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 | Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil
| Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil

Os milhões de brasileiros que elegeram Jair Bolsonaro depositaram suas esperanças no campo econômico na implantação de uma agenda liberal, centrada na ampliação da eficiência e na redução do papel do Estado. Os nomes anunciados são coerentes com esta escolha. Paulo Guedes, indicado para o superministério da Economia, Roberto Campos Neto, para o Banco Central, Roberto Castelo Branco, que assumirá a Petrobras, Joaquim Levy, que vai presidir o BNDES, Rubem Novaes no BB e Pedro Guimarães na CEF comungam de uma visão liberal em economia. Guedes, Levy, Castelo Branco e Novaes tem formação, doutorado ou pós-doutorado, na escola de Chicago, a “Meca” do pensamento liberal contemporâneo.

Coesão interna e competência técnica não faltam à equipe econômica. Independentemente da análise que possa ser feita sobre os impactos de uma agenda liberal no Brasil, certamente sua implantação será uma tarefa complexa. Além da oposição, natural em qualquer regime democrático, a equipe enfrentará obstáculos não desprezíveis em diversas frentes. A relação com o Congresso Nacional é o primeiro desafio. A coesão encontrada na formação e na visão econômica não se estende no quesito experiência política. Com exceção de Levy, os demais membros possuem pouca ou nenhuma experiência no trato com a máquina pública e com as forças políticas. É sempre possível aprender e se ajustar, mas as primeiras falas de Paulo Guedes revelaram um futuro ministro pouco acostumado com o ritmo e a forma das discussões políticas.

A linha liberal adotada pela equipe econômica deve enfrentar dificuldades de diálogo interno com o chamado “núcleo militar” do futuro governo

Internamente há uma fonte de conflito potencial que não deve ser esquecida. A linha liberal adotada pela equipe econômica deve enfrentar dificuldades de diálogo interno com o chamado “núcleo militar” do futuro governo. Vale lembrar também que Bolsonaro até pouco tempo atrás estava longe de ser um liberal. Militares com formação historicamente influenciada pelo positivismo e com inclinação nacionalista dificilmente ficarão inertes aos anseios liberais, especialmente nos processos de privatização. Estaria o núcleo militar de acordo com a privatização das joias da coroa (ou de suas partes), Petrobras, Eletrobras, Banco do Brasil e Caixa Econômica?

No entanto, a maior fonte de pressões sobre a atual equipe se encontra no seio da sociedade brasileira, em grupos de interesses muito bem organizados. Empresários que bradam aos quatro cantos por “mais Brasil e menos Brasília”, que clamam por mais liberdade econômica e menos Estado são, em inúmeros casos, dependentes de crédito subsidiado do BNDES, de amplos subsídios fiscais e desonerações tributárias e só existem porque não há real competição externa. Via de regra, defendem uma abertura comercial “para os outros”. Nossos liberais acabarão com as benesses concedidas pelo Estado brasileiro a este grupo privilegiado?

Leia também: Bolsonaro e o desemprego (editorial de 12 de novembro de 2018)

Leia também: Sem ajuste fiscal, a inflação pode voltar com força (artigo de Karlo Marques Junior e Alejandro C. Garcia Cintado, publicado em 21 de novembro de 2018)

Bolsonaro não comete o mesmo erro de partida de Dilma que descartou de início o seu programa de governo. Temer escolheu uma equipe de primeira linha, mas os resultados, com exceção da questão inflacionária, foram pífios. A implantação de uma agenda liberal enfrentará resistências, resta saber se o novo presidente vai de fato bancar esta aposta.

Marcelo Curado é professor do Departamento de Economia da UFPR.
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