O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) confessou seu erro: 26%, e não 65% dos brasileiros e brasileiras concordam que mulheres com roupas curtas merecem ser estupradas. É claro que, quanto menor este porcentual sinistro, melhor para nosso país. Ainda assim, 26%, ou um quarto da população e isso inclui mulheres, sempre é bom destacar , têm este pensamento retrógrado, machista, extemporâneo.
É um horror pensar que temos ainda um pé na Idade Média, que ainda somos os mesmos que consideravam a mulher indigna até mesmo de pertencer à categoria de ser humano. Para mudar isso, só com muita educação, capaz de retirar o lixo acumulado por séculos de preconceitos que ainda impregnam a mentalidade de nosso povo. É preciso fazer um trabalho de base, que deve começar lá na pré-escola e prosseguir até o ensino universitário. E colocar em prática muitas campanhas educativas, com a participação de pessoas com consciência e senso de verdadeiro humanismo.
Quando se fala em equidade de gênero, que é uma luta com muitas vitórias, não se pode deixar de levar em conta uma realidade como esta que a pesquisa mostra. Ao mesmo tempo, entende-se por que a ONU considera as empresas a melhor plataforma para fazer acontecer a cultura de respeito à diversidade. É porque a ONU constatou que as empresas com mais mulheres em cargos de liderança apresentam melhor produtividade; e que os países com maior igualdade de gênero têm maior crescimento econômico.
Como a linguagem da economia é mais facilmente entendida, o caminho para ampliar os direitos da mulher, na luta pela equidade, passa necessariamente pelo emprego. Constata-se, assim, como estava certa a escritora, filósofa e feminista francesa Simone de Beauvoir, que escreveu: "É pelo trabalho que a mulher vem diminuindo a distância que a separava do homem, somente o trabalho poderá garantir-lhe uma independência concreta".
E, se a sociedade como um todo ainda exala preconceito, nas empresas brasileiras podemos ver o quanto já avançamos nos últimos anos. Uma pesquisa feita em 2013 pela empresa de recrutamento Catho, em 200 mil empresas brasileiras, revelou que as mulheres ocupavam quase a metade dos cargos de supervisão. Dez anos antes, elas detinham apenas 30% desses cargos.
Na presidência ou em cargos equivalentes, o número de mulheres subiu de 15% para 23% em dez anos. A pesquisa também mostrou que as pequenas empresas são mais abertas à participação feminina: 26% das empresas com até 50 funcionários têm mulheres presidentes. Já nas empresas com mais de 1,6 mil funcionários, esse índice é de 5%.
Claro que, para exercer cargos de chefia, as mulheres precisam sempre provar que são sempre melhores do que os homens. Uma feminista canadense, Charlotte Elizabeth Whitton, tem uma frase muito interessante sobre isso. Ela, que foi a primeira mulher a ser eleita prefeita de Ottawa, capital do país e uma das maiores cidades canadenses, disse certa vez: "Espera-se que as mulheres façam o dobro do que fazem os homens, na metade do tempo e sem mérito algum". E sabe como ela concluiu esta frase? "Ainda bem que isso não é tão difícil."
A conscientização da classe empresarial é tão importante quanto ações e políticas públicas que defendam os direitos da mulher, para que possamos sonhar com um país onde prevaleça a justiça social plena. Só com metas ousadas atingiremos os resultados mais rapidamente. Para isso, é necessário o comprometimento de todos e de todas.
Margaret Groff é diretora-financeira da Itaipu Binacional.
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