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Por que é difícil descobrir o que as universidades federais pensam sobre o Ensino à Distância
| Foto: BigStock

Aqui e acolá surgem notícias acerca da postura de universidades federais, ou de seus professores, quanto ao ensino à distância. Como indivíduos não têm condições de falar pela coletividade de professores ou pelas instituições em que trabalham, todo o ruído fica por conta de dois tipos de autoridade: os sindicatos docentes e as reitorias.

A confusão maior fica por parte dos sindicatos docentes. A Associação Nacional dos Docentes do Ensino Superior (ANDES), fundada em 1981, é o sindicato mais antigo dos professores de federais, e amiúde escreve seu nome como ANDES-SN, significando “SN” Sindicato Nacional. O sindicato ANDES já teve à sua presidência Roberto Leher, o reitor da UFRJ que culpou os bombeiros pelo incêndio do Museu Nacional. É filiado ao PSOL. Independentemente do sindicato ANDES, as federais brasileiras mais antigas às vezes tinham sindicatos locais ainda mais velhos.

Toda a política institucional universitária é atrelada a partidos de esquerda. O cidadão extramuros pode morrer sem saber que existem o PCO e o PSTU, mas esses partidos são muito ativos em disputas de grêmio estudantil e organizações sindicais. Quem olha de fora pode achar também que os esquerdistas são todos iguais e amam o PT.

Dentro da universidade, há os que acusam o PT de ser neoliberal de direita, e juram que só eles mesmos são da verdadeira esquerda, do lado certo da História. O próprio PSOL surgiu como uma facção que rompeu com o PT quando este fez uma reforma da previdência que reduzia os privilégios do funcionalismo. O PSOL é partido sindical de funcionário público; o PT gosta deles quando é oposição, e chuta-os quando é governo.

Sindicatos docentes não se reconhecem

Pois muito bem. Em 2006, no governo Lula, surgiu o PROIFES, “IFES” significando Instituições Federais de Ensino Superior, e o PRO é estético. No seu site, apresenta-se como “federação de sindicatos”. Alguns sindicatos locais pré-existentes escolheram filiar-se ao PROIFES.

Que fez o ANDES? O mesmo que o governo da Coreia do Norte. Assim como Pionguiangue não admite a existência da Coreia do Sul, o ANDES não admite a existência do PROIFES. Durante os governos do PT, a turma do ANDES acusava o PROIFES de pelego, e a do PROIFES, ligado à CUT, acusava o ANDES de sectário e inconsequente. Ou seja: o sindicato antigo é psolista e o sindicato novo é petista.

Se o cidadão quiser saber qual a posição dos docentes da sua federal, que fazer? No caso do Paraná, é relativamente fácil, porque a Associação dos Professores da UFPR (APUFPR) se enxerga como uma seção do ANDES. Logo, o que o ANDES decide é a decisão dos docentes sindicalizados da UFPR.

O que a ANDES decide? Aqui, quem apostar no radicalismo, acerta. Seu boletim mais recente, de junho, trata do fascismo, da Amazônia e dos males do mundo.

(Um parêntese: quando eu estava na graduação, encontrei na parede cartazes de eleição estudantil que pediam mais casas de xerox e a retirada das tropas do Haiti. Política universitária é assim: os doidinhos acham que têm que resolver preço de xerox e os problemas mundiais.)

No boletim de maio, encontramos uma opinião sobre esse problema tão óbvio que é o calendário escolar, afetado pela covid. A capa já traz um cartum sindical mostrando um menino negro perguntando: “Professor… O que podemos fazer para salvar a natureza?”. Ao que um computador, em vez de um professor, responde: “Esta máquina não está programada para esse tipo de resposta!” Abaixo, um letreiro: “EAD: Governo desconsidera a sobrecarga já existente e intensificada que docentes e estudantes enfrentam durante a pandemia.” Mais adiante a matéria diz que EAD (sigla de ensino a distância, nome novo de curso por correspondência) é uma coisa muito séria, que isso que o governo faz é um arremedo e fere os direitos dos estudantes e professores.

Ou seja, o ANDES é contra e acha que tem que ficar todo mundo parado. Logo, as federais cujos sindicatos docentes reconhecem apenas o ANDES são aquelas cujos professores politicamente ativos querem receber sem trabalhar até aparecer uma vacina. Ou, inversamente, as federais cujos professores devem estar sob influência do ANDES.

No site do PROIFES não encontramos nenhuma posição fechada. Isso quer dizer que provavelmente trata o problema do calendário como administrativo, e não sindical.

O sindicato dos reitores

Se a universidade tiver a felicidade de estar afastada do ANDES, quer dizer que os atores político-partidários são os sindicatos locais e o sindicato dos reitores, chamado ANDIFES, ou Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior. Não só existe, como tem 30 anos. Foi essa a associação que organizou um manifesto de reitores em apoio à reeleição de Dilma Rousseff, logo, não é nenhum arroubo especulativo dizer que era um sindicato pelego, e que é um sindicato petista.

Dentro da política universitária graúda, se encontrar um petista, abrace. É o grão de sanidade que há. É ruim, mas não delira. No site do ANDIFES, os reitores se esforçam para mostrar serviço, alegando que as universidades fazem mil coisas úteis nesta pandemia, e expõem as medidas que algumas federais estão tomando para voltar a funcionar.

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