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taxa de juros Selic
Um dos efeitos da alta na Selic, a taxa básica de juro, é o aumento no custo do dinheiro.| Foto: Antônio More/Arquivo/Gazeta do Povo

A decisão da semana passada, que elevou a taxa Selic de 7,75% para 9,25% ao ano, tem preocupado. Todavia, há boas notícias a contrastá-la. Mansueto Almeida, economista-chefe do banco BTG Pactual e que foi Secretário do Tesouro, trabalhando com Paulo Guedes no Ministério da Economia, proferiu palestra no fim de outubro cujos dados entusiasmaram. Apesar do papo rápido, anotei alguns pontos bem interessantes, que balizaram nossa economia nos últimos cinco anos e dão aporte a boas expectativas.

Caminhamos bem no controle dos gastos públicos. Em 2020, fechamos com 26% do PIB; em 2021, deveremos fechar com 19%. Para 2022, projetamos só 18% (sem considerar os juros da dívida pública). O crédito, por meio de bancos públicos, aumentou o “custo Brasil”, expandindo a dívida do governo em quase 10%, de 2009 a 2015. Desde 2016, no entanto, esses bancos vêm reduzindo os empréstimos, que chegavam a 50% do crédito disponível. Assim, os valores cedidos pelo governo começaram a ser devolvidos, desonerando o Tesouro.

A captação no mercado de capitais saltou de R$ 120 bilhões anuais, desde 2015, para R$ 407 bilhões em 2021 (até setembro). Em 2016, a oferta pública inicial e de novas ações (IPO e follow on, respectivamente) era de apenas R$ 9,5 bilhões. Em setembro de 2021, chegou a R$ 120 bilhões. O crescimento previsto da economia neste ano era de 2,5%. Mas, apesar da nova onda da pandemia, poderemos chegar a 5%. Os investimentos, cuja queda foi de 30% em 2015/16, caíram só 0,8% em 2020. Em 2021, deverão crescer de 12% a 14%.

Os bons resultados obtidos em 2020 e 2021, apesar da Covid-19, decorreram de uma conjunção de fatores que sobrepujaram as dificuldades provocadas pela pandemia: Selic baixa, juros baixos, abundância de crédito, elevado déficit habitacional, disposição para comprar e toda a parafernália de indicadores econômicos acima mencionados.

Como fatores responsáveis por todo esse bom resultado, Mansueto citou os seguintes exemplos: a minirreforma trabalhista (aprovada no governo Temer), que oportunizou a contratação temporária de trabalhadores; a reforma da Previdência (realizada no atual governo); importantes marcos regulatórios, como o do saneamento, que trará grande fluxo de investimentos em infraestrutura nos próximos cinco anos; as concessões de ferrovias e rodovias (como a da Via Dutra) e de importantes aeroportos (incluindo Congonhas e Santos Dumont), além do Porto de Santos, dentre outras.

O déficit primário (rombo fiscal) estimado para este exercício era de R$ 300 bilhões, mas será de apenas um terço disso (R$ 90 bilhões). A dívida pública, que chegaria a 90% do PIB, ficará em torno de 81%. Por outro lado, o dólar sobe e a bolsa cai. Por quê? Porque, não obstante os bons indicadores econômicos, a insegurança política aumenta a percepção de risco. Como alento, temos a independência do Banco Central. Não há como saber quem será o próximo presidente da República, mas sabemos que o BC continuará sendo comandado por Roberto Campos Neto. Isso incute confiança na economia.

Os bons resultados obtidos em 2020 e 2021, apesar da Covid-19, decorreram de uma conjunção de fatores que sobrepujaram as dificuldades provocadas pela pandemia: Selic baixa, juros baixos, abundância de crédito, elevado déficit habitacional, disposição para comprar e toda a parafernália de indicadores econômicos acima mencionados. Para o próximo ano, porém, as perspectivas não são tão otimistas. Segundo o Instituto Brasileiro de Economia da FGV (Ibre), a economia poderá sofrer paralisação, pelo menos no primeiro semestre de 2022. O Brasil crescerá no máximo 0,9%, com uma inflação (medida pelo IPCA) de 4,8%. A somatória de fatores como instabilidade política, economia estagnada, inflação, desemprego e baixa perspectiva de recuperação no curto prazo são motivos de preocupação. Por enquanto, o mercado imobiliário é um dos setores que têm reagido bem a essas intempéries; ele e o agronegócio poderão continuar sendo a salvação da lavoura.

João Teodoro da Silva é presidente do Sistema Cofeci-Creci.

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