pará. É uma oportunidade histórica de mostrar ao mundo uma Amazônia real, que não cabe nos slogans ambientalistas. Mas, para isso, é preciso virar a chave.
A soberania climática de que tanto se fala só será possível se vier acompanhada de soberania territorial, o que exige, entre outras coisas, a presença efetiva do Estado em áreas onde ele sempre chegou tarde ou nunca chegou.
Atualmente, só 15% das rodovias federais da região Norte são pavimentadas. A BR-319, que deveria interligar Manaus ao restante do país por via terrestre, ainda possui centenas de quilômetros intrafegáveis.
Sem a rodovia, o Amazonas continua isolado, o que representa um entrave ao desenvolvimento econômico. A conectividade digital ainda é precária. Sem estrada, sem sinal e sem segurança jurídica, como se pode falar em desenvolvimento sustentável?
A Zona Franca de Manaus é outro ponto sensível. Desde 1967, ela tem garantido a presença econômica do Estado brasileiro no meio da floresta, com mais de dezenas de milhares de empregos diretos e indiretos.
Mas o modelo precisa se diversificar. Inovar não significa destruir. É possível torná-la mais competitiva, apostando em pesquisa, desenvolvimento e integração com cadeias produtivas da bioeconomia.
A insegurança fundiária é talvez o maior gargalo estrutural. Estima-se que mais da metade das propriedades rurais na Amazônia Legal estejam irregulares
Essa é uma realidade no sul do Amazonas, que abrange municípios com vocação para o agronegócio.
Isso trava o acesso ao crédito, à assistência técnica e à possibilidade de geração de valor a partir da terra — respeitando a floresta, mas também quem vive dela. É possível, sim, unir desenvolvimento e conservação florestal.
O que a Amazônia precisa não é de tutela, e sim de confiança. Não por acaso, especialistas têm alertado que 70% do PIB brasileiro depende dos serviços ecossistêmicos da região. Ela não é obstáculo ao desenvolvimento do país, mas parte essencial de sua solução!
Defender a floresta não é incompatível com crescer. Pelo contrário: é justamente com liberdade econômica, segurança jurídica e investimentos em infraestrutura que poderemos fazer da Amazônia um exemplo concreto de desenvolvimento sustentável.
O Brasil precisa colocar a Amazônia no centro da política, e isso significa olhar para ela não com ideologia, mas com pragmatismo, escuta e respeito.
Tadeu de Souza é vice-governador do Amazonas.



