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Imagem ilustrativa.| Foto: Unsplash

Embora não tenha sido um tema recorrente nas campanhas eleitorais, é premente uma política estratégica para garantir a produção de energia para atender à expansão demográfica e ao crescimento da economia nacional, de modo harmonioso com o meio ambiente e os preceitos de sustentabilidade. Por isso, é imprescindível que o presidente da República, governadores, senadores, deputados federais e estaduais a serem empossados em janeiro próximo tenham absoluta consciência sobre a questão e encarem o desafio de incentivar a produção e o uso de energias renováveis com uma das prioridades de seus mandatos.

Os números são taxativos quanto à premência de se ampliarem as fontes renováveis na composição da matriz energética brasileira. O Operador Nacional do Setor Elétrico (ONS), a Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) e a Empresa de Pesquisa Energética (EPE) acabaram de divulgar os dados da 2ª Revisão Quadrimestral das Previsões de Carga para o Planejamento Anual da Operação Energética 2022-2026. Este ano, o aumento previsto é de 2% na carga, atingindo 70.948 megawatts médios, considerando um incremento do Produto Interno Bruto (PIB) de 1,9%. De 2022 a 2026, a previsão é de um crescimento médio anual da carga de 3,4%, atingindo 81.032 megawatts médios ao final do período.

A demanda poderá ser ainda maior se a indústria de transformação do país retomar patamares de produção similares ao do seu melhor momento, em 1985, quando o peso do setor manufatureiro chegou a 21,6% do PIB. Os dados mais recentes, de 2021, apontam que hoje a participação é de apenas 11,3%. Se isso ocorrer, sem que se aumente a oferta de energia, é imenso o risco de vermos fábricas paradas, quedas do sistema elétrico provocadas por sobrecarga e a volta dos apagões. Por isso, o investimento em energias renováveis é fundamental.

É urgente diversificar a matriz energética. Não há mais como expandir as hidrelétricas, que dependem das chuvas e cuja capacidade de exploração já está praticamente esgotada. As fontes não renováveis, como petróleo e carvão, assim como a alternativa nuclear, estão devidamente proscritas pelas convenções do clima e o Acordo de Paris, conforme deverá ser reiterado de modo enfático na COP 27, de 6 a 18 de novembro próximo, no Egito.

Dessa forma, o Brasil precisa ampliar rapidamente a produção de energia eólica e solar térmica e fotovoltaica, e outras energias renováveis que, embora ainda incipientes ante a demanda, já integram oficialmente a matriz energética. Incentivar mais a utilização da energia termossolar é outra medida urgente. É inexplicável que isso venha sendo relegado até hoje pelos governantes. Trata-se de uma questão que precisa entrar de imediato na pauta dos que serão empossados em janeiro próximo.

Para que se entenda melhor a questão, o parque já instalado de aquecedores solares no país soma volume de energia equivalente à produzida pela Usina Hidrelétrica de Itaipu, de aproximadamente 14 gigawatts. Sua expansão e uso mais amplo nas empresas e lares representaria um grande avanço em termos de autossuficiência energética. Entretanto, têm recebido poucos incentivos dos governos. Poderiam, por exemplo, ser mais utilizados em projetos habitacionais do setor público e ter sua aplicação mais difundida nas casas, indústria, comércio, hospitais, hotéis e outros empreendimentos.

O sistema termossolar absorve os raios do Sol para aquecer grande volume de água, mantido por vários dias em um ou mais reservatórios térmicos, que funcionam como uma espécie de bateria de armazenamento. Os equipamentos têm durabilidade superior a 30 anos e geralmente só exigem uma limpeza a cada 12 meses. É uma tecnologia nacional, que gera empregos, renda e investimentos e contribui muito para a solução dos desafios energéticos.

Num país como o nosso, com luz solar o ano inteiro, em todo o seu território, o sistema é alternativa concreta, segura e viável para ampliar o uso de energias renováveis. Atende a uma grande parcela da demanda energética, a partir de uma fonte perene, limpa e sustentável. Proporciona ganhos econômicos e ambientais significativos.

Os aquecedores solares de água são quatro vezes mais eficientes do que os painéis fotovoltaicos e a melhor alternativa para substituir, por exemplo, os chuveiros elétricos, que sobrecarregam muito o sistema no horário de ponta (entre 17 e 21 horas), representando mais de 7% de toda a eletricidade gasta no Brasil e cerca de 37% da residencial. Outra vantagem é que, ao contrário da energia solar fotovoltaica destinada à geração de eletricidade, os sistemas termossolares não são ligados à rede elétrica e, portanto, não impactam a conta de luz. Ademais, proporcionam redução expressiva da conta de luz das famílias e empresas.

Há grande expectativa dos setores produtivos e de toda a sociedade de que o PIB volte a crescer de modo mais expressivo a partir de 2023. Para que isso aconteça, porém, será necessário que a energia humana que move a inesgotável esperança dos brasileiros ilumine a mente dos novos governantes e parlamentares quanto à premência de fontes renováveis e limpas para dar sustentação ao fomento econômico e à trilha do desenvolvimento.

Luiz Antônio dos Santos Pinto é presidente da Abrasol (Associação Brasileira de Energia Solar Térmica).

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