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Cataratas do Iguaçu
As Cataratas do Iguaçu atraem turistas do mundo todo: cartão-postal do Paraná. Imagem ilustrativa.| Foto: Divulgação/Cataratas do Iguaçu S.A

Com a instalação da pandemia da Covid-19 pelo mundo, tudo passou, em algum grau, por alguma modificação. Alteramos nosso modo de viver, de se comunicar, de trabalhar e de se movimentar. Mesmo que algumas fronteiras em todos os continentes estejam sendo reabertas, as viagens nunca mais serão as mesmas.

Diante da gravidade da crise sanitária e de todas estas transformações sendo vivenciadas, nos propomos a repensar a área partindo do pressuposto que o turismo é mais que uma paisagem instagramável, com um pôr do sol sem filtro. A atividade é fonte de renda e sobrevivência para tantos, tanto que é mundialmente reconhecida por sua potência econômica e já chegou a representar 10,4% do PIB mundial, segundo o World Travel & Tourism Council. Porém, agora sofre com a queda abrupta de 85% no fluxo turístico internacional registrado em 2019, bem como uma queda de cerca de 60% em 2020, de acordo com a Organização Mundial do Turismo.

O turismo é um setor de especial interesse para o Brasil. Não apenas porque movimenta uma expressiva quantidade de capital, mas sobretudo por envolver microempreendedores individuais (MEIs) e pequenos negócios em sua base. No país, atualmente, são mais de 11,3 milhões de MEIs ativos, o que corresponde a 56,7% dos negócios em funcionamento. Nesse sentido, o turismo é uma atividade que tende a pulverizar postos de trabalho e promover a descentralização da renda por todo território nacional. Recentemente, os pequenos negócios apresentaram um saldo positivo no número de geração de empregos com carteira assinada, de acordo com o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados do Ministério da Economia (Caged). Foram 71,8% das vagas criadas no Brasil, com destaque para o setor de serviços, que lidera o número de contratações com mais de 87 mil vagas somente no mês de junho (o que ainda está longe de representar os níveis anteriores à pandemia).

Dada a relevância econômica do setor, desenvolver estratégias pensando em atrair turistas sempre foi a principal linha de ação e não há nada de errado em atraí-los, considerando que quanto maior o fluxo turístico internacional, maiores são as divisas circulando e, por consequência, a performance econômica das cidades envolvidas. No entanto, há inúmeras críticas a um modelo de exploração do turismo pautado no volume e na geração de divisas como principal objetivo.

Embora este seja o modelo predominante, a sua lógica favorece a geração de inúmeros danos ambientais e socioculturais. Olhar para o turismo e para seu desenvolvimento sob perspectivas diferentes faz parte do momento atual e da postura diante da retomada do setor. Esse olhar indica a autocrítica e uma falta de reconhecimento do potencial interno. É hora de ajustar a lente e voltar-se para a soma de esforços para “arrumar a casa”. Valorizar o pequeno e microempreendedor é primordial, eles são fundamentais para sustentar a segurança econômica tão relevante em tempos críticos.

O turismo brasileiro pode aliar a seu favor o cenário econômico e a alta do dólar, que por um lado dificulta as viagens internacionais, mas por outro motiva o interesse nas viagens domésticas. Ou seja, neste momento o mais importante para a retomada do turismo é direcionar os esforços para a oferta de produtos condizentes com o que todo ser humano aprendeu a valorizar nesse período de isolamento: voltar-se para a oferta e não para a demanda. Por exemplo, torna-se emergente promover um descolamento daquele turismo com regras postas pelo mercado: viagens pautadas na superlotação e no excesso de turistas em detrimento da qualidade e exclusividade.

A demanda deve ser consequência natural de bons produtos sendo ofertados, produtos que estabeleçam em linhas claras o seu limite e sua capacidade de bem atender. Há a possibilidade de ofertar produtos e destinos turísticos que promovam conexão real com a natureza, com as pessoas e as culturas. É oferecer oportunidades de equilíbrio, contemplação e autenticidade, como sugerem os estudos de tendências mundiais pós-pandemia.

Para este realinhamento dos propósitos do turismo é fundamental observá-lo enquanto um fenômeno humano complexo, multifacetado e que, dentre suas camadas, possui um conjunto extenso de equipamentos e empreendimentos postos a servir. São atividades econômicas advindas dos meios de hospedagem, alojamento, transportes, alimentação, agenciamento, eventos e tantas outras. Embora a produção de bens esteja contemplada, o turismo é essencialmente associado aos serviços. Assim, a maioria das empresas do setor é prestadora de serviços e, como tal, precisa de uma gestão voltada para bem servir.

Todos nós, em algum grau, tivemos a oportunidade de saborear o gosto amargo de se manter em isolamento, afastados e sem se deslocar. A retomada do turismo está diretamente relacionada a esta sensação e, por consequência, uma nova forma de observar e interpretar o turismo vai além dos recursos econômicos provenientes dele. Afinal, a principal característica da atividade turística envolve a relação humana, o convívio, a autenticidade e a experiência proporcionada a cada indivíduo, em diferentes graus.

Já que as relações se transformaram durante a pandemia da Covid-19, é necessário que possamos encontrar formas de voltar a este convívio. Talvez essa seja a real potencialidade do turismo: o compartilhamento de experiências que criam memórias e nos fazem ver o mundo com nossos próprios olhos. Para além do alicerce econômico que a atividade turística promove, está a edificação de novos olhares para o nosso espaço e nosso tempo.

Grazielle Ueno Maccoppi é coordenadora dos cursos de Gestão de Turismo e Gestão Empreendedora de Serviços da Escola de Gestão Comunicação e Negócios do Centro Universitário Internacional Uninter. Cláudio Aurélio Hernandes é coordenador dos cursos de Processos Gerenciais e Negócios Digitais da Escola de Gestão Comunicação e Negócios do Centro Universitário Internacional Uninter.

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