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| Foto: Marcos Tavares/Thapcom

O próximo presidente da República vai liderar um país ansioso por renovação, já demonstrada nas eleições para o Legislativo, no último dia 7. O eleitor brasileiro promoveu a mais profunda reforma política possível: não uma alteração de formalidades normativas, mas uma mudança de pessoas.

Desde 2013, o Brasil iniciou um processo de retomada de poder pelo povo. Os brasileiros rebelaram-se contra a concentração de autoridade nas mãos de elites políticas burocráticas, instaladas nos três poderes, distantes da população não apenas por estarem fincados em Brasília, mas por terem perdido qualquer conexão com o Brasil real.

As jornadas de junho em 2013, as grandes manifestações políticas de 2015 e 2016, a greve dos caminhoneiros em 2018, todos foram passos do que Olavo de Carvalho, relembrando Raymundo Faoro em Os Donos do Poder, chama de “Revolução Brasileira”. O establishment político não atendeu (e não entendeu) aos anseios estrondosamente repetidos pela população nos últimos cinco anos. O resultado foi o banimento da vida pública: o Congresso teve um de seus maiores índices de renovação e nomes conhecidos da história política da Nova República, verdadeiros “caciques” do poder desde a Constituinte, foram impiedosamente enxotados pelo voto popular – alguns obtiveram votações pífias.

O resultado é que o novo Congresso brasileiro, surgido de 2018, deu uma guinada à direita. O Brasil está pondo um fim ao pacto socialista pós-88, que dividiu a vida política nacional entre a esquerda radical (o PT e demais partidos do Foro de São Paulo, o “grande condomínio” comunista) e a “direita permitida”, nada mais que uma centro-esquerda social-democrata (PSDB e companhia limitada).

O eleitor brasileiro promoveu a mais profunda reforma política possível: não uma alteração de formalidades normativas, mas uma mudança de pessoas

Por três décadas o Brasil esteve inserido no conjunto de nações que adotaram o esquerdismo como matiz política essencial, gerando a contraditória situação de ter um povo conservador (flagrantemente contrário às pautas culturais do marxismo) que só podia votar em esquerdistas. A opção tucana, com seu economicismo distante da população, não convencia. Some-se a isso o fato de que o tucanismo defendia ou fazia corpo mole a todas as pautas culturais da esquerda progressista: aborto, drogas, desconstrução da instituição familiar etc. Era apenas cortesia com chapéu emplumado à “esquerda da esquerda”, que logo veio à ponta de lança do governo com o Foro de São Paulo, encabeçado pelo PT.

Por meio do governo petista, o Foro de São Paulo sustentou com dinheiro público brasileiro os governos socialistas de diversos países da América Latina e da África, irrigando os cofres de ditadores e grupos socialistas radicais por propinodutos abastecidos pela Petrobras e pelo BNDES – uma máquina de corrupção e crime que vem sendo desvendada pela Lava Jato, sem prazo para acabar.

O pacto socialista pós-88 levou o Brasil ao domínio irrestrito, total e inconsequente do narcotráfico. A associação entre socialismo e drogas é uma constante internacional: Mao Tsé-Tung estimulava a produção e tráfico de ópio para narcotizar os imperialistas; em Cuba e na Nicarágua, o narcotráfico tem voz no governo; na Colômbia, as Farc são socialistas (a organização é membro do Foro de São Paulo, como o PT) e subsidiadas pela Venezuela (e vice-versa); na Bolívia, Evo Morales lidera um império da cocaína. No livro Red Cocaine: The Drugging of America and The West, Joseph D. Douglas expôs como a narcotização do Ocidente foi um dos mecanismos de intervenção política da KGB neste lado do mundo.

Não é à toa, portanto, que durante os governos do PT o Brasil tenha experimentado a ascensão do narcotráfico ao nível de um Estado paralelo, levando o país a situações constantes de intervenção militar para Garantia da Lei e da Ordem e ao número escandaloso de 70 mil homicídios por ano, que nos permite ocupar o posto de líder dos assassinatos no mundo – verdadeiro democídio, situação exposta no livro de Diego Pessi e Leonardo Giardin Bandidolatria e Democídio.

Leia também: O petismo sofre um primeiro revés (editorial de 8 de outubro de 2018)

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O pacto socialista pós-88 levou o Brasil a um processo galopante de ponerização. O termo foi concebido por Andrew Lobaczewski, psicanalista polonês dos tempos de dominação soviética, que estudou a natureza patológica do sistema socialista e escreveu o livro Ponerologia: Psicopatas no Poder. Lobaczewski afirma que o processo de ponerização objetiva a inversão moral de uma sociedade, que passa a louvar a tirania e o crime como moralmente bons e desejáveis, precisamente o que provoca o domínio irrestrito dos criminosos sobre o povo – sejam os corruptos do Estado constituído, sejam os narcotraficantes do Estado paralelo.

Ao processo de ponerização, contudo, os brasileiros quiseram opor um sonoro “basta!”, tomando as rédeas da nação no sentido inverso: retomada do poder dos bandidos para o povo.

Esse é o contexto histórico que nos leva ao novo Congresso, fruto de uma negativa do povo à continuidade do establishment que conduziu o Brasil à falência econômica, moral e social. Cristovam Buarque foi um dos poucos membros do estamento burocrático que captou o ocorrido: “O povo não quis eleger, quis derrotar”.

Se de um lado quis derrotar, quis eleger gente que deu eco à voz conservadora da sociedade. Dos novos deputados – a Câmara foi muito renovada –, muitos são estreantes e se definem abertamente como conservadores e liberais, coisa que, tempos atrás, seria um palavrão. Ainda hoje se tenta a estratégia mixuruca de acusar o conservadorismo de “fascismo” ou “nazismo”, como se pudéssemos admitir a estupidez de que um Churchill, uma Thatcher, um Reagan, todos conservadores, pudessem ser caracterizados precisamente por aquilo que combatiam.

O próximo presidente precisará lidar com o Congresso mais conservador dos últimos 40 anos. São muitos parlamentares sem carreira política, vários surgidos diretamente da população que se manifestou em 2015 e 2016. Eles já prometeram ser atuantes na reversão da ponerização e agir pelo povo, não pelos interesses do establishment, como foi a lógica do mensalão e do petrolão.

Taiguara Fernandes de Sousa é advogado, jornalista e conferencista.
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