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| Foto: Felipe Lima

Ainda que tardia e com muitos questionamentos a serem respondidos, a medida provisória que instituiu a reforma no ensino médio mostra que algo precisa ser feito nesta etapa tão importante e de fechamento da educação básica.

O atual modelo já está há muito tempo ultrapassado. Sem identidade clara, o ensino médio foi recebendo enxertos ao longo das últimas décadas e se distanciou da proposta original. O inchaço no currículo não permite nem uma formação técnica aprofundada, nem uma digna preparação para os vestibulares. O número de disciplinas também não respeita a individualidade dos alunos.

O novo ensino médio passa a utilizar a flexibilidade curricular já validada na educação superior

Uma grande piada

Esperar que o estudante vença o niilismo de sua geração e escolha qual disciplina prefere é superestimar sua capacidade

Leia o artigo de Paulo Cruz, professor de Filosofia no na rede estadual paulista de ensino médio

De acordo com dados do IBGE, no relatório Síntese de Indicadores Sociais 2015, a taxa de conclusão do ensino médio passou de 45,5% para 60,8% entre 2004 e 2014. Aumento que contradiz a redução no número de matriculados, bem como o aumento dos índices de evasão. De acordo com dados do Censo Escolar, cerca de 1,6 milhão de crianças e adolescentes estão fora da escola. Desse grupo, 629 mil (quase 28%) têm entre 15 e 17 anos e apenas 108 mil estão no ensino médio, indicando que grande parte deles não está na série esperada para a faixa etária.

A proposta apresentada ainda precisa de muitas considerações e debates sobre quais disciplinas serão ou não obrigatórias, quais serão as áreas abordadas na Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e como serão ajustados os instrumentos de acompanhamento da qualidade.

O aumento da carga horária de 800 para 1,4 mil horas é um avanço considerável. Nas principais escolas de ensino médio ou equivalentes pelo mundo, a permanência do aluno em tempo integral reduziu a evasão escolar e, com o estudante mais tempo na escola, abre caminho para disciplinas como música, empreendedorismo, voluntariado e projetos sociais.

Com os percursos formativos, o novo ensino médio passa a utilizar a flexibilidade curricular já validada na educação superior. Proporcionar aprofundamento em cinco áreas (Linguagens e Códigos, Sociedade, Matemática, Natureza ou educação profissional) abre um leque de opções que deve tornar muito mais interessante a transição do ensino médio para o ensino superior.

Além de irem melhor preparados para os demais estudos, caso o aluno não se identifique com o caminho escolhido, o novo modelo permite que ele retorne sem perder o que foi cursado, ou pode cursar mais de um percurso formativo. Possibilidade que irá refletir na redução da evasão também na educação superior.

A aprovação por disciplina também é outro ponto positivo. No novo modelo, a progressão será por disciplinas, permitindo que elas sejam estudadas independentemente da aprovação nas outras áreas. Caberá ao aluno gerenciar sua vida escolar administrando o currículo.

A discussão sobre a reforma do ensino médio tirou o sistema educacional da inércia de um formato ultrapassado e industrializado. Além disso, evidenciou a necessidade de implementar um modelo atualizado que permite a melhor transição entre a educação fundamental para a superior, proporcionando aos jovens conhecimentos que sejam úteis sem afastá-los dos bancos escolares.

Élcio Miguel Prus é coordenador geral do Ensino Médio Integrado do TecPUC.
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