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 | André Rodrigues/Gazeta do Povo
| Foto: André Rodrigues/Gazeta do Povo

Não seria necessária uma lupa para constatar que Beto Richa (PSDB), que governou o Paraná durante quase oito anos, provocou uma série de ataques contra a educação pública do estado. Ao deixar o governo para concorrer ao Senado, deixou para trás universidades e escolas precarizadas, trabalhadores sobrecarregados, sem condições de trabalho e, não raro, trabalhando em clima de punições (com lançamento de faltas para dias de greve etc). Corte da hora-atividade e falta de contratação por meio de concurso público, sem reposição salarial, são alguns dos outros ataques.

Cida Borghetti (PP) e Ratinho Júnior (PSD), os principais concorrentes ao governo do estado na eleição realizada em outubro, representavam a continuidade desse projeto de destruição da educação pública paranaense, em direção à privatização.

Infelizmente, a APP-Sindicato, principalmente de 2015 para cá, tem adotado uma postura pouco combativa diante desses ataques. No último dia 5, o presidente da APP-Sindicato, Hermes Leão, que representa mais de 100 mil docentes e funcionários de 2,1 mil escolas estaduais do Paraná, disse em entrevista à Gazeta do Povo que espera diálogo com Ratinho Junior, dando a entender que formas de luta como as greves e manifestações de rua continuarão sendo substituídas pelas reuniões a portas fechadas nos escritórios refrigerados do Palácio Iguaçu, sede do governo do estado.

Permitir que o sindicato adote essa postura no mínimo pouco combativa é uma declaração de morte para a educação pública paranaense

Vale lembrar que foi no bairro Centro Cívico, em Curitiba, onde está localizada essa sede, que Richa jogou as tropas da PM contra estudantes e trabalhadores no fatídico 29 de abril de 2015, derramando sangue em frente à “casa do povo”. Não bastava que professores e servidores tivessem de trabalhar em instituições em decomposição, ser xingados por pais e estudantes, receber um salário microscópico; naquele dia, os PMs, cujos filhos possivelmente são ensinados por aqueles mesmos educadores, tinham autorização do governo do estado para atirar, massacrar, sufocar, ferir trabalhadores.

O 29 de abril é um dia que ainda não terminou. Deixou uma mancha de sangue nas ruas de Curitiba e um trauma que não se apagará nunca mais, com marcas profundas em corpos e almas. Hermes Leão, nessa entrevista para a Gazeta do Povo, disse que espera deixar para trás o período de confrontação.

O depoimento do professor Hermes é mais uma evidência em meio a muitas outras que explicitam o definhamento político e ideológico da APP-Sindicato – o que, por sua vez, vem acompanhado da falência da central à qual está ligado esse sindicato: a Central Única dos Trabalhadores (CUT).

Leia também: Associativismo de resultados: o futuro da organização sindical no Brasil (artigo de Bruno Milano Centa, publicado em 15 de julho de 2018)

Leia também: O que comemorar neste Dia do Professor? (artigo de Hermes Silva Leão, publicado em 14 de outubro de 2017)

Em um estado onde o novo governador flerta com instituições privadas de educação, organizando o jogo para continuar a rifa de direitos históricos arduamente conquistados por trabalhadores da educação, permitir que o sindicato adote essa postura no mínimo pouco combativa é uma declaração de morte para a educação pública paranaense.

Em um país onde o futuro presidente da República defende publicamente a ditadura civil-militar (1964-1985), as contrarreformas de Temer, o fim dos sindicatos e partidos de esquerda, concordar com esse sindicalismo de Estado do combo APP-CUT é cavar a cova do principal polo de resistência da classe trabalhadora: o sindicato.

A contingência nos coloca, então, o desafio histórico de reorganização do movimento sindical, buscando a unidade entre os setores que não se renderam às benesses do sindicalismo de Estado e aos cargos políticos na estrutura do governo. Na APP-Sindicato, urge a necessidade de uma direção combativa, autônoma e independente, capaz de fazer frente aos ataques, vindos dos governos nas suas esferas estadual e federal, que a classe trabalhadora vem sofrendo com o agravamento da crise do capital. É agora ou nunca.

João Elter Borges Miranda é professor de História na rede pública estadual em Ponta Grossa.
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