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Opinião do dia 2

O que o Japão ensinou e o Brasil ainda não aprendeu

Segunda lição: tecnologia

No artigo anterior, começamos a discutir o primeiro dos três ensinamentos que o Japão nos ensinou, mas que o Brasil até hoje ainda não aprendeu. Basicamente, o que discutimos antes foi o seguinte: como pode o Japão com uma área útil apenas equivalente à do Paraná, montanhoso e formado por centenas de ilhas, conseguir ter um produto interno bruto seis vezes superior ao do Brasil e exportar seis vezes mais que o nosso país?

A resposta a esta pergunta fundamenta-se em três coisas que o Japão nos ensinou. No artigo anterior abordamos o primeiro ensinamento japonês: a educação, quando em 1906, aquele país fez a chamada revolução Meiji, ao exigir que todos os japoneses ao completarem 15 anos de idade têm que ter 9 anos de escolaridade, com escolas de qualidade e em tempo integral. Infelizmente, no Brasil, a educação em nível fundamental e médio nunca foi prioridade para o setor público, de modo a garantir boas escolas para pobres e ricos, terem a mesma oportunidade.

No artigo de hoje, falaremos do segundo ensinamento japonês, mas que repito, o Brasil ainda não aprendeu. Este segundo ensinamento é: apostar em ciência e tecnologia, ou seja, logo após apostar em educação, o Japão percebeu que a educação tem que ter um cunho tecnológico, ou seja, um ensino orientado para a formação profissional. Para se ter uma idéia, o Japão investe cerca de 600 dólares por habitante por ano, sendo que 60% desse valor é feito por empresas e apenas 40% vem do setor público. Isto significa que as empresas sentem necessidade de investir em ciência e tecnologia. Para fins de comparação, a formação nas escolas brasileiras de ensino médio é do tipo genérico, em que o aluno sai sem nenhuma formação profissional. Além disso, investe-se apenas 40 dólares por habitante por ano, em ciência e tecnologia, e o que é mais grave: mais da metade desse pouco valor (40 dólares) advém do setor público. É recente a percepção do setor privado brasileiro de que a tecnologia é o melhor caminho para aumentar a produtividade e torná-las mais competitivas. Afinal, todos sabemos que apostar em tecnologia significa elevar a produtividade (ou seja, maior produção por hora máquina ou por trabalhador) e essa maior produtividade resulta em custos unitários menores, tornando a empresa mais competitiva.

Para demonstrar que no Brasil não apostamos em escolas de nível tecnológico, vamos pegar o exemplo do Paraná, que tem 399 municípios, mas tem apenas 5 escolas do tipo Cefet, quando, na verdade, deveria ter pelo menos umas 50 escolas técnicas. Londrina, uma cidade com quase 600 mil habitantes, a segunda maior do Paraná, não tem uma escola do padrão Cefet. Aí não pode reclamar que empresas que exigem mão-de-obra qualificada venham a se instalar lá. Sabemos que a implantação do parque automotivo na região metropolitana de Curitiba, trouxe muita mão-obra especializada de fora porque não se encontrava facilmente aqui na região.

Não apostar em ciência e tecnologia parece ser um problema de todos os países da América do Sul. Um país da América do Sul muito festejado é o Chile, mas que também sofre do mesmo problema. Basta dizer que 70% do que aquele país exporta concentra-se em apenas três produtos: cobre, madeira e frutas, ou seja, praticamente não agrega muito valor, pois quase nada é de produtos de alta tecnologia.

Costumo dizer para meus alunos que o que separa um país desenvolvido de um em desenvolvimento não é, como costumamos dizer: nível de renda. Os desenvolvidos dizemos: tem nível de renda superior a 20 mil dólares por habitante ano e os em desenvolvimento abaixo de 10 mil. Na verdade, nível de renda é conseqüência do que se aposta em ciência e tecnologia. Para mim, país desenvolvido é aquele que investe muito em ciência e tecnologia e aí consegue elevar o nível de renda. Como o Brasil só investe, como já dissemos, apenas 40 dólares por habitante por ano não pode reclamar. Portanto, esse é o segundo ensinamento japonês: investir em tecnologia, além da educação. O Brasil não aprendeu nenhum dos dois.

No próximo artigo a respeito, falaremos do terceiro e último ensinamento japonês para se tornar um país desenvolvido. Pense nisso!

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