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Devido aos acidentes de Chernobyl e Fukushima, além dos custos e das dores de cabeça causados pelo desperdício, a energia nuclear tem sido uma fonte desacreditada, e poucos países estão dispostos a confiar nela.
Seu descrédito, no entanto, parece estar próximo do fim, mesmo nos lugares onde seu declínio era mais compreensível — o Japão, por exemplo. Após o desastre de 2011, há dois anos o país aprovou uma regulamentação que estende o uso de usinas nucleares para além de 60 anos. Hoje, conta com 12 reatores em funcionamento, além de outros dois em construção.
Na Europa, Bélgica e Suíça suspenderam o fechamento de suas instalações nucleares, tendo se aliado à Alemanha apenas alguns anos antes. Após o acidente no Japão, a Alemanha, assim como a Espanha, decretou o fechamento de todos os seus reatores.
O novo governo alemão, embora não tenha revogado a lei de Merkel, deu um passo significativo ao suavizar sua posição em relação à energia nuclear, não se recusando mais a considerá-la uma fonte sustentável.
A Finlândia concluiu o reator mais potente da Europa em 2023, e a Suécia, tradicionalmente cética, anunciou a construção de 10 novos reatores. Uma mudança semelhante ocorreu na Itália.
Febre nuclear
Os Estados Unidos são outro país que vivenciam um interesse renovado pela energia nuclear. Trump, que não é exatamente um defensor das energias renováveis, já aprovou uma lei que concede incentivos fiscais a projetos nessa área.
E a China? Segundo dados do Global Energy Monitor, o gigante asiático foi o que mais ampliou sua capacidade de energia nuclear nos últimos anos. Atualmente, possui 55 usinas, uma a menos que a França e 38 a menos que os Estados Unidos.
Pode-se pensar que essa febre nuclear é motivada pela necessidade. É evidente que, do ponto de vista da produção, atender à demanda energética apenas com fontes renováveis é inviável. De fato, a proibição de fontes poluentes, como o carvão, também levou ao colapso de antigas reservas em relação aos reatores entre ambientalistas.
Ao interesse geopolítico em expandir a energia nuclear soma-se o interesse econômico, tanto por parte dos Estados quanto de grandes empresas de tecnologia
Na Alemanha e na Inglaterra, há uma longa tradição de ativismo antinuclear. Nas décadas de 1960 e 1970, tumultos eram comuns nas áreas onde as usinas eram planejadas. Marilynne Robinson, famosa autora de Gilead, dedicou seu primeiro ensaio (Mother Country: Britain, The Welfare State and Nuclear Pollution, publicado em 1989) à investigação dos efeitos da radiação sobre as populações próximas às usinas inglesas.
Nestes e em outros países, proliferam ONGs que combinam proteção ambiental com a defesa da energia nuclear. Elas são responsáveis por informar que o impacto da radiação é mínimo, medido e controlado.
Figuras importantes da luta ambiental apontam que o apagão nuclear torna impossível o abandono do carvão. Como afirma Guillem Sanchís, fundador da Econucleares, plataforma ambiental favorável às usinas nucleares, a energia nuclear “ocupa muito pouco espaço, é limpa e segura”.
Geoestratégia, mas não só
Segundo a revista The Economist, a energia nuclear permite que os países gerem eletricidade de forma massiva, segura e independente. Tanto os Estados Unidos quanto a Europa apresentaram planos para multiplicar sua capacidade energética.
Os primeiros querem atingir 400 gigawatts de produção até 2050; a Europa, mais realista, estabeleceu a meta de aumentar os atuais 100 gigawatts para 150 até a mesma data. Ao mesmo tempo, após a crise na Ucrânia, tornou-se claro que a dependência do gás russo constitui uma fraqueza estratégica.
Somando-se a essa urgência política, está o interesse de grandes empresas de tecnologia em garantir um fornecimento de energia estável e limpo. Nos Estados Unidos, operadores privados já compraram usinas nucleares, e startups estão investindo na construção de novas instalações ou em projetos de inovação.
Estima-se que os pequenos reatores modulares (SMRs), mais fáceis de gerenciar e transportar, já tenham arrecadado US$ 2 bilhões nos Estados Unidos. O modelo ainda não foi comercializado, mas especialistas acreditam que seja promissor.
Outras empresas de tecnologia estão investindo na fusão nuclear, ainda em fase inicial, que supostamente geraria energia limpa ilimitada. Google, Meta e Microsoft estão entre as companhias interessadas nesses desenvolvimentos.
Modelos escaláveis
Junto com os avanços técnicos, a energia nuclear também ganhou novo apelo devido ao potencial de menores custos de construção e manutenção. Por enquanto, mesmo com os SMRs, ela é mais cara do que a energia convencional, mas algumas tendências sugerem uma mudança nesse cenário.
China e Coreia do Sul estão entre os países que aprimoram a construção de reatores com orçamentos mais apertados. Ao padronizar os modelos, reduziram significativamente o tempo de construção de novas usinas. Do ponto de vista financeiro, estão sendo formados grupos empresariais para ajudar a lançar projetos e compartilhar riscos com a indústria nuclear.
De qualquer forma, o futuro da energia nuclear dependerá do envolvimento das autoridades públicas. Não se trata apenas de construir usinas; são necessários planos nacionais de longo prazo, investimentos massivos, mão de obra qualificada, entre outros fatores.
Além disso, atualmente existem muitos obstáculos burocráticos, e os processos de aprovação de projetos são extremamente complexos. A questão é se a simplificação desses processos pode ser prejudicial, comprometendo a segurança e a qualidade das usinas.
©2025 Aceprensa. Publicado com permissão. Original em espanhol: El renovado interés por la energía nuclear



