• Carregando...
 | Daniel Castellano/Gazeta do Povo
| Foto: Daniel Castellano/Gazeta do Povo

Quem acompanha a agenda pública sabe: o Ministério do Trabalho calcula que a Previdência Social terminará o ano com um déficit de R$ 133 bilhões, valor que ultrapassa 2% do Produto Interno Bruto (PIB). Ainda segundo o ministério, se nada for feito, o rombo pode chegar a R$ 200 bilhões nos próximos quatro anos.

Esse déficit não representa apenas uma ameaça de que no futuro a Previdência não consiga bancar as aposentadorias. O caixa negativo é um problema grave no presente, pois, para cobrir a conta da Previdência, o Estado deixa de fazer investimentos em áreas vitais para o desenvolvimento social. No fim dos anos 80, as despesas do Brasil com a Previdência giravam em torno de 2,5% do PIB. Hoje, o gasto triplicou e consome 8% do PIB. Além do custo direto, o cenário de dívida previdenciária crescente também emperra a arrecadação por afastar o interesse de investidores que procuram ambientes estáveis e seguros para aplicar seu dinheiro.

Se queremos reverter o quadro agudo do desemprego – que, segundo o IBGE, atualmente afeta 11,6 milhões de brasileiros –, precisamos ajustar as contas para ganhar credibilidade mundo afora. E a reforma da Previdência é parte desse esforço. A proposta do governo federal prevê a revisão das pensões, mas o maior impacto está mesmo no aumento do tempo de contribuição com a fixação da idade mínima, provavelmente 65 anos tanto para homens quanto para mulheres – cenário adotado em muitos países.

Somos, em geral, pouco afeitos à poupança

São medidas duras, especialmente para quem entrou mais cedo no mercado de trabalho. Esse novo pacto social, contudo, parece inevitável se olharmos o cenário conjuntural, com a crise, e também se observarmos a tendência demográfica a indicar o aumento da expectativa de vida. Vamos viver mais. A responsabilidade correspondente a essa ótima notícia é que precisamos produzir mais.

Para o país, o saldo positivo dessa e de outras reformas é o aumento da confiança que tende a fazer do Brasil um ambiente mais atraente para investidores. Mas há também um aspecto mais pessoal que não pode ser esquecido: temos de mudar nossa maneira de organizar as finanças e aumentar nosso foco no futuro.

Há duas décadas temos vivido sob a égide da estabilização monetária e, apesar disso, a cultura herdada dos tempos de hiperinflação ainda prevalece. Somos, em geral, pouco afeitos à poupança. Felizmente, porém, já não vivemos tempos de remarcação contínua de preços nos supermercados, prática que nos fazia ter pressa em trocar nosso dinheiro por mercadorias.

O quadro agora é de estabilidade consolidada e de ajustes nos benefícios sociais como caminho para um cenário de crescimento econômico. Diante dessa nova ordem, é tarefa de cada um de nós pensar no futuro. A escolha de investimentos é muito pessoal e deve ser feita de acordo com o perfil de cada um.

É na constância que está a chave de um planejamento financeiro para o futuro. Particularmente, destaco a opção pelos modelos de previdência fechada, que nos ajudam a desenvolver o hábito de poupar. A prestação de contas transparente, outra vantagem desse modelo, ajuda a afastar os temores de má gestão financeira.

Na vida é sempre tempo de aprender. Que as turbulências da economia e as consequências das reformas nos ensinem a aproveitar o presente sem negligenciar os dias que virão. Fundamental é ter consciência de que um futuro tranquilo passa pelo hábito de planejar e poupar. Tal qual na fábula, a felicidade de uma vida de cigarra é efêmera. Sejamos formigas!

Edwin Schossland é presidente do Conselho de Administração da Unicred União.
0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]