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Por que o socialismo, apesar de acumular fracassos históricos e tragédias humanas, insiste em se reapresentar como alternativa moralmente superior? A resposta talvez esteja menos no campo da economia e mais no da religião política.
C.S. Lewis, em um ensaio célebre, observou que é preferível viver sob a ganância de um barão ladrão do que sob a tirania de moralistas bem-intencionados. O ladrão pode satisfazer-se em algum momento; o moralista, ao contrário, persegue sem descanso, sempre convencido de agir pelo bem alheio.
Esse traço explica, em grande medida, a resiliência do socialismo: não se trata apenas de um sistema econômico, mas de uma fé secularizada que justifica intervenções permanentes em nome de um futuro idealizado.
Os principais teóricos socialistas e progressistas do século XX compartilham um ponto de partida comum: a recusa de qualquer instância de autoridade que transcenda a vontade humana. Gramsci propôs uma revolução cultural que moldasse consciências. Marcuse defendeu a censura como forma de “libertação”.
Foucault dissolveu a verdade em construções de poder. Simone de Beauvoir rejeitou até a biologia como determinante da identidade. Em todos eles, nota-se a mesma rebeldia contra a ideia de realidade objetiva e, sobretudo, contra Deus — porque é na transcendência que se enraízam a moral e os limites que frustram os projetos de engenharia social ilimitada.
Se não há Deus, não há verdade objetiva. Se não há verdade objetiva, não há moral objetiva. E, sem limites, tudo é justificável: a reeducação, o encarceramento, a perseguição e até a eliminação daqueles que resistem à utopia prometida.
A tragédia do socialismo não é um acidente, mas consequência lógica de seu fundamento: transformar a política em instrumento de salvação
O socialismo sobrevive porque se alimenta da crença — não dos resultados. É uma religião política que se impõe pela promessa de redenção secular. O problema é que, em nome desse futuro inexistente, o presente se torna um campo de experimentos autoritários. A fé na utopia converte-se em justificação permanente da tirania.
Marcos Paulo Candeloro é graduado em História (USP), pós-graduado em Ciências Políticas (Columbia University- EUA) e especialista em Gestão Pública Inovativa (UFSCAR).



