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Sem dúvidas, vivemos em tempos únicos e jamais vividos no que lhe é peculiar. Temos a oportunidade de sermos ao mesmo tempo testemunhas e atores de uma revolução cultural que ficará inscrita como um dos marcos mais importantes, porém não o mais autêntico, na história moderna. Inautêntico devido às distorções que lhe acompanham subliminarmente. O modo de viver das pessoas foi mudando gradativamente, porém em suas formas exteriores. Como especialista na interioridade humana, interessando-me exclusivamente pela sua essência, devo confessar que tais mudanças, em alguns momentos, causam-me graça, e em outros, pavor, preocupação, mas também uma responsabilidade na busca da verdade. Tais mudanças exteriores não acompanharam os anseios da natureza humana.

Viktor Frankl considera fundamental do ponto de vista antropológico a autotranscedência da existência humana: “o ser humano sempre aponta para algo além de si mesmo, para algo que não é ele mesmo – para algo ou para alguém; para um sentido que deve cumprir, ou para um outro ser humano, a cujo encontro nos dirigimos com amor. Em serviço a uma causa ou no amor a uma pessoa, realiza-se o homem a si mesmo. Quanto mais se absorve em uma tarefa, quanto mais se entrega à pessoa que ama, tanto mais ele é pessoa, e tanto mais é si mesmo. Por conseguinte, só pode realizar a si mesmo à medida que se esquece de si mesmo, que não repara em si mesmo”.

A essência do humano permanece a mesma, intacta no seu sentido e em seus propósitos de uma existência plena, aliado ao ser do homem e da mulher. E como diz a psicóloga Renate Jost de Moraes, em As Chaves do inconsciente, essa essência precisa ser colocada em prática para dar um sentido ao existir.

Homens e mulheres estão num papel de competição e não de cumplicidade, perdidos e confusos nos seus papéis

A revolução cultural tem deixado consequências que se expressam no vazio e na falta de sentido existencial, o que tem feito crescer consideravelmente os quadros de depressão, ansiedade, solidão e outros transtornos. Homens e mulheres estão num papel de competição e não de cumplicidade, perdidos e confusos nos seus papéis.

As mulheres, com sua busca por independência financeira, marcada pelo movimento feminista (algo muito necessário e bem vindo em um tempo em que os direitos civis das mulheres eram muito desiguais em relação aos homens), se perderam e se confundiram com a ideologia feminista, que muito se difere do real movimento da época da reivindicação de tais direitos.

Esse movimento transformou-se em ideologia, perdendo seu objetivo e distorcendo o real sentido do ser da mulher, induzindo-a a uma competição com o homem, impedindo-a de ser o que é na sua essência. “Impossibilitando a autotranscedência, fechando-a num egoísmo e fazendo-a negar-se a si mesma. Isto também impede os que estão à sua volta de tornar-se o que são na sua mais pura verdade. Pois a mulher é a fonte do amor” (Renate Jost de Moraes).

Com essa distorção, as mulheres perderam-se da essência do feminino, que é o de se deixar ser amada, cuidada, protegida, provida, entrando no lugar do homem e deixando-o confuso e perdido no seu dever mais profundo de pai e companheiro. Essa entrada no lugar do homem é sutil e na maioria das vezes imperceptível aos próprios olhos, pois muitas vezes está condicionada pela história familiar.

Leia também: A necessidade da psicologia nos dias atuais (artigo de Liseane Selleti, publicado em 17 de julho de 2017)

Nossas convicções: O poder da razão e do diálogo

No livro Não discuta a relação, os autores Patricia Love e Steven Stosny expõem com muita clareza que homem e mulher carregam em seus genes as marcas da era das cavernas, que constituem nossa essência ainda hoje. Ou seja, as mulheres por serem presas fáceis ficavam nas cavernas protegidas de qualquer perigo, com incutido medo. O homem por apresentar uma fisiologia própria para a defesa ou ataque, ficava fora para protegê-la e trazer-lhe o sustento. A partir dessa realidade, o homem encontrou o propósito de cuidar e proteger. Em nível genético, homem e mulher carregam essas necessidades. Sendo a maior queixa das mulheres atualmente é que se sentem sós, muitas vezes com um homem ao lado, mas a solidão é a companheira de todas as horas. Por quê? Porque estão desconectados dessas suas necessidades primárias.

Onde aparecem as consequências? Nos filhos, sem referencial saudável, com uma identidade incoerente em relação aos seres masculino e feminino. Com isso formamos seres egoístas, sem responsabilidade, buscando prazer momentâneo como: bebidas, drogas, sexo descomprometido, trazendo-lhes um falso bem estar, mas escondendo uma angústia imperceptível.

Nosso tempo pede, portanto, uma reflexão: exerço meu papel e função de mulher ou de homem segundo minha essência? Sou um homem ou uma mulher pleno de sentido? Vivo de acordo com meus propósitos mais nobres impressos no meu eu original? “Quem sente que sua vida não tem sentido, não apenas é infeliz, senão também pouco capaz de viver.” (Einstein apud Viktor Frankl, O sofrimento de uma vida sem sentido, 2015).

Liseane Selleti é psicóloga, formada pela PUC/PR, especialista em Terapia Comportamental Cognitiva, especialista e preceptora do método ADI/TIP, membro do grupo de estudos: Edith Stein e questões de gênero e frequenta disciplinas isoladas no programa do PPT mestrado e doutorado em Teologia, PUCPR. Fernanda Lisieux é psicóloga especializada e preceptora do método ADI/TIP.
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