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Opinião do dia 1

O mensalão esfriou

O tempo passa, o tempo voa e a turma do mensalão continua numa boa. Pouco mais de dois meses de a denúncia do mensalão ter sido transformada em ação criminal, depois de elogiável e histórica atitude do Supremo Tribunal Federal (STF), nenhum dos 40 réus foi intimado por este órgão, nem mesmo foi publicado o acórdão, a íntegra da decisão do STF, que é o primeiro passo do processo. O mensalão (lembra?) é aquele esquema desvendado, há mais de dois anos, que teria usado dinheiro público (o nosso) para comprar apoio de parlamentares em votações de interesse do governo ou para cobrir Caixa 2 de campanhas.

A julgar pelo andar da carruagem, o julgamento e a sentença aos acusados devem demorar de três a cinco anos. E lembramos uma das máximas de Rui Barbosa: "De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantar-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a se desanimar da virtude, rir da honra e ter vergonha de ser honesto".

Mesmo quando o ex-deputado federal José Genoíno (PT-SP) tenta (e não consegue) habeas-corpus, negado pelo STF, contra ação penal aceita pela 4.ª Vara Criminal de Belo Horizonte e renasce a esperança de ver o processo contra os mensaleiros caminhando, há fatos que aumentam a preocupação das pessoas mais sérias. Sim, porque o ministro Joaquim Barbosa – relator na época da aceitação da denúncia contra os mensaleiros e que, na ocasião, parecia ter pressa – anunciou que em vez de tomar os depoimentos dos réus em Brasília, decidiu descentralizar as oitivas, delegando-as a juízes federais nos estados. Para isso, segundo pregam os procedimentos jurídicos, é preciso que sejam enviadas cartas precatórias a juízes das varas nas cidades onde moram os réus. Segundo se sabe, até agora nenhuma correspondência foi enviada aos réus. O tempo passa, o tempo voa...

Naquela sessão histórica em agosto, o STF colocou no banco dos réus três ex-ministros da República (José Dirceu, Luiz Gushiken e Anderson Adauto), um ex-presidente da Câmara (João Paulo Cunha), quatro presidentes ou ex-presidentes de partidos (PT, PP, PTB e PR), diretores do Banco do Brasil e do Banco Rural, um punhado de deputados e ex-deputados e empresários, como Marcos Valério e Duda Mendonça, por exemplo. De lá para cá, temos visto outros mensalões estourarem – o "mineiro", com envolvimento do senador tucano Eduardo Azeredo, apontado em inquérito da Polícia Federal como mentor e principal beneficiário do esquema de arrecadação ilegal de recursos nas eleições que disputou em 1998 (perdeu para Itamar Franco) e mais 36 envolvidos no esquema, entre os quais, de novo, Duda Mendonça e Marcos Valério; o do Zeca do PT, com o seu envolvimento, na época em que era governador, e senadores, deputados federais, e por aí vai... Não bastasse, há o escândalo do Renan Calheiros, os passeios do Fernandinho Beira-Mar (à custa do erário) etc.

Há, parece-me, uma promoção da impunidade no país. Isto, obviamente, gera descrédito nas instituições, na Justiça, nos poderes constituídos, estimulando a violência, a corrupção e outros males que nos ameaçam no dia-a-dia e, pior, ameaçam a própria democracia, nos aproximando dos chavismos, de ditaduras de toda ordem e outros modelos ultrapassados de convivência social. Tudo me faz lembrar o filme Tropa de Elite, dirigido por José Padilha, que mostra os esquemas violentos de corrupção, onde só padece, tanto entre mocinhos quanto entre bandidos, a arraia miúda. Os peixes graúdos vivem sob proteção absoluta. A situação me reaviva uma frase do inesquecível Ulysses Guimarães: "Corrupção é o cupim da República." A impunidade, então, nem se fale...

Cláudio Slaviero é empresário, ex-presidente da Associação Comercial do Paraná.

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