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Usinas Angra 2 (à esquerda) e Angra 1 (menor, à direita), as duas únicas geradoras de energia nuclear no Brasil
Usinas Angra 2 (à esquerda) e Angra 1 (menor, à direita), as duas únicas geradoras de energia nuclear no Brasil| Foto: Saulo Cruz/Ministério de Minas e Energia

A busca por fontes de energia limpa e sustentável tem ganhado cada vez mais destaque em todo o mundo, especialmente diante dos desafios impostos pela mudança climática. Nesta linha, o Brasil tem um desafio, alcançar o “Net zero”, que é o compromisso de zerar as emissões de gases de efeito estufa na atmosfera a fim de frear o aquecimento global. Porém, a promessa se torna mais desafiadora quando o prazo estipulado é 2050. No Brasil, país reconhecido por sua matriz energética diversificada, as discussões sobre o papel da energia nuclear no contexto nacional têm se intensificado, e é sobre essas perspectivas que abordaremos neste artigo.

É preciso ressaltar a importância de desenvolver políticas que considerem a energia nuclear como uma estratégia fundamental para a descarbonização da indústria intensiva do Brasil. A energia nuclear destaca-se como uma fonte limpa, firme e escalável, proporcionando uma alternativa eficaz às fontes fósseis tradicionais. A descarbonização é um tema de grande relevância no contexto atual, em que a busca por fontes de energia limpa e sustentável se tornou uma prioridade global. O Brasil, que já se destaca por ter uma das matrizes elétricas mais limpas do mundo, com mais de 85% de sua energia proveniente de fontes renováveis, busca avançar ainda mais nesse caminho rumo à sustentabilidade.

O papel da energia nuclear, especialmente por meio dos pequenos reatores, pode ser determinante para o futuro energético do Brasil.

Podemos observar o crescente interesse global na construção de usinas nucleares, evidenciado pelos programas lançados por diversos países desde a COP26 em 2021. Plantas antigas estão sendo descomissionadas, enquanto novas adições significativas estão previstas, impulsionadas, em parte, pela crise energética recente. A França, um grande exemplo na corrida pela descarbonização, tem mostrado ao mundo como é possível transformar a matriz energética de forma eficiente e sustentável.

O levantamento da S&P Global, no início de 2023, indicou a previsão de cerca de 160 GW de novas capacidades nucleares até 2035, quase o dobro dos últimos 13 anos. No contexto brasileiro, destacamos o Plano Nacional de Energia 2050 (PNE 2050), que aponta a possibilidade de construir de 8 GW a 10 GW de usinas nucleares. Apesar do custo relativamente mais alto da energia nuclear, essa despesa é administrável, especialmente quando se considera o potencial de substituição da geração térmica fóssil a óleo, carvão e gás. A segurança no fornecimento de energia é uma vantagem intrínseca, uma vez que a geração nuclear não depende de condições climáticas, ao contrário das fontes renováveis.

Uma abordagem inovadora é a tecnologia dos pequenos reatores nucleares (SMRs), considerados a "nova grande sensação". Com capacidades variando de 50 MW a 300 MW, esses reatores têm custos substancialmente menores do que usinas nucleares convencionais. A certificação de fábrica e a produção em escala contribuem para a competitividade dessa solução.

No contexto brasileiro, a ABDAN está colaborando com o Complexo Jorge Lacerda, em Santa Catarina, em um projeto piloto para substituir térmicas a carvão por reatores nucleares. Os SMRs podem desempenhar um papel crucial na descarbonização da indústria, especialmente em setores como as grandes siderúrgicas, que enfrentam desafios significativos de poluição. Ao comparar os custos, enquanto uma usina como Angra 3, com 1,2 mil MW, custa cerca de US$ 5 bilhões, os SMRs, que são consideravelmente menores e mais ágeis, têm custos que giram em torno de US$ 500 milhões.

Para impulsionar essa transformação, é necessário realizar ajustes na legislação relacionada à autoprodução de energia, permitindo que o setor privado invista nessa tecnologia inovadora. Essa mudança na legislação seria um passo crucial para viabilizar investimentos privados e acelerar a transição para uma indústria mais verde e sustentável.

As perspectivas da energia nuclear no Brasil em 2024 parecem promissoras, com a crescente conscientização sobre a importância da descarbonização e a busca por fontes de energia confiáveis e limpas. O papel da energia nuclear, especialmente por meio dos pequenos reatores, pode ser determinante para o futuro energético do Brasil, oferecendo soluções inovadoras para os desafios contemporâneos.

Celso Cunha é presidente da Associação Brasileira de Desenvolvimento de Atividades Nucleares (ABDAN).

Conteúdo editado por:Jocelaine Santos
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