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O que toda mulher de meia-idade precisa saber sobre a perimenopausa

Alguém deveria dizer: “Olha, você precisa se preparar, emocional e fisicamente, para a meia-idade.” Mas é claro que ninguém faz isso

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(Foto: /Pixabay)

Se pelo menos, no seu 45.º aniversário, o médico se sentasse à sua frente, olhasse bem dentro dos seus olhos e dissesse: “O que vai acontecer é o seguinte: uma hora seus pelos pubianos vão afinar em todo lugar, menos na virilha, ou seja, vai acontecer exatamente o contrário do que você sempre quis. A gordura do seu corpo vai se redistribuir, de modo que as suas coxas vão ficar no formato do Shake, aquele monstrengo enorme e roxo do McDonald’s. Vai desenvolver aquelas pelancas na parte posterior do braço. E pode crer que vai, faça o que fizer. E todo o seu ciclo menstrual também vai mudar. Os períodos tendem a ficam mais curtos, mais frequentes e mais dolorosos. Vão ficar cada vez mais esquisitos até que, uma hora, somem.”

Em outras palavras: se pelo menos alguém chegasse e lhe dissesse: “Olha, você precisa se preparar, emocional e fisicamente, para a meia-idade.” Mas é claro que ninguém faz isso.

Gastamos muita saliva e um tempão para preparar os adolescentes para as mudanças que a puberdade acarreta, mas, para as mulheres, a meia-idade traz outro tipo de alteração: a perimenopausa, um caminho que trilhamos por volta dos 40 anos, às cegas, sem receber muitas informações dos médicos e nem mesmo de outras mulheres, questionando a intensidade e a aparente infinidade das mudanças com um constrangimento silencioso.

Você deve estar se perguntando – perimenopausa, o que é isso? Para começar, é um termo tão pouco usado que o corretor da Microsoft está me dizendo que não é uma palavra, termo novo para muita gente quando Gwyneth Paltrow o mencionou, no mês passado, em um vídeo no Goop. “Peri” é um prefixo grego que significa “perto de”, e menopausa é o fim da menstruação. Ou seja, perimenopausa é toda aquela maluquice que acontece quando esse desfecho está próximo.

Os médicos têm de falar com suas pacientes sobre as mudanças que muito provavelmente terão de enfrentar e prepará-las

Precisamos ter “aquela conversa”, mas entre a mulherada de 45 anos. Os médicos têm de falar com suas pacientes sobre as mudanças que muito provavelmente terão de enfrentar e prepará-las; e nós, que estamos vivenciando os sintomas, temos de conversar umas com as outras e com o resto do mundo sobre o que está acontecendo. Porque para mim é muito estranho, surpreendente e bem complicado aceitar calmamente desde aquele pelo perdido no queixo – tá, pelos, no plural – até a diminuição da densidade óssea. Cerca de 40 por cento das mulheres têm o sono interrompido nesse período; entre dez e vinte por cento, alterações de humor. Algumas sofrem sangramento uterino, secura vaginal e, é claro, o sintoma que é a marca registrada da menopausa: o climatério.

Meu desejo de desvendar a história toda vai além da minha saúde: como é que vou poder fazer piada dos sintomas se nem sei quais são? (Vou sempre me lembrar com carinho da Joan Rivers brincando sobre o número surpreendente de coisas que despencam com a idade, a começar da genitália.)

Não faz muito tempo, perguntei às amigas do Facebook o que ninguém lhes tinha dito sobre a meia-idade. Nenhuma postagem minha recebeu tantas respostas, divididas igualmente entre tristes e engraçadas. Ou um pouco de cada.

Tem as questões físicas: a acne aleatória, as marcas na pele, aquela tossezinha que resulta em um minijato de xixi, o tempo enorme de recuperação de lesões e ferimentos pequenos e a facilidade com que, de repente, você passa a se ferir. “Um movimento superbanal, tipo esticar o braço para pegar o controle remoto, pode me tirar as costas do lugar e me deixar choramingando feito criança um dia inteiro”, uma escreveu.

Leia também: As mulheres a quem sou grata (artigo de Jennifer Weiner, publicado em 27 de novembro de 2017)

Nossas convicções: A valorização da mulher

E, obviamente, tem também as questões emocionais: até que ponto vou estranhar a mim mesma com essa mudança no meu perfil hormonal, nesse período em que perco estrogênio enquanto meus filhos passam a ganhá-lo mais e mais?

A tal conversa não precisa ser lá tão ruim. Entre as coisas que as amigas do Facebook mencionaram, elas se sentem melhores e mais fortes do que aos vinte e trinta anos e se tornaram bem menos fúteis. Uma delas comentou: “Dou prioridade ao que é importante para mim e para as pessoas que amo.”

Ela já chegou àquele momento ainda mítico (para mim) em que a pessoa deixa de se preocupar muito com o que os outros pensam – o início da ascensão da famosa curva em U do gráfico da felicidade, que mostra que vamos ficando mais felizes conforme envelhecemos (sendo os 40 o ponto mais baixo). Os mais velhos são os detentores da sabedoria conquistada ao longo dos anos – ou do imenso cansaço que os sobrecarrega, forçando-os a comprarem suas brigas com mais critério. Junto com aqueles pelos no queixo, pode vir algum consolo.

Por isso, seu médico também poderia dizer: “São grandes as chances de você perceber que não liga mais para as coisas pequenas (ainda que, à noite, passe a suar incontrolavelmente), que não se preocupa nem um pouco com a opinião alheia e se sente menos interessada em uma fase da vida a que nem chegou ainda. E a invisibilidade é um superpoder que pode ser usado em sua vantagem.”

E se ele não lhe falar nada disso, pode acreditar em mim.

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