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Nos últimos anos, o mundo tem assistido a um aumento nas tensões geopolíticas, econômicas e sociais, e a Itália não tem ficado imune a esse cenário. Em momentos de incerteza e instabilidade, a segurança cívica se torna um valor fundamental, não apenas para garantir a ordem, mas também para preservar a liberdade e os direitos dos cidadãos.
E quando falamos de segurança cívica, referimo-nos a um vínculo profundo entre o indivíduo e o Estado, especialmente em contextos onde os direitos civis e a liberdade estão sendo constantemente ameaçados. A importância desse vínculo se intensifica em momentos de crise e, é nesse contexto, que o valor para garantir um direito cívico, como o da cidadania italiana, teve um aumento significativo. Isso reflete não apenas de forma monetária, mas também simbólica, criando barreiras sociais e econômicas onde isso não deveria existir.
A recente mudança nas leis de cidadania italiana passou a exigir mais dos imigrantes para a aquisição do status de cidadão. Paralelo a isso, a primeira-ministra da Itália, Giorgia Meloni, recentemente manifestou seu não interesse em promover mudanças importantes na legislação, refletindo o objetivo do governo em aumentar a arrecadação com o processo, ao invés de garantir o acesso à cidadania de forma mais equitativa. O impacto disso não é apenas financeiro, mas social, já que muitas pessoas, em particular os brasileiros, encontram uma forma de reconstrução história de sua herança e utilizam dela para ter liberdade, segurança e acesso a outros mercados.
Entre 2022 e 2023, o aumento da cotação do euro, que passou de R$5 para a casa dos R$7, provocou um encarecimento substancial do custo para aquisição da cidadania italiana. A crise econômica e a crescente insegurança em várias partes do mundo tornam a mobilidade internacional e o direito à cidadania questões vitais para muitos cidadãos. A segurança cívica, então, não diz respeito apenas à proteção física, mas também à garantia de que o indivíduo tem os meios legais e financeiros para acessar a liberdade e os direitos fundamentais em outro país, caso seja necessário.
Em tempos de instabilidade, a segurança cívica e a cidadania se tornam ferramentas essenciais para garantir a liberdade e a proteção dos indivíduos. A Itália, com sua rica história de imigração, tem um papel crucial a desempenhar nesse cenário
À medida que a Itália restringe o acesso à cidadania italiana, ela não só limita as oportunidades para estrangeiros, mas também corre o risco de prejudicar o próprio tecido social do país, que historicamente se beneficiou da diversidade cultural e da imigração. Ademais, a mão de obra latina é parte vital da pirâmide econômica italiana, que é extremamente envelhecida. A Itália, historicamente, tem sido um destino de imigração para muitos brasileiros e argentinos, por exemplo, pela atração de oportunidades no mercado de trabalho europeu e pelo alto padrão de vida oferecido. Isso se dá muito pela força de sua moeda em escala global.
Com o aumento das taxas de cidadania italiana e a consequente complicação do processo de naturalização, a Itália corre o risco de perder uma fonte importante de crescimento econômico e inovação. A imigração de cidadãos italianos descendentes sempre foi um motor para o desenvolvimento de setores chave da economia italiana, como o turismo, a agricultura, a tecnologia e a saúde. Estrangeiros, especialmente aqueles de países com forte vínculo histórico com a Itália, como o Brasil, têm desempenhado um papel essencial nesses setores, trazendo não apenas mão-de-obra qualificada, mas também impulsionando o consumo e a criação de novos negócios.
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O declínio da taxa de natalidade no país prejudica a renovação da força de trabalho e exacerba os problemas econômicos associados ao envelhecimento da população. A decisão de tornar o processo de cidadania italiana mais burocrático não é apenas uma questão de política interna, mas também uma questão que afeta diretamente a economia e o futuro social da Itália, dificultando o acesso de jovens imigrantes a se estabelecerem permanentemente na Itália.
Em tempos de instabilidade, a segurança cívica e a cidadania se tornam ferramentas essenciais para garantir a liberdade e a proteção dos indivíduos. A Itália, com sua rica história de imigração, tem um papel crucial a desempenhar nesse cenário. Em vez de tornar o processo de cidadania mais oneroso e restritivo, o país deveria reforçar os laços de solidariedade e segurança com aqueles que buscam nela uma oportunidade de melhorar suas vidas.
Reforço que vejo como importante o respeito às instituições italianas e a necessidade de utilizar a arrecadação para otimizar os processos judiciários e os administrativo na comune e torço para que esse capital seja corretamente empregado.
A cidadania italiana não é apenas um direito legal, mas um símbolo de proteção e liberdade — valores fundamentais que todos os cidadãos, independentemente de sua origem, devem poder acessar. Portanto, é crucial que a Itália, assim como outros países, reconheça a importância de manter o acesso à cidadania igualitário e, especialmente em tempos de grandes desafios globais, seguro.
Matheus Reis, formado em Medicina pela USP, empreendedor e especialista em processos de obtenção de cidadania, é fundador e CEO da io.Gringo.



