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O que a “teologia da substituição” tem a ver com o aumento do antissemitismo

O antissemitismo cresce, alimentado por desinformação e ideologias; cristãos devem amar e apoiar Israel, reconhecendo seu papel bíblico. (Foto: PantheraLeo1359531/Wikimedia Commons)

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“Não te glories contra os ramos...” (Romanos 11:18)

Tenho observado o noticiário sobre as recentes guerras travadas por Israel e seus inimigos declarados. O que me assusta, entretanto, é ver como essas notícias vêm, muitas vezes, acompanhadas de um grau de desinformação proposital acerca dos fatos. Parte da imprensa, infelizmente, não esconde seu lado antissionista e, por vezes, antissemita.

Um exemplo disso partiu do jornalista Samer Elzaenen, colaborador da BBC em Gaza, que teria manifestado seu desejo de que judeus fossem queimados “como Hitler fez”. Aqui no Brasil, o jornalista e militante de esquerda Breno Altman foi acusado pela Confederação Israelita do Brasil (Conib) de endossar uma “fala antissemita” proferida pelo ex-presidente do PT, José Genoíno, e de “incitar uma caçada aos judeus”.

Esses são apenas alguns exemplos de militância anti-Israel dentro da imprensa “livre”, cujas notícias são, incontáveis vezes, baseadas em informações não comprovadas pelos inimigos de Israel.

Talvez o leitor não concorde que haja uma perceptível dose de antissemitismo nas falas de políticos, jornalistas e influenciadores anti-Israel, mas tais declarações, mesmo sem esse propósito, quando advindas de pessoas com autoridade suficiente para formar opiniões, são como um barril de pólvora lançado sobre uma chama – inevitavelmente, irão explodir.

E é exatamente isso o que tem ocorrido: o antissemitismo aumentou – e muito! – nos últimos anos, inclusive no Brasil, onde o crescimento estimado é de 350%, conforme denunciado pela Federação Israelita do Estado de São Paulo (Fisesp) e pela Conib.

Entre 2022 e 2024, o aumento das denúncias de antissemitismo no ambiente online foi de 549% – contra uma alta de 145% nas denúncias offline. Essas entidades apontam que os picos de manifestações antissemitas nas redes sociais acompanham, principalmente, pronunciamentos públicos de políticos sobre a guerra entre Israel e o Hamas ou acontecimentos do próprio conflito.

Dentre as várias manifestações de ódio a Israel, há também muitos atos de ameaça e até de violência contra judeus, tanto pela internet quanto presencialmente. Fernando Lottenberg, em seu artigo “Antissemitismo: 2024, um ano marcante”, publicado no site Consultor Jurídico, escreveu que “durante este ano, presenciamos ataques a representações diplomáticas de Israel nos países nórdicos, além de agressões físicas contra judeus nos Estados Unidos, onde também vimos o antissemitismo adentrar os espaços universitários...”.

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Sabemos que o antissemitismo não é uma peculiaridade dos nossos dias. Entretanto, é estarrecedor ver como esta geração consegue ser ainda pior do que as passadas, já que dispõe de fontes de conhecimento e tecnologia muito superiores. Se não é por ignorância, deve ser por pura alienação

Não é à toa que, por incontáveis vezes, o antissemitismo parte de quem se diz defensor das minorias e combatente da intolerância e do racismo. Porém, uma breve incursão na epístola a Timóteo 3:1-5 nos conduz à inevitável conclusão de que não podemos esperar menos desta geração.

Há, ainda, pastores e líderes cristãos que contribuem, senão diretamente, indiretamente, para o crescimento do antissemitismo. O supersessionismo, ou teologia da substituição – a ideia de que a Igreja substituiu Israel – tem sido usado, historicamente, como justificativa para o antissemitismo. No entanto, há um erro grosseiro nessa linha de interpretação, pois contradiz profecias e ensinamentos bíblicos claros a respeito de Israel.

Escrevendo aos Romanos, o apóstolo Paulo deixou claro que não houve essa substituição e que Israel permanece nos planos de Deus, não como uma nação qualquer, mas como um povo especial: “Digo, pois: Porventura rejeitou Deus o seu povo? De modo nenhum... Deus não rejeitou o seu povo, que antes conheceu... o endurecimento veio em parte sobre Israel, até que a plenitude dos gentios haja entrado. E assim todo o Israel será salvo, como está escrito: De Sião virá o Libertador, e desviará de Jacó as impiedades.” (Romanos 11:1a-2a e 25b-26)

No versículo 28 de Romanos 11, assim como no verso 25, há clara referência a um Israel étnico, distinto dos gentios e que não é, ao menos ainda, um “Israel espiritual”. É a esse Israel étnico que Deus deseja salvar no versículo 26, pois “os dons e a vocação de Deus são sem arrependimento” (v. 29).

Ora, como Paulo poderia revelar um segredo ou mistério (a salvação de todo Israel) se, com isso, ele estivesse se referindo apenas à salvação de um remanescente de Israel, algo tão perceptível na história?

O Comentário Bíblico MacArthur explica que “uma vez que o remanescente já abraçou a verdade do evangelho (ver notas no v. 25), não poderia ser visto aqui, pois não necessita mais da salvação que esse versículo promete.”

Efésios 2:14-16 deixa evidente que, embora judeus e gentios convertidos se constituam em um só povo em Cristo Jesus, pois foi derrubada “a parede da separação que estava no meio, a inimizade”, ambos os povos permanecem distintos, não se confundindo.

1 Coríntios 10:32 também traz essa diferenciação ao ordenar aos crentes que se portem “de modo que não deis escândalo nem aos judeus, nem aos gregos, nem à igreja de Deus”.

Sobre Gálatas 6:16 (“E a todos quantos andarem conforme esta regra, paz e misericórdia sobre eles e sobre o Israel de Deus”), Charles Ryrie escreveu: “Gálatas 6:16 não apresenta uma prova clara de que existe igualdade entre Israel e a Igreja. [...].

Uma vez que Paulo atacou severamente os legalistas judeus, seria esperado que distinguisse uma bênção especial para os membros do povo judeu que haviam esquecido o legalismo e verdadeiramente seguido a Cristo.”

Enfim, não há base bíblica para o supersessionismo, muito menos para qualquer forma de antissemitismo, ainda que seja a mera rejeição social dos judeus, como muitos ditos cristãos fizeram erroneamente ao longo dos séculos.

O dever de amar o Israel étnico, ordenado no Antigo Testamento (v.g.: Gênesis 12:3; Salmos 122:6), tem seu equivalente no Novo Testamento: “Assim que, quanto ao evangelho, são inimigos por causa de vós; mas, quanto à eleição, amados por causa dos pais.” (Romanos 11:28)

Como os dons e a vocação de Deus são sem arrependimento, e Ele não rejeitou o seu povo, que antes conheceu, só nos resta concluir que, apesar da rejeição de Israel, Deus o ama com amor eterno (Jeremias 31:2-4).

Não há razão para um cristão não amar, de maneira especial, aqueles por meio de quem nos veio a salvação (João 4:22), como fizeram os crentes da Macedônia: “Porque pareceu bem à Macedônia e à Acaia fazerem uma coleta para os pobres dentre os santos que estão em Jerusalém. Isto lhes pareceu bem, como devedores que são para com eles. Porque, se os gentios foram participantes dos seus bens espirituais, devem também ministrar-lhes os temporais.” (Romanos 15:26-27)

Concluo transcrevendo a explicação do Comentário Bíblico Expositivo sobre esse texto bíblico: “...Os gentios haviam recebido riquezas espirituais dos judeus. Estavam retribuindo com riquezas materiais e pagando sua dívida.

Foram os judeus que levaram aos gentios a Palavra de Deus, e foi por meio deles que o Filho de Deus veio ao mundo. Nós, cristãos, também devemos nos sentir devedores a Israel e pagar essa dívida orando por ele, compartilhando o evangelho e ajudando materialmente. O antissemitismo não tem absolutamente espaço algum na vida do cristão consagrado.”

Que o Senhor nos ajude a entender Suas verdades eternas!

Marcos Antônio Freire Martins é bacharel em Direito (UFBA), pós-graduado em Direito Processual Civil (Uniderp), analista judiciário do TJBA, fundador e editor da Revista Apologética Cristã Sã Doutrina, autor dos livros "O que a Bíblia Diz sobre Reencarnação" e "A Triunidade de Deus e a Divindade de Cristo", dentre outros. Também é membro da Academia Conquistense de Letras.

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