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Por que o Brasil deve explorar mais petróleo e outros combustíveis fósseis

Imagem ilustrativa. (Foto: Antonio Lacerda/EFE)

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Afirmações como "precisamos parar de usar combustíveis fósseis pelo bem do planeta", "a transição energética é urgente" e "extrair petróleo e carvão é uma ameaça à vida na Terra" são recorrentes em debates atuais sobre energia e clima. Embora amplamente aceitas em diversos meios, essas proposições raramente são submetidas a uma análise crítica fundamentada e podem estar longe da verdade. O acesso à energia é um fator essencial para o desenvolvimento econômico e social. Há uma correlação direta entre consumo de eletricidade e qualidade de vida. Segundo estimativas da Agência Internacional de Energia (IEA), cerca de um terço da população mundial ainda utiliza biomassa tradicional, como lenha e esterco, para aquecimento e preparo de alimentos – um indicador claro de pobreza energética.

O Banco Mundial identifica o aumento dos custos de energia como um dos principais fatores de risco para a insegurança alimentar. Quando a energia se torna mais cara, os custos de produção, transporte e conservação de alimentos também aumentam. A revista The Lancet aponta que aproximadamente 8,5% das mortes globais anuais estão associadas à exposição ao frio, muitas vezes devido à falta de acesso a aquecimento adequado. Energia inacessível significa, portanto, aumento da mortalidade por fome e frio.

O petróleo e os combustíveis fósseis sustentam a infraestrutura que salva vidas e promovem o progresso humano. Abandoná-los prematuramente é comprometer a dignidade e a segurança de bilhões de pessoas

Os combustíveis fósseis – carvão, petróleo e gás natural – respondem por mais de 80% da matriz energética mundial. Essa predominância não é fruto do acaso, mas da confiabilidade, densidade energética e baixo custo dessas fontes. Foram elas que sustentaram a Revolução Industrial e viabilizaram avanços significativos em infraestrutura, saúde, saneamento e mobilidade. Diferentemente de fontes intermitentes como a solar e a eólica, combustíveis fósseis estão disponíveis em qualquer condição climática, garantindo estabilidade ao sistema elétrico. Além disso, são fundamentais para diversos setores industriais, como a produção de plásticos, fertilizantes, produtos químicos e medicamentos.

Deixando de lado, por ora, as particularidades nacionais e os fatores geopolíticos, a crítica aos combustíveis fósseis costuma se apoiar em dois argumentos centrais: (1) vão acabar e (2) emitem gases de efeito estufa, contribuindo para o aquecimento global. Ambos carecem de uma análise criteriosa, livre de alarmismo e fundamentada em dados concretos. Em 1980, o Energy Institute estimava que as reservas conhecidas de petróleo durariam até 2010. Em 2024, a previsão foi atualizada para 2074. Isso não se deve a erro de cálculo, mas ao fato de que novas reservas continuam sendo descobertas em ritmo crescente. Um exemplo recente é a margem equatorial brasileira, que pode praticamente duplicar a capacidade nacional de produção.

Estudos da U.S. Energy Information Administration (EIA) indicam que as perdas no processo de geração, transmissão e distribuição de eletricidade a partir de fontes fósseis como o petróleo, chegam a 65% nos EUA. Esse número, mais elevado em países em desenvolvimento, também revela o potencial de aumento de eficiência e um alongamento ainda maior da durabilidade das reservas. Além disso, o avanço tecnológico tende a tornar viáveis fontes alternativas como fissão nuclear, energia geotérmica, das marés e hidrogênio verde. Quando essas opções se tornarem competitivas, a substituição do petróleo e outros combustíveis fósseis ocorrerá de forma natural, via mercado, sem necessidade de imposições estatais e subsídios onerosos aos contribuintes.

Em síntese, o esgotamento das reservas fósseis como as de petróleo permanece uma hipótese remota – e, se ocorrer, será precedido por soluções econômicas e tecnológicas, não por alarmismo ou coerção estatal. De fato, a maioria dos estudos científicos conclui que gases de efeito estufa contribuem para o aumento da temperatura global, e os combustíveis fósseis representam cerca de 56% das emissões por fontes humanas. Mas o impacto quantitativo dessa contribuição deve ser colocado em perspectiva.

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Segundo dados das agências Hadley Centre (Reino Unido), NASA e NOAA (EUA), a temperatura média global aumentou apenas 1,0 ºC em quase 200 anos e apenas uma fração desse aumento poderia ser atribuída aos combustíveis fósseis. Além disso, o aquecimento tem sido mais intenso em regiões de altas latitudes, durante o inverno e à noite – fatores que, paradoxalmente, podem beneficiar populações vulneráveis ao frio.

Um estudo publicado pela revista The Lancet em 2019 aponta que, nas últimas décadas, a redução de mortes causadas por frio superou em 2,4 vezes o aumento das mortes por calor. Enquanto o frio é responsável por cerca de 8,5% da mortalidade global, o calor responde por menos de 1%. Os dados sugerem que o aquecimento observado pode estar longe de representar uma catástrofe iminente – e, sob a ótica da vida humana, pode inclusive ter efeitos benéficos.

Outro ponto frequentemente negligenciado é que os combustíveis fósseis são a base da infraestrutura que protege vidas humanas. Segundo o banco de dados EM-DAT, mantido pela Universidade de Louvain (Bélgica), as mortes por desastres naturais caíram mais de 90% no último século. Isso se deve, em grande medida, à capacidade de antecipação, reação e adaptação – todas sustentadas por energia confiável. Sistemas de irrigação, aquecimento, refrigeração, transporte de alimentos e construção civil são direta ou indiretamente dependentes de combustíveis fósseis. São eles que mantêm cidades operando diante de eventos extremos e, tendo como requisito a confiabilidade, não podem ser substituídos por fontes solares e eólicas.

É também importante considerar que o controle humano sobre o clima é extremamente limitado quando consideramos os grandes fatores naturais que influenciam o sistema climático da Terra: a radiação solar; o calor geotérmico e o vulcanismo; o campo magnético terrestre e os raios cósmicos; os ciclos orbitais (Ciclos de Milankovitch); as correntes oceânicas e sua interação com a atmosfera. A ideia de que podemos "estabilizar o clima" com metas de carbono é uma fantasia cientificamente frágil, mas politicamente conveniente.

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A agenda de transição energética imposta por organismos internacionais e governos centrais beneficia determinados atores. A China, por exemplo, lidera a produção de painéis solares, turbinas e baterias, setores fortemente promovidos por subsídios ocidentais. Paralelamente, o país expande seu uso de carvão e é hoje o maior emissor mundial. Burocracias governamentais ampliam sua influência por meio de regulações, impostos e subsídios. Grandes corporações do setor de energia "limpa" ganham mercados garantidos por mandatos legais. ONGs ambientais e grupos de pressão também conquistam poder e financiamento.

Por outro lado, os principais prejudicados são os mais pobres. Famílias de baixa renda, que comprometem parte significativa da renda com energia, são afetadas por aumentos de preços. Países em desenvolvimento veem seu crescimento freado pela dependência de fontes intermitentes e caras. A chamada "justiça climática" acaba se traduzindo, na prática, em injustiça econômica. A atual transição não é guiada pelo mercado, mas por decisões políticas que desconsideram os custos sociais e econômicos. Reduzir a produção de energia com combustíveis fósseis sem alternativas vantajosas economicamente é penalizar as futuras gerações com energia mais cara e instável e ônus decorrente de subsídios.

A liberdade energética é o caminho mais eficaz e justo para permitir que tecnologias alternativas se desenvolvam e, eventualmente, se tornem competitivas. Trata-se de uma questão moral e prática. O petróleo e os combustíveis fósseis sustentam a infraestrutura que salva vidas e promovem o progresso humano. Abandoná-los prematuramente é comprometer a dignidade e a segurança de bilhões de pessoas, sem qualquer garantia de alteração significativa no clima global.

Dimitrios Elias Grintzos é engenheiro civil e filósofo.

Conteúdo editado por: Jocelaine Santos

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