Recentemente o país vem experimentando um processo de valorização de sua moeda em relação ao dólar por, principalmente, quatro motivos: 1) existência de um expressivo superávit comercial como resultado do processo de expansão da economia mundial; 2) melhoria nos indicadores macroeconômicos favorecendo a entrada de investimento estrangeiro direto; 3) alto nível da taxa de juros que atrai investimentos de curto prazo; e 4) tendência mundial de desvalorização da moeda norte-americana.
Mas qual a relevância do processo de valorização do real? Se a estrutura produtiva é importante na determinação do desempenho da economia, uma mudança nela devido à valorização cambial traria conseqüências no longo prazo. Alguns estudos mostram que a indústria de transformação estaria perdendo participação no emprego e no PIB, prejudicando o desempenho econômico de longo prazo já que em sua composição estão alguns dos segmentos que afetam o dinamismo de toda a economia. Diante desse cenário, seria importante apontar algumas soluções para tentar reverter esse processo de valorização do câmbio.
Dentre as causas da valorização citadas anteriormente, o bom desempenho do setor exportador pode ser contrabalançado por um aumento das importações via redução de tarifas e de outras barreiras não tarifárias, principalmente de setores que são estratégicos no processo de desenvolvimento econômico como, por exemplo, o de máquinas e equipamentos. É fundamental, no entanto, que esta medida esteja focalizada em setores que elevam a produtividade da economia. O governo não pode deixar que a valorização do Real gere apenas uma ampliação nos gastos com consumo das camadas mais ricas da população.
Em relação aos juros, com o processo de redução de seu nível, a situação cambial pode melhorar por três vias: 1) redução da entrada de divisas; 2) elevação do consumo e investimentos privados; e 3) elevação dos investimentos públicos.
Pela primeira via ocorre uma redução dos ganhos de arbitragem, diminuindo a oferta de divisas. A segunda é pela redução nos custos de investimento e dos ganhos financeiros, sendo que esses dois elementos contribuem para a canalização de recursos para investimentos produtivos, aumentando a oferta total da economia condição necessária para o crescimento sem inflação e induzindo o crescimento da demanda que, por sua vez, leva a um aumento das importações. A redução dos juros também aumenta a demanda por bens duráveis e por imóveis, com impactos sobre o nível de importações da economia.
Finalmente, por melhorar as contas do governo, libera recursos para investimentos públicos. Como entre os principais gargalos ao crescimento econômico sustentável do Brasil está a deficiente infra-estrutura de transporte e de energia elétrica, investimentos nesses setores gerariam impactos sobre a demanda e importações, além de pavimentar o caminho para o crescimento sustentado.
A mensagem final é que a elevação dos preços das commodities e produtos industriais básicos com o conseqüente aumento das exportações brasileiras não é um problema a ser solucionado, mas sim uma grande oportunidade para gerar as condições que levem o país para a rota de crescimento elevado. Não obstante, tendo em vista que o processo de desvalorização da moeda norte-americana é internacional e que os países têm reagido de forma distinta no que tange a proteção de suas moedas, caberia ressaltar a necessidade de abrir o debate sobre o controle na entrada dos fluxos de capitais, sobretudo os de curto prazo. Tais controles já são utilizados em diversos países China, Índia e Chile, por exemplo com resultados satisfatórios, sobretudo no que se refere à manutenção de taxas de câmbio pró-exportação e a verificação de elevadas taxas de crescimento do produto e do emprego.
Luciano Nakabashi, doutor em economia pelo Cedeplar/UFMG, é professor adjunto do Departamento de Economia da UFPR.
Marcelo Curado, doutor em economia pela Unicamp, é chefe e professor adjunto do Departamento de Economia da UFPR.



