Encontre matérias e conteúdos da Gazeta do Povo
Artigo

Páscoa: curiosidades, sentidos e tradições ao longo da história

(Foto: Glenn Diaz/Unsplash )

Ouça este conteúdo

A Páscoa é uma das celebrações mais significativas no calendário cristão, marcada pela memória da ressurreição de Jesus Cristo. Seu conteúdo teológico está no centro da fé cristã, na comemoração da vitória sobre a morte e a promessa de vida plena. No entanto, a Páscoa tem raízes que precedem a tradição cristã e carrega consigo uma série de elementos históricos e culturais que ajudam a compreender sua complexidade e transformações ao longo do tempo, especialmente a partir das culturas religiosas.

Antes de ser incorporada à liturgia cristã, a Páscoa já era uma celebração no contexto do judaísmo. A festa de Pessach relembra a libertação do povo hebreu da escravidão no Egito, conforme relatado no livro do Êxodo. A palavra “Páscoa”, do latim Pascha, que deriva do hebraico Pessach, significa “passagem”. A menção à “passagem” remete ao episódio em que os hebreus foram poupados da última praga que caiu sobre o Egito, sinalizando o início do êxodo. A Páscoa cristã, por sua vez, foi construída liturgicamente a partir da releitura desse evento, agora associada à “passagem” de Jesus da morte à vida. A teologia cristã interpreta a ressurreição como cumprimento das promessas divinas e fundamento da esperança escatológica.

Compreender essas dimensões da Páscoa - teológica, histórica e cultural - amplia o olhar sobre a celebração. É uma data que não apenas evoca um evento do passado, mas renova reflexões sobre liberdade, esperança e renovação da vida

No âmbito litúrgico, a celebração é precedida por um período de preparação: a Quaresma, que se inicia na Quarta-Feira de Cinzas e dura 40 dias, sem contar os domingos. A Semana Santa, que encerra a Quaresma, começa no Domingo de Ramos, recordando a entrada de Jesus em Jerusalém. Este marco, frequentemente esquecido fora do âmbito litúrgico, é parte essencial da narrativa da Paixão. A semana culmina no Tríduo Pascal - Quinta-Feira Santa, Sexta-Feira da Paixão e Vigília Pascal - e termina com a celebração da ressurreição no Domingo de Páscoa.

Além de seu significado religioso, a Páscoa é atravessada por elementos culturais que foram sendo incorporados com o passar dos séculos. Entre eles estão os ovos e o coelho, que não possuem origem cristã direta. O ovo, em muitas culturas antigas, simbolizava fertilidade e renovação da vida. Com o tempo, foi ressignificado como símbolo do túmulo vazio e da nova vida em Cristo. Já o coelho está associado às tradições germânicas, onde representava fertilidade e abundância. Esses elementos foram incorporados às práticas populares, especialmente em contextos europeus, e se difundiram globalmente.

VEJA TAMBÉM:

No Sábado de Aleluia, que antecede o Domingo de Páscoa, há o costume popular - em algumas regiões -, de “malhar o Judas”, representado por um boneco de pano que é criticado ou ridicularizado como símbolo da traição. Embora essa prática não faça parte da liturgia oficial, ela persiste como expressão cultural. Em algumas tradições ortodoxas, a celebração da Páscoa é precedida por um jejum rigoroso e culmina com a partilha de ovos pintados à mão, que simboliza a nova vida. Também há saudações específicas trocadas entre a população, como a frase “Cristo ressuscitou!” e a resposta “Em verdade ressuscitou!”, reafirmando coletivamente a fé na ressurreição.

No campo simbólico da tradição pascal, um exemplo alimentar está no uso do cordeiro como símbolo pascal. Na tradição judaica, o cordeiro pascal foi o animal sacrificado na noite da saída do Egito, conforme ordenado no livro do Êxodo. Já na teologia cristã, Cristo é interpretado como o “Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo”, linguagem presente no Evangelho de João e na liturgia eucarística. O cordeiro, portanto, tornou-se símbolo de entrega e redenção.

Compreender essas dimensões da Páscoa - teológica, histórica e cultural - amplia o olhar sobre a celebração. É uma data que não apenas evoca um evento do passado, mas renova reflexões sobre liberdade, esperança e renovação da vida. Ou seja, ao olhar para a cultura dos povos, podemos compreender que cada expressão de fé revela como o ser humano se relaciona com a história e a cultura religiosa, algo que avança já há mais de dois mil anos.

Ana Beatriz Dias Pinto é doutora em Teologia e professora da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR).

Principais Manchetes

Receba nossas notícias NO CELULAR

WhatsappTelegram

WHATSAPP: As regras de privacidade dos grupos são definidas pelo WhatsApp. Ao entrar, seu número pode ser visto por outros integrantes do grupo.