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| Foto: Elza Fiúza/ABr

A campanha eleitoral que definirá o próximo inquilino do Palácio do Planalto nem começou ainda, mas a temporada das pesquisas de intenção de voto já foi aberta. Quase toda semana algum instituto divulga uma pesquisa nova.

Muita gente duvida da confiabilidade das pesquisas. Vários alunos já me fizeram a clássica (e ingênua) objeção: “Professor, eu não acredito em pesquisas porque nunca fui entrevistado por nenhum instituto, e também não conheço ninguém que tenha sido”. Na verdade, é relativamente simples demonstrar que amostras aleatórias de 2 mil eleitores (ou até menos) podem ser um termômetro perfeitamente fiel – dentro de certos limites – das preferências eleitorais dos 150 milhões de brasileiros que votarão em outubro.

O grande problema das pesquisas que foram divulgadas até o momento é de outra natureza. E ele nada tem a ver com as teorias estatísticas subjacentes às pesquisas por amostragem. O problema é que ninguém sabe ainda quem realmente serão os candidatos a presidente. As convenções partidárias que escolherão formalmente os presidenciáveis ocorrerão entre 20 de julho e 5 de agosto. Até lá, nós podemos apenas supor quem serão os candidatos. Acertaremos em alguns casos, mas erraremos em muitos outros.

O problema é que ninguém sabe ainda quem realmente serão os candidatos a presidente

Vejam o exemplo do renomado instituto Datafolha, que já divulgou três pesquisas esse ano. Em janeiro, foram testados 12 nomes para presidente (em oito cenários diferentes): Lula, Jair Bolsonaro, Marina Silva, Ciro Gomes, Geraldo Alckmin, João Doria, Sergio Moro, Joaquim Barbosa, Luciana Genro, Ronaldo Caiado, Eduardo Jorge e Fernando Haddad. Na rodada de abril, foram testados 19 nomes (em nove cenários distintos): saíram Doria, Moro, Genro, Caiado e Jorge, mas entraram Michel Temer, Henrique Meirelles, Guilherme Afif Domingos, Alvaro Dias, Rodrigo Maia, Fernando Collor de Mello, João Amoêdo, Flávio Rocha, Paulo Rabello de Castro, Guilherme Boulos, Manuela d’Ávila e Jacques Wagner.

Finalmente, na rodada de junho, o Datafolha testou 21 nomes (em quatro cenários diferentes): saíram Temer e Barbosa, mas entraram Aldo Rebelo, João Goulart Filho, Josué Alencar e Levy Fidelix. No total, já foram testados 28 nomes nas três rodadas das pesquisas desse instituto. Mas alguém realmente acredita que haverá 20 ou 30 candidatos a presidente? É mais provável que sejam 10 ou 15, no máximo.

Assim, fica claro que pesquisas realizadas nesse momento do tempo não são boas preditoras do resultado das urnas. E isso não é culpa dos institutos. Falando mais genericamente, não é questão de ser possível ou impossível estimar resultados eleitorais com base em pesquisas. O problema é o calendário mesmo. O fato é que a eleição presidencial ainda é algo muito distante para a maioria dos eleitores brasileiros. E isso pode ser facilmente constatado se olharmos para o que as pesquisas dizem sobre a intenção de voto espontânea – aquela em que não se apresenta ao entrevistado nenhuma lista de possíveis candidatos.

Leia também: O presidente de que o Brasil precisa (artigo Edson José Ramon, publicado em 12 de junho de 2018)

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A pesquisa Datafolha de junho revelou que quase metade (46%) dos eleitores brasileiros ainda está indecisa, ou seja, é incapaz de declarar espontaneamente o nome de algum candidato. Por seu turno, outros 23% dos entrevistados ainda dizem que votarão em branco ou nulo. A conclusão inevitável é que, nesse momento, apenas um em cada quatro brasileiros já sabe em quem irá votar. A grande maioria (três em cada quatro ou, descontados os brancos e nulos, dois em cada três) ainda não sabe. Apesar disso, o que mais vemos por aí são análises apressadas que garantem que a eleição presidencial já estaria decidida.

Mas façamos uma suposição mais ousada. Digamos que já fosse possível saber com segurança os nomes de todos os candidatos a presidente. Mesmo nessa hipótese, as pesquisas ainda não seriam boas preditoras das urnas. E por uma razão muito simples: as campanhas eleitorais fazem muita diferença!

Uma eleição presidencial é como uma corrida de Fórmula 1. Os competidores bem posicionados no grid de largada não serão necessariamente os mesmos que cruzarão primeiro a linha de chegada. Entre uma coisa e outra há, por exemplo, a propaganda eleitoral na televisão e no rádio. E, sim, os meios de comunicação tradicionais ainda são mais decisivos que a internet e as redes sociais!

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O início efetivo da campanha eleitoral tem capacidade para alterar significativamente a correlação de forças entre candidatos e partidos. Estamos falando de recursos decisivos como tempo de propaganda eleitoral, recursos financeiros e capilaridade das máquinas partidárias nos municípios e estados da federação. Ao longo da campanha, as taxas de intenção de voto dos candidatos nas pesquisas acabam oscilando para cima ou para baixo, ao sabor das mudanças produzidas pelos fatores mencionados acima.

Por fim, vale lembrar que pesquisas de intenção de voto não são bolas de cristal. São retratos do presente, e não projeções do futuro. Os institutos não perguntam aos entrevistados em quem eles votarão no dia da eleição. Eles perguntam em quem eles votariam (no condicional, portanto) se a eleição fosse hoje.

As pesquisas eleitorais feitas antes do início das campanhas são ferramentas muito úteis para a leitura do quadro político. Mas devem ser interpretadas cuidadosamente. Elas revelam muito. Mas também escondem muito.

Rogério Schmitt é cientista político, professor universitário e consultor.
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