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 | Felipe Lima
| Foto: Felipe Lima

A alfabetização é uma das autonomias mais esperadas e desejadas pelos pais e, consequentemente, pelas escolas, que estabelecem a decodificação de símbolos, letras e números como fundamental para o amadurecimento infantil. Acabam, assim, por formar alunos copistas e desvalorizam a trajetória naturalmente rica que nossas crianças necessitam caminhar para a formação global e significativa.

As crianças estão inseridas em um mundo escrito, convivem diariamente com rótulos, placas, livros. Aos poucos, os rabiscos ganham forma, a relação entre letras e sons é ampliada. Quando bem estimuladas, a partir dos 3 anos elas começam a identificar letras e as relacionam com imagens ou objetos de seu interesse. Assim, ler e escrever deve ser tão natural quanto falar ou andar – não apressamos os nossos pequenos na aquisição dessas habilidades; por que o fazemos com a alfabetização?

Não apressamos os nossos pequenos para andar ou falar; por que o fazemos com a alfabetização?

Alfabetização até os 8 anos?

Para realizar tratamento de informações cerebrais que lhe são associadas, inclusive as que envolvem coordenação motora, a comunicação oral coloca mais pressão no sistema biopsíquico do que a comunicação escrita.

Leia o artigo de Luiz Faria da Silva, doutor em Educação e professor da UEM.

Antecipar o processo de alfabetização, tendo como objetivo a aquisição do código escrito, pode ser, no mínimo, desestimulante. Não queremos e não podemos formar alunos robotizados, oriundos de uma pedagogia mecanicista. Ao contrário, o prazer e a ludicidade são facilitadores de qualquer aprendizagem. Para os anos iniciais, são combustíveis que geram criticidade, espontaneidade e, principalmente, curiosidade. Ensinar a escrita vai muito além do fato de ensinar a traçar símbolos; vai além do fato de estabelecer a relação gráfico-sonora.

A escrita e a leitura são possibilidades reais de comunicação e de relação com o mundo. Porém, existem outras formas de interação que são essenciais e que antecedem a alfabetização – como o desenho, a brincadeira, o jogo, a dança, a construção de histórias, a integração, o saber conviver, a imaginação.

Pais e escola devem desejar crianças que saibam mais do que ler e escrever. Para isso, fortalecer o protagonismo infantil é essencial. Cabe, então, à educação infantil valorizar outras práticas e permitir que o olhar pontual sobre a alfabetização se inicie a partir do 1.° ano do ensino fundamental. O segmento da educação infantil deve valorizar o brincar e todas as relações que cabem dentro dele. A educação infantil é o tempo e o espaço das possibilidades, do acolhimento, do surgimento e da resolução de conflitos, dos estímulos para uma aprendizagem a ser construída longe dos brinquedos prontos e sem possibilidades, mas intimamente ligada à construção de um repertório rico em imaginar, em experimentar, em partilhar.

Merylin Franciane Labatut é gestora da Educação Infantil do Colégio Positivo Júnior.
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