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Felipe Lima

O Brasil vive um momento em que é evidente a necessidade de o país se inserir de forma muito mais significativa na economia global. O bônus demográfico que tanto beneficiou o país nos últimos 50 anos está perto do fim. Elevar a produtividade do brasileiro – que, desde 1990, cresceu apenas 1% – é um imperativo hoje. Neste contexto, a maior abertura do mercado brasileiro é uma das alavancas mais poderosas para atingir esse objetivo.

A economia brasileira equivale atualmente a 3,5% do PIB global, mas suas exportações representam só 1,4% do total mundial. Há espaço para mais que dobrar a participação brasileira nas exportações globais. Esse equilíbrio representaria uma adição de US$ 200 bilhões em receitas, ao mesmo tempo que permitiria elevar as importações em patamar semelhante sem impactar de forma significativa o déficit externo.

Levantamento do McKinsey Global Institute (MGI) mostra que a maior conectividade com fluxos econômicos globais poderá aumentar em cerca de 1,25 ponto porcentual o ritmo de crescimento médio anual da economia brasileira. Essa expansão virá, principalmente, de incentivos à adoção de melhores práticas globais por empresas e pelo aumento na renda vinda do acesso a bens e serviços de qualidade e mais baratos – algo frequentemente esquecido.

O Brasil não é mercado relevante para os maiores exportadores globais

O espaço a ser percorrido é enorme. Num ranking que compara o nível de abertura de 70 países, o Brasil aparece apenas na 65.ª posição, superando Etiópia e Sudão, mas atrás de Uganda. É, também, o mais fechado entre integrantes do G20. A situação é ainda pior pela quase inexistência de avanços na direção de uma maior integração com o mercado mundial. Entre os Brics, todos os países têm níveis baixos de abertura, mas o Brasil foi o único do grupo que não melhorou sua posição no ranking global entre 2011 e 2015.

A desculpa de que a infraestrutura precária é a culpada pela falta de integração é frágil. O problema mais grave no Brasil é a falta de políticas favoráveis a uma maior abertura. As amarras protecionistas e regulatórias brasileiras são comparáveis às de nações muito menos desenvolvidas, como Sudão e Nigéria. O Brasil tem todas as condições para ser mais aberto. Basta querermos.

As importações brasileiras hoje representam apenas 11% do PIB nacional, quando a média global gira em torno de 40%. Num grupo de 140 países, apenas Nigéria e República Centro-Africana têm taxas de importação em relação ao PIB menores que a do Brasil. Mesmo sendo a oitava maior economia do mundo, o Brasil não é mercado relevante para os maiores exportadores globais – apenas 3% das exportações dos EUA, 2% da China e 1% da União Europeia vêm para o país.

O protecionismo mais prejudica o país do que o protege. Reduz sua competitividade, desestimula a inovação e tem impacto negativo direto sobre a produtividade. Apesar de todas as políticas protecionistas do país, alguns setores brasileiros expostos à concorrência global, como a agricultura, conseguem níveis de produtividade comparáveis aos de países desenvolvidos.

O caminho para a abertura passa necessariamente por alterações radicais nas políticas comerciais brasileiras. Uma substancial redução de subsídios, tarifas de importação e requerimentos de conteúdo local servirá de incentivo à modernização. O ambiente mais competitivo proporcionado pela abertura forçará que organizações busquem meios mais eficientes, inteligentes e baratos de produzir e atuar – elevando a produtividade, como desesperadamente precisamos. Estamos falando da sobrevivência de nossa aspiração de sermos uma nação relevante no cenário mundial.

Vicente F. Assis é presidente da McKinsey no Brasil. Pedro Guimarães é líder da McKinsey na Região Sul.
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