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Felipe Lima

“Eu não quero morar em outro país. Eu quero morar em outro Brasil.” Ouvi essa expressão em palestra do consultor Marcelo Karam, e ela me provocou várias reflexões. A recessão, a corrupção, o desemprego e a violência social são as causas mais citadas por pessoas que manifestam o desejo de ir embora do Brasil. O desencanto com o país é compreensível, pois nossas mazelas são graves e formam um quadro desolador que faz muitos perderem a esperança de melhorias no curto e médio prazo.

Tenho uma filha que atualmente mora e trabalha em Londres, depois de ter residido na Itália e na Alemanha, e isso me faz acompanhar de perto a Europa, principalmente a Inglaterra. Emigrar para Londres, cidade glamourosa e centro importante da história mundial, e lá viver é o sonho dourado de muitos. Mas, quando se tornam reais, os sonhos revelam seus espinhos. A Inglaterra, apesar das vantagens, apresenta vários problemas para o imigrante.

O país aderiu à União Europeia (28 países), porém, com mais oito países, não adotou o euro como moeda comum. No ano passado, o Reino Unido (Inglaterra, Escócia, Irlanda do Norte e País de Gales) decidiu se retirar da União Europeia, o que implicará mudanças na política de imigração na região. Três milhões de cidadãos da União Europeia vivem no Reino Unido e 1,1 milhão de cidadãos do Reino Unido vivem nos demais países da Europa. Os ingleses têm certa restrição aos imigrantes, aos quais gostam de reservar os empregos de menor remuneração.

Ser imigrante em qualquer país nos tempos atuais não é exatamente uma coisa fácil

A vida do imigrante na Inglaterra não é fácil. A maioria mora em residências pequenas e frequentemente é lembrada de que ele é imigrante, não cidadão nacional. Nas pequenas cidades, a hostilidade no mercado de trabalho é maior, e foi o interior que deu a maioria dos votos para aprovar o Brexit (a retirada britânica da União Europeia). O país é organizado, a violência urbana é quase nula, o povo é educado, as coisas funcionam e há muito que admirar na Inglaterra. Mas o imigrante é sempre um estrangeiro e, mais adiante, muitos podem ser instados a deixar o país.

O exemplo da Inglaterra mostra que ser imigrante em qualquer país nos tempos atuais não é exatamente uma coisa fácil. Uma coisa é o glamour, outra é a realidade. Para a maioria dos 207,2 milhões de habitantes do Brasil, a hipótese de ir embora do país não se coloca. A expressão “eu não quero viver em outro país; eu quero viver em outro Brasil” é apropriada e um bom motivo para sabermos que cabe a nós, sociedade e governo, construir outro Brasil, menos pobre, menos corrupto, menos violento e com melhores hábitos; um país onde morar seja seguro e onde se possa ter alegria de viver.

Muitos que manifestam o desejo de ir embora talvez tenham desistido do Brasil e não acreditam que verão um país melhor. A questão é que, apesar dos problemas, a maioria não irá embora, e o melhor é fazermos nossa parte e contribuir para melhorar a nação, superar a pobreza e reduzir o elevado grau de violência contra a vida. Aceitar passivamente a pobreza, o caos e a marca de 60 mil pessoas mortas por assassinato a cada ano não é razoável.

No plano pessoal, as crises e as derrotas produzem lições e nos ajudam a mudar para melhor. Resta saber se o Brasil, como sociedade, aprenderá algo com a tríplice crise atual (a econômica, a política e a moral) e será capaz de melhorar sua economia e as condições sociais. Só o tempo dirá.

José Pio Martins, economista, é reitor da Universidade Positivo.
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