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| Foto: Jonathan Campos/Gazeta do Povo

O Paraná começa 2019 tendo um novo governador. Os desafios são muitos. E não são fáceis. O governador é jovem, tem energia, boa vontade e aparenta ser honesto. Mas é importante entender uma coisa: o jeito de fazer política tem de mudar. Esse foi o recado das urnas nas eleições de outubro de 2018. Ou os governantes entendem isso, ou serão apeados do poder em tempo breve. Na era da inteligência artificial, revolução na biotecnologia e disrupção tecnológica, a realidade exigirá do setor estatal que deixe para trás aquela coisa inchada, ineficiente, corrupta, cheia de privilégios e desperdícios.

O que é chamado hoje “a quarta revolução tecnológica” está criando o maior concorrente do ser humano em matéria de emprego: o robô cognitivo, capaz de substituir o homem não só em habilidades físicas, mas também em habilidades cognitivas, apto a executar tarefas antes somente possível pela ação do intelecto humano. Por exemplo, em breve a função de fiscal tributário ocupada por uma legião de fiscais – com elevado grau de corrupção – será coisa do passado. A inteligência artificial e os robôs cognitivos executarão tal função com muito mais eficiência, menor custo e, por óbvio, sem corrupção alguma.

Ao tornar-se dependente de um produto só, que existe em abundância, o país atrofia os demais setores exportadores

O estado do Paraná que o novo governador enfrentará não escapa de ser afetado pelas vantagens e desvantagens de fazer parte do Brasil. O país amargou recessão econômica, déficit nas contas públicas, baixa taxa de investimento, precária infraestrutura física e social, falência dos sistemas de previdência social dos servidores públicos e dos trabalhadores privados, e um elenco de outros problemas graves. As finanças dos estados e dos municípios estão em frangalhos. O Paraná, cuja economia está muito ancorada no agronegócio, está em situação melhor que a maioria dos estados em termos relativos, mas, em termos absolutos, a situação não é boa.

No curto prazo, a arrecadação tributária deve crescer um pouco como decorrência do aumento do Produto Interno Bruto (2,5% em 2018, conforme previsto no orçamento do governo federal). Mas isso não resolverá o problema, apenas amenizará. Como o aumento da carga tributária não é opção fácil por já ser muito alta, o governo terá de arrumar outras soluções. Nesse quadro, a performance positiva do agronegócio é uma vantagem. Porém, se por um lado pode representar uma vantagem, por outro pode significar um risco em termos de futuro. O risco está na chamada “doença holandesa”.

Opinião da Gazeta: A vitória e os desafios de Ratinho Junior (editorial de 18 de outubro de 2018)

Leia também: A importância de mais um porto no Paraná (artigo de Osvaldo Agripino de Castro Júnior, publicado em 21 de abril de 2018)

A Holanda foi vítima de seu sucesso nos anos 1970, quando o setor industrial passou ter prejuízos nas exportações e empresas começaram a quebrar. O país havia descoberto grandes reservas de gás natural e passou a ter volumosas receitas com a exportação do produto, acumulando elevados superávits comerciais que provocaram valorização da moeda interna frente ao dólar. Com isso, as receitas de exportação em moeda interna despencaram, os prejuízos aos exportadores de outros setores foram grandes e muitas empresas quebraram. A riqueza derivada das reservas de gás levou à dependência de produto, gerou encolhimento dos demais setores exportadores e causou estrago na economia da Holanda.

A doença holandesa já acometeu países exportadores de petróleo, a ponto de o Banco Mundial ter produzido um relatório, que gerou um livro de mesmo nome, com o título A maldição do petróleo. A Holanda viveu a maldição do gás. Parece um paradoxo, mas não é. Ao tornar-se dependente de um produto só, que existe em abundância, o país atrofia os demais setores exportadores. A Venezuela está aí como exemplo atual do problema. Detentora da maior reserva de petróleo do mundo, o país é um poço de pobreza, miséria e violência social.

Leia também: Novas oportunidades para concessões e PPPs no Paraná (artigo de Bruno Ramos Pereira, publicado em 11 de dezembro de 2018)

Leia também: Perspectivas do agronegócio brasileiro para 2019 (artigo de Carlos Araúz Filho e Gabriel Placha, publicado em 20 de dezembro de 2018)

O Paraná cometerá um erro se ficar na dependência do sucesso do agronegócio e negligenciar o desenvolvimento dos demais setores, principalmente os setores da economia do futuro. De início, o governo estadual tem o desafio de melhorar a máquina estatal, consertar o desequilíbrio das contas públicas, retomar os investimentos em infraestrutura, desenvolver um setor industrial moderno e começar o ingresso na era do setor de serviços da nova economia. O trabalho é longo. Os resultados não serão de curto prazo. Mas é preciso começar.

José Pio Martins, economista, é reitor da Universidade Positivo.
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