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Curitiba, feriado prolongado de 7 de Setembro, recebi parentes do interior do estado para alguns dias de descanso e turismo. O tempo firme da segunda-feira de manhã levou a um passeio pelo centro da cidade: Praça Tiradentes, calçadão da XV e Praça Osório. Mas o que poderia ser um passeio turístico foi apenas uma demonstração da falta de segurança gritante na cidade.

Já na Praça Tiradentes testemunhamos moradores de rua abordando outros turistas que aguardavam para embarcar no ônibus de turismo, pedindo dinheiro e comida. Contornando a Santos Andrade, chegamos à Rua XV e demos de cara com uma joalheria arrombada. Andando pelo calçadão, era possível ver cerca de 20 moradores de rua dormindo debaixo de marquises e alguns também abordando passantes. Chegamos até a Praça Osório caminhando com bastante medo, sem ver um policial sequer na rua, militar ou municipal.

Curitiba já foi uma cidade modelo. Hoje, é uma cidade abandonada pela segurança pública, onde bandidos ditam as regras

Já em casa, felizmente em segurança, assistindo ao jornal local, nos assustamos ainda mais com as notícias: a joalheria arrombada tinha sido invadida por um carro de ré durante a madrugada. Bandidos levaram mercadorias sem qualquer testemunha usando um carro roubado. Mas a prefeitura não havia anunciado que a Rua XV estava inteira coberta por câmeras de vigilância? Ninguém viu a ação? Outras reportagens mostravam uma turista carioca assaltada à mão armada na Praça Tiradentes (note a ironia: curitibano adora criticar a violência do Rio de Janeiro), um rapaz espancado por assaltantes na manhã do dia anterior na Praça Osório e um casal de idosos assaltado no Parque Tanguá.

Curitiba já foi uma cidade modelo. Já foi uma cidade que gostávamos de recomendar aos turistas e em que gostávamos de passear. Hoje, é uma cidade abandonada pela segurança pública, onde bandidos ditam as regras. Policiais aconselham: não saia com pertences de valor ou em determinados horários e locais. A despeito do absurdo de se colocar a culpa dos assaltos nas próprias vítimas (da mesma forma que colocar a culpa de um estupro nos trajes da mulher), não existe mais local ou horário seguro em Curitiba. Testemunhar tentativas de assalto durante o dia, em ônibus, ruas movimentadas, diversas vezes concretizadas, tornou-se corriqueiro.

Por que ninguém toma uma atitude? Via Facebook, a página oficial da prefeitura sempre argumenta que a responsabilidade pela segurança pública é do estado. Que a prefeitura pode apenas “contribuir” com a Guarda Municipal. Então por que não havia, em pleno feriado, com turistas na cidade, nem policial militar (responsabilidade do estado) nem guarda municipal num dos maiores pontos turísticos da cidade?

Estamos guiados pelo medo, pela paranoia de sermos abordados a qualquer momento por um estranho que possa ser um assaltante. Costumam dizer que curitibano é frio. Com uma situação em que o medo de sofrer uma violência é cada vez maior, nos tornamos cada vez mais escusos e reclusos, temendo sair de casa além do obrigatório, escolhendo trajetos e horários, vigiando pessoas, exacerbando o preconceito e deixando de lado hábitos como um simples passeio pelo Centro da cidade por causa do medo da violência. Esta é a Curitiba que sempre amamos e tivemos orgulho de dizer que é a nossa cidade? Não. O que aconteceu com ela? Ninguém parece saber.

Flávio St Jayme, jornalista e empresário, é sócio-proprietário da agência Clockwork Comunicação.
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