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O conceito de renda per capita, ou produto per capita, é bastante conhecido. Renda e produto são as duas faces da mesma moeda. O produto é a representação monetária dos bens e serviços produzidos pelo país, e a renda é a soma de salários, juros, aluguéis e lucros pagos aos fatores de produção, que são trabalho, capital, recursos naturais e iniciativa empresarial. Ao dividir o produto nacional pela população, tem-se o produto por habitante. Se esse mesmo produto é dividido pelo número total de horas trabalhadas pelas pessoas, tem-se a produtividade/hora do trabalho, que anda na faixa dos US$ 12 no Brasil e US$ 50 nos Estados Unidos.

Cada hora trabalhada pelo brasileiro gera, na média, um quarto do produto gerado por uma hora de um norte-americano. Não que o brasileiro seja tão menos eficiente que o trabalhador norte-americano. A razão é que a produtividade do trabalho resulta da combinação de capital físico, capital humano, recursos naturais e conhecimento tecnológico. Um motorista de caminhão brasileiro faz três viagens enquanto um norte-americano, percorrendo a mesma distância, faz dez viagens, pois nos EUA ninguém fica uma semana na fila do porto.

A produtividade mundial está desacelerando e há várias razões para esse fenômeno, das quais destaco três:

Faz tempo que o mundo não produz invenções que tenham impacto na produtividade comparável com um século atrás

A primeira é o baixo investimento. Todo mundo sabe que um operário auxiliado por um robô produz muito mais. Mas o robô é uma máquina, e essa máquina precisa ser construída. Do total do produto nacional, uma parte são bens de capital (como o robô) que se destinam a aumentar o estoque de capital físico. É o que chamamos de “investimento”, e ele anda baixo. No Brasil, investimos apenas 19% do produto nacional, quando deveríamos investir pelo menos 25%. Esse problema está na raiz do atraso econômico brasileiro.

O segundo problema: as inovações andam fracas. As grandes inovações já ocorreram e faz tempo que o mundo não produz invenções que tenham impacto na produtividade comparável com um século atrás. Entre 1870 e 1900, o mundo inventou o motor a combustão interna, e passou a usar água encanada e eletricidade: o impacto no aumento da produtividade foi imenso. No fim do século 20, vimos o elevado impacto dos computadores, da tecnologia da informação, da internet e da telefonia celular sobre a produtividade. Esse impacto vem diminuindo.

Por fim, temos a baixa produtividade dos serviços. O setor de serviços tem dificuldade em aumentar a produtividade. Um barbeiro do século 18 gastava 30 minutos para cortar um cabelo e atualmente continua gastando os mesmos 30 minutos. Isso vale para uma extensa lista de serviços, como a consulta de um psicólogo, uma cirurgia médica ou uma aula presencial. Como o setor de serviços (cuja produtividade aumenta pouco) cresce mais na economia mundial do que a agricultura e a indústria, a produtividade geral é prejudicada.

Quanto ao Brasil, o país está longe de atingir a produtividade dos países desenvolvidos. As principais razões são: o baixo investimento anual como porcentual do produto nacional, que nos deu um precário estoque de capital físico; o baixo nível de escolaridade e insuficiente qualificação profissional, que prejudicam o rendimento do trabalho; o sofrível desempenho em invenções, inovações e patentes, que resultou em baixo conhecimento tecnológico; e o ambiente jurídico-político pouco propício ao empreendedorismo.

Esses são alguns dos desafios das próximas gerações de políticos, de empresários e de trabalhadores, e com uma agravante: a população brasileira está envelhecendo antes de enriquecer o país.

José Pio Martins, economista, é reitor da Universidade Positivo.
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