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| Foto: Antônio More/Gazeta do Povo

Apresentada, semanas atrás, pelo governo Michel Temer, a proposta de reestruturação do ensino médio está mexendo com os ânimos Brasil afora, principalmente de quem lida com educação ou a acompanha de perto. Levantam-se reações contrárias, compreensíveis em pelo menos um ponto: não é mesmo admissível o uso de expedientes de gabinete – como uma medida provisória – para ditar solução a questão de tamanha relevância.

Isso não quer dizer que o ensino médio vai bem, não precisa ser reformulado, mesmo vendo a metade dos alunos que ingressam nele abandonarem as aulas antes do fim do terceiro ano. Além da evasão em massa, a média de aproveitamento é alarmante, como revela o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb): 3,7 em 2011, 2013 e 2015. O próprio Ministério da Educação reconhece: a situação é caótica.

O modelo vigente está falido; precisa ser substituído; mas, de preferência, por meio de amplo debate envolvendo professores, estudantes e toda a população. Uma das razões de nossa educação não ter evoluído como devia são os planos traçados por meia dúzia de mentes brilhantes. Já tivemos ensino médio que só encaminhava ao superior; que ora priorizava o humanismo, ora o tecnicismo, a preparação para o mercado de trabalho. A pauta merece ser discutida por toda a sociedade. Vivemos uma democracia, ou não?

O modelo vigente está falido; precisa ser substituído; mas, de preferência, por meio de amplo debate

A propósito, a temática deveria incluir os demais níveis de ensino. Porventura só o ensino médio vai mal? Uma das metas do Plano Nacional de Educação, lançado há dois anos, era matricular todas as crianças e jovens de 4 a 17 anos. Avaliação recente, porém, conclui que não apenas esse, mas nenhum objetivo importante do PNE foi alcançado. Faltam creches para milhões de crianças no país. Para cada 100 alunos que entram na primeira série do fundamental, somente 47 terminam o 9.º ano na idade correspondente, 14 concluem o ensino médio sem interrupção e apenas 11 chegam à universidade; 61% dos alunos do 5.º ano não conseguem interpretar textos simples e 65% não sabem calcular; 60% dos alunos do 9.º ano não interpretam textos dissertativos e 60% não sabem resolver um problema de porcentagem. O ensino superior vive expressiva expansão, com cursos presenciais e à distância – já são mais de 32 mil –, mas ainda é pouco... e não se trata apenas de quantidade.

No geral, excluindo as ilhas de excelência, o sistema escolar brasileiro mostra-se ineficiente, incapaz de atrair e manter alunos. Escassez de recursos? É a tese de muitos gestores, mas insustentável, sabendo-se que há países que fazem muito mais com bem menos. Faltam leis? Temos a excelente Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB – Lei 9.394/96), o Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE), o Plano Nacional da Educação (PNE) etc. Falta diagnóstico da realidade? Temos excelentes instrumentos de avaliação, como a Prova Brasil, o Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) e o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), e o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), que fazem radiografias detalhadas dos estudantes, matrícula, aprovação, reprovação e abandono, por grau, série, região, idade, etc. Já não pode ser descartada a hipótese de má gestão dos recursos.

Sobrevoando a história, vemos que a educação brasileira da fase colonial não fazia nenhuma questão de uma população escolarizada, preferindo o escravo ignorante e submisso e uma elite, no máximo, ocupada com o mando, o espiritual, o beletrismo, a oratória, o enciclopedismo. Boas reformas só vieram na fase republicana, com a inclusão de novas disciplinas, propostas de ensino universal, gratuito, obrigatório... belas, mas inviáveis.

A educação não perdeu a razão de ser com as tecnologias que disseminam informação o tempo todo, mas precisa redefinir-se, atualizar seus métodos. O professor também precisa rever sua postura: não é mais o detentor nem o transmissor de conhecimentos.

Os desafios da educação são envolver todas as pessoas na incrível aventura do conhecimento; ensinar a aprender, a pensar, a fazer escolhas, criar soluções, lidar com o diferente, o novo. Não estudamos apenas por razões imediatas – profissão, sobrevivência, ascensão social –, mas principalmente para aprender a olhar a realidade de modo positivo e crítico, compreender o essencial e o secundário, as circunstâncias, o ambiente científico, tecnológico, filosófico e cultural. Estudar tem de ser prazeroso, motivador.

Laudelino Jochem, contador e empresário da contabilidade, é vice-presidente do CRC-PR.
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