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| Foto: Jonathan Campos/Gazeta do Povo

Segundo notícia recente, dados do governo mostram que, de 2010 pra cá, quase metade dos estudantes universitários não conclui o curso iniciado. Nas faculdades públicas, a média de evasão é de 40% e nas particulares, o porcentual é de aproximadamente 50%. Dentre as principais causas apontadas está a falta de vocação em relação à área de estudo escolhida e o pouco preparo do aluno, ainda no ensino médio. Uma outra parcela desiste por motivações financeiras, em especial nas faculdades particulares. Ou seja, os estudantes desistem porque não conseguem arcar com os custos.

Entretando, estes dados não são novidade, para não dizer que sempre foi assim no Brasil! Temos esses mesmos indicadores há mais de 20 anos, ou pelo menos desde a ampliação do acesso à educação superior. Somente não era assim quando o ensino superior no Brasil era para muito poucos, então o abandono era menor.

É importante observar que as causas não são tão simples como as apontadas. Não se pode simplesmente responsabilizar as escolas pela falta de preparo vocacional do aluno, tampouco as instituições de ensino superior, culpando-as pela evasão. Mas é preciso que se analise e que se discuta a educação e o processo de formação deste estudante de maneira mais ampla.

Não se pode simplesmente responsabilizar as escolas pela falta de preparo vocacional do aluno

O papel da preparação do aluno para a escolha do curso superior que irá cursar é, em parte, também da escola. Mas ela não é a única responsável pelo processo de formação deste aluno e pelo desenvolvimento da identidade e da cidadania desses jovens. E este processo é fundamental para o amadurecimento das escolhas dos estudantes que deixam o ensino médio.

Além disso, vivemos em uma sociedade que ainda tem características muito paternalistas, com uma visão distorcida do papel do aluno no processo de ensino/aprendizagem. Responsabilizamos sempre as instituições pelo desempenho dos estudantes, mas cobramos pouco deles. Nesse sentido, seguimos formando uma juventude imatura, com noções de comprometimento e responsabilidade cada vez mais deficientes.

Portanto, a escola pode, sim, se tornar um agente de transformação para formação de nossos jovens. A escola tem, sim, um papel importante na preparação do estudante para a escolha da faculdade que deseja cursar. Mas essa não é responsabilidade única e exclusiva da escola durante o ensino médio. Este deve ser um processo que começa ainda na educação básica, com a participação das famílias e da sociedade no desenvolvimento deste futuro cidadão.

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Leia também: Ensino médio: entre a utopia e o pragmatismo (artigo de Fabrício Maoski, publicado em 17 de fevereiro de 2017)

Outro ponto importante é que a preparação destes jovens não pode focar exclusivamente a busca por um diploma de nível superior e pelo emprego dos sonhos. Temos de ampliar os horizontes desses jovens, mostrando de forma realista as alternativas e oportunidades que mais se aproximam da vocação, das necessidades e dos desejos destes estudantes.

Não sabemos valorizar a formação técnica, e também não orientamos nossos jovens a se prepararem para o mundo do trabalho, ou para o empreendedorismo, por exemplo. E quanto mais distantes do que encontrarão na prática, e da realidade que irão enfrentar, maiores serão as chances de frustração e, consequentemente, da desistência desses estudantes durante a formação superior.

Portanto, são inúmeros os fatores implicados na evasão dos universitários e na desistência do curso superior. Não podemos considerar meramente causas pontuais, mas há de se avaliar todo o processo de formação do estudante, desde a educação básica no Brasil ao longo dos anos. É preciso reconhecer que a educação brasileira, como um todo, ainda tem um longo caminho pela frente.

Ademar Batista Pereira é presidente da Federação Nacional das Escolas Particulares (Fenep).
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