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Muito se tem falado recentemente na imprensa brasileira sobre a política de conteúdo local. E percebe-se que alguns analistas de mercado e economistas têm colocado de forma pejorativa a política de conteúdo local na área de petróleo e gás, deixando a entender que este é um dos problemas de sobrepreços da Petrobras, como se a empresa não usasse os preços de referência internacional desses equipamentos na negociação para fechar os pedidos com os fabricantes nacionais.

As colocações feitas são, em boa parte, equivocadas – sobretudo quando colocam o assunto dentro do mesmo balaio da corrupção e da incompetência na Petrobras.

Diante dessa constatação, é extremamente importante que a indústria brasileira atuante nesse setor faça a defesa da política de conteúdo local para a área de petróleo e gás. É importante que se leve em consideração, nas análises feitas, o ponto de vista da indústria nacional, elencando vantagens, ganhos e, principalmente, externando uma grande preocupação do empresário nacional, que é a perda efetiva desses empregos no Brasil e o risco da extinção dos polos criados após a introdução da PCL, que mudaram a situação de muitas regiões e cidades como Rio Grande, na metade sul do estado do Rio Grande do Sul. Antes da criação do polo naval, a região era pobre e mudou radicalmente seu perfil em menos de dez anos. O polo naval de Suape seguiu os mesmos passos, desenvolvendo uma cadeia de fornecedores que se instalaram em Pernambuco, gerando uma onda de industrialização no estado. O legado desta política, sem sombra de dúvidas, está gerando inclusão social.

O Brasil já foi o segundo maior produtor na área naval. Mas em poucas décadas transferimos milhares de empregos para a China e a Coreia do Sul

Chega de teimosia!

“Nunca subestime a habilidade dos políticos para fazer a coisa errada”, disse Barry Eichengreen. Eis um exemplo: passados 12 anos da sua edição, em 2003, a política de conteúdo local do setor de óleo e gás no Brasil tem se mostrado um retumbante fracasso.

Leia o artigo de João Luiz Mauad, administrador de empresas e diretor do Instituto Liberal.

É de grande valia que a opinião pública seja informada de que os fabricantes locais têm plena capacidade de atender ao nível de conteúdo local exigido pela Petrobras, de cerca de 65%. Segundo as estimativas da empresa, devem ser movimentados até 2018 mais de US$ 220 bilhões em investimentos.

O que esses investimentos podem gerar no Brasil? De acordo com cálculo do fator multiplicador e base de estudo realizado pelo economista Igor Morais, condecorado como economista do ano pelo Conselho Regional de Economia do Rio Grande do Sul, quando uma máquina ou equipamento é produzido localmente, gera riqueza dentro da cadeia de fornecedores e se multiplica por 2,1. Ou seja: se porventura esse valor anunciado de investimentos fosse em 100% de máquinas e equipamentos produzidos no Brasil, estes US$ 220 bilhões se transformariam em US$ 462 bilhões. Portanto, abdicar de uma política de conteúdo local é ser no mínimo inconsequente. Errar é humano, mas repetir no erro é ser inconsequente.

Dos anos 70 até os anos 80, o Brasil chegou a ser o segundo maior produtor na área naval. De lá para cá, transferimos somente neste segmento milhares de empregos para a China e a Coreia do Sul – hoje, os dois maiores produtores –, em boa parte por falta de visão estratégica para o desenvolvimento desta indústria no Brasil. Isso significa dizer que retiramos de muitos jovens a oportunidade de um futuro melhor; se isso não tivesse ocorrido, certamente teríamos menos presidiários, menos pobreza e melhor qualidade de vida.

Hernane Cauduro é diretor da Metal Work no Brasil e vice-presidente da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq) para o Rio Grande do Sul.
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