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O Rio Grande do Sul já foi um dos motores da economia brasileira. Porém, há alguns anos enfrenta um cenário de estagnação, enquanto seu vizinho, Santa Catarina, avança a passos largos. O PIB per capita gaúcho é o mais baixo da região Sul: R$ 41 mil, contra R$ 48,1 mil em Santa Catarina e R$ 42,3 mil no Paraná. Além disso, no Ranking de Competitividade dos Estados 2025, o Rio Grande do Sul ficou em quinto lugar, enquanto SC, na segunda posição, evidenciando uma perda de dinamismo na economia. O que explica esse contraste?
A resposta está na Produtividade Total dos Fatores (TFP – Total Factor Productivity), um indicador fundamental para entender o crescimento econômico e a capacidade competitiva de uma economia. Em outras palavras, TFP é a parte da produção que não é explicada pela quantidade de insumos utilizados na produção, refletindo a eficiência com que capital e trabalho são utilizados em uma determinada região. E é nesse ponto que o estado gaúcho parece ter ficado para trás.
Embora avanços importantes já tenham sido realizados, é fundamental aprofundar reformas que tornem o ambiente de negócios mais dinâmico e eficiente, em outras palavras, diminuir o custo de se fazer negócios e empreender
A TFP captura a capacidade de uma economia de gerar mais riqueza sem aumentar proporcionalmente o uso de insumos como mão de obra e capital. Quando o crescimento depende apenas da adição de trabalhadores ou da expansão da infraestrutura, ele inevitavelmente esbarra em retornos decrescentes – cada unidade adicional de recurso gera ganhos cada vez menores, reduzindo a eficiência. O desenvolvimento sustentável e de longo prazo, portanto, depende da capacidade de fazer mais com menos: aproveitar tecnologia, inovação e uma melhor alocação de recursos para impulsionar a produtividade.
Globalmente, a TFP tem sido o pilar do sucesso econômico. Dados do Banco Mundial mostram que a produtividade foi responsável por 64% do crescimento nos Estados Unidos, 79% na Índia e impressionantes 96% na China. Por outro lado, 85% das desacelerações econômicas estão diretamente ligadas à estagnação dessa métrica. A América Latina e o Caribe exemplificam esse desafio: apenas 24% do crescimento da região foi impulsionado por ganhos de produtividade, enquanto 76% dependeu exclusivamente da expansão do emprego. Esse modelo, baseado no aumento da força de trabalho em vez de eficiência, é insustentável no longo prazo, pois enfrenta barreiras demográficas e estruturais que limitam sua continuidade.
A economia do Rio Grande do Sul, outrora robusta, agora enfrenta esse mesmo problema. Setores tradicionais como agropecuária e indústria de transformação historicamente impulsionaram o crescimento do estado, mas a falta de reformas estruturais para modernizar essas indústrias levou a uma estagnação relativa. Sem políticas que incentivem a adoção de tecnologia, inovação e eficiência, o RS perdeu sua vantagem competitiva. Enquanto isso, SC apostou na diversificação, com investimentos estratégicos em tecnologia, turismo e serviços, o que permitiu um crescimento mais acelerado e sustentável.
A situação do Rio Grande do Sul lembra a “armadilha da renda média”, um termo cunhado pelo Banco Mundial para descrever economias que crescem rapidamente em um primeiro momento, mas estagnam quando as vantagens iniciais – como mão de obra barata e transferência de tecnologia – se esgotam. Sem inovação e eficiência, essas economias perdem competitividade. Esse padrão tem afetado grande parte da América Latina, onde o crescimento nas décadas de 1960 e 1970 não se sustentou nas décadas seguintes.
Além disso, o RS enfrenta obstáculos adicionais que agravam sua baixa TFP. A infraestrutura precária, com rodovias deterioradas e uma rede ferroviária subutilizada, encarece o transporte, reduz a eficiência logística e mina a competitividade das empresas locais. No Ranking de Competitividade dos Estados, o RS ocupa a 11ª posição em infraestrutura, enquanto SC figura em 3º lugar – um reflexo claro da disparidade entre os dois estados. Esse indicador leva em consideração fatores como a qualidade das rodovias, a qualidade da energia elétrica, o custo do saneamento básico e a qualidade dos serviços de telecomunicações, entre outros aspectos essenciais para o desenvolvimento econômico.
Em contraste, SC modernizou seus portos e rodovias, facilitando o escoamento da produção e atraindo empresas que buscam menores custos logísticos. O alto custo de fazer negócios no Rio Grande do Sul também é um entrave significativo para a economia: a burocracia excessiva e a insegurança jurídica afastam investidores e dificultam a expansão das empresas. O relatório Doing Business do Banco Mundial mostra que economias mais dinâmicas simplificaram regulamentações, facilitando a abertura de empresas e o acesso ao crédito, o que estimula a inovação e o crescimento. No RS, no entanto, os recursos são frequentemente mal alocados, indo parar em empresas menos produtivas e sufocando o potencial econômico geral.
A solução passa por um compromisso genuíno com a modernização econômica e o aumento da competitividade, elemento essencial para o crescimento sustentável da renda per capita. Embora avanços importantes já tenham sido realizados, é fundamental aprofundar reformas que tornem o ambiente de negócios mais dinâmico e eficiente, em outras palavras, diminuir o custo de se fazer negócios e empreender.
No caso da economia do Rio Grande do Sul, isso passa pela simplificação tributária, redução da carga burocrática para empreendedores, melhoria da segurança jurídica e maior previsibilidade regulatória. Investimentos estratégicos em infraestrutura, especialmente na modernização da malha logística e na ampliação da conectividade digital, podem reduzir custos e fortalecer a inserção do estado em cadeias produtivas globais.
Além disso, incentivar a pesquisa e desenvolvimento, fomentar parcerias entre universidades e o setor privado e ampliar programas de capacitação da mão de obra são medidas essenciais para preparar a economia gaúcha para desafios futuros. A experiência de países e regiões que escaparam da armadilha da renda média nos mostra que é exigido mais do que a simples acumulação de capital físico: é necessário um esforço coordenado para fortalecer instituições, atrair investimentos produtivos e impulsionar a inovação. O crescimento sustentado dependerá da capacidade de transformar conhecimento em progresso real, remover entraves estruturais e, sobretudo, liberar o potencial empreendedor da população gaúcha.
Fernando Freire Dutra, mestre em Negócios e Política Internacionais pela Georgetown University, é vice-presidente de Relações Institucionais do IBEF-RS; Odivan Cargnin é presidente do Conselho Administrativo do IBEF-RS.
Conteúdo editado por: Jocelaine Santos



