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Felipe Lima

A Petrobras, maior empresa nacional e responsável por metade dos investimentos públicos, é peça fundamental no tabuleiro da recessão brasileira. A empresa tem papel histórico na soberania energética, na inovação em prospecção e extração de petróleo e promove encadeamentos dinâmicos nos complexos industriais da petroquímica e metal-mecânica.

A crise econômica e política do Brasil reflete muito os desvios de gestão da Petrobras. Primeiro, a interferência política que a empresa sofreu para manter artificialmente os preços dos combustíveis entre 2011 e 2014, quando o preço do petróleo era negociado a mais de US$ 100/barril, corroeu a capacidade de gerar recursos próprios para investimentos. Essa política também foi prejudicial nas mudanças das regras de regulação que impuseram à Petrobras maiores custos e riscos na extração do pré-sal, nas elevadas margens de nacionalização das compras, além da prática de antecipar resultados ao Tesouro na “contabilidade criativa” do governo. A empresa foi indevidamente usada para atender aos objetivos da desastrosa matriz macroeconômica do governo Dilma, que ampliou sua fragilidade financeira e reduziu sua capacidade de investimento.

A crise econômica e política do Brasil reflete muito os desvios de gestão da Petrobras

Segundo, o uso da empresa para fins escusos, com os investimentos mais importantes – como a Refinaria do Nordeste, o Complexo Petroquímico do Rio, as Unidades Estacionárias de Produção do pré-sal, navios-sonda e até a modernização da Repar – desviados para favorecer grandes grupos nacionais, partidos do governo e patrimônios pessoais de políticos e dirigentes da estatal. Compras fraudulentas e controles afrouxados geraram um rombo superior à centena de bilhões de dólares. Os símbolos do descaso estão nos atrasos em cinco anos e orçamento nove vezes superior ao projetado na Refinaria Abreu e Lima, na desastrosa compra da Refinaria de Pasadena, vulgo “ruivinha”, e no uso indevido da empresa para fazer política de compadrio com governos de países aliados.

A corrupção entranhada na alta direção, revelada diariamente pela Lava Jato, representou um imenso custo na desconfiança do mercado, que repercutiu na piora de concessão de crédito e dificuldades de colocação de ações e debêntures, com a perda na avaliação de risco de “grau de investimento robusto” para “grau de especulação”. Também representou majoração no Capex dos investimentos, pelos desvios de finalidade e atrasos na construção e operação.

As reformas de gestão que estão em curso já mostram resultados na recuperação da eficiência e da probidade, ainda que signifiquem, no curto prazo, encolhimento de negócios e inversões. Elas visam restabelecer a governança na aprovação de novos projetos, o acompanhamento efetivo físico-financeiro na construção de refinarias e plataformas, no fim das relações de compadrio com fornecedores, da ingerência política na nomeação dos dirigentes e decisões de investimento. As novas práticas já repercutem na queda da dívida bruta e no grau de alavancagem, maior eficiência na Opex de refino e extração, redução do tempo de construção e interligação de poços e na prática de preços competitivos de combustíveis.

Recuperar a Petrobras, recolocando-a no seu papel estratégico de indutora do desenvolvimento, da competitividade e inovação, é o carro abre-alas para a saída da crise e retomada da soberania e crescimento do Brasil.

Wilhelm Milward Meiners, mestre em Desenvolvimento Econômico pela UFPR e economista da Secretaria de Planejamento de Curitiba, é professor e pesquisador do curso de Economia da PUCPR.
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