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Por que precisamos investir na redução da evasão escolar e do analfabetismo

Imagem ilustrativa. (Foto: Unsplash)

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O caso do influenciador Luva de Pedreiro obteve repercussão nacional porque o rapaz de 20 anos assinou um contrato sem ler, não por imprudência, mas porque seria analfabeto. Em pleno 2022 essa história deveria ser exceção. Mas a evasão escolar e o analfabetismo – incluindo o chamado analfabetismo funcional, onde, mesmo sabendo ler, a pessoa tem dificuldade em entender e interpretar textos – continuam a ser fatores preocupantes para o Brasil, pois pouco se avançou nesse quesito mesmo após a abertura política do regime militar.

Foi em janeiro de 1964 que o presidente Jango lançou o Programa Nacional de Alfabetização, que deveria atingir todo o país e erradicar o analfabetismo em nosso território, orientado pela proposta pedagógica e método de alfabetização de Paulo Freire. Não durou sequer quatro meses. Logo no começo de abril, o projeto de alfabetização popular foi interrompido pelo golpe militar e substituído pelo Movimento Brasileiro de Alfabetização (Mobral).

Metade da população adulta do país ainda não concluiu o ensino médio. E dessa parcela, 33,1% não terminou nem o ensino fundamental

A ineficiência do Mobral foi comprovada pelos resultados do Censo de 1980, que revelaram o aumento de 540 mil pessoas no número absoluto de analfabetos de 15 anos e mais no decênio 1970-1980.  Além disso, as taxas de evasão e de regressão ao analfabetismo eram muito altas. De lá para cá, pouca coisa mudou.

Dados do IBGE indicam que a proporção de pessoas de 25 anos ou mais que finalizaram a educação básica obrigatória, ou seja, concluíram, no mínimo, o ensino médio, foi de 48,8% em 2019. Em outras palavras, metade da população adulta do país ainda não concluiu o ensino médio. E dessa parcela, 33,1% não terminou nem o ensino fundamental.

Por isso, seja lá qual for o candidato eleito, o plano de governo precisa obrigatoriamente destacar políticas públicas para retomada de um projeto soberano de educação e isso, sem dúvida, passa pelo fortalecimento do Exame Nacional para Certificação de Competência de Jovens e Adultos, o Encceja, marcado este ano para 28 de agosto. Trata-se de oportunidade importante ao público que não completou o ensino fundamental ou médio na idade adequada. A prova aplicada pelo Instituto Anísio Teixeira (Inep) é a chance de obter um certificado de conclusão de escolaridade, vencendo uma das barreiras da exclusão ao mercado de trabalho e, por que não, ao ensino superior.

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Cabe destacar algumas ações da iniciativa privada para ajudar quem deseja concluir esses níveis de ensino. Para citar dois exemplos temos o iFood e a Natura, que por meio da Descomplica, uma startup de educação, não só incentivam que seus colaboradores realizem o Encceja, mas oferecem cursos preparatórios para o exame. Ganha a empresa que qualifica mão de obra, ganha a sociedade em desenvolvimento educacional e socioeconômico.

Vale lembrar que estudantes que abandonam a escola costumam ter baixa autoestima, o que dificulta as suas relações pessoais e também profissionais. Entrar no mercado de trabalho torna-se mais difícil, além do que a qualidade dos serviços prestados é nivelada por baixo, tal como a sua remuneração. E concluir o ensino médio traz mais oportunidades de desenvolvimento humano, além de despertar sonhos e recomeços, em especial para pessoas em situação de maior vulnerabilidade e que deixaram a escola.

César Silva é especialista em gestão educacional e presidente da Fundação FAT.

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