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Jorge Caldeira

Quando faltavam estradas ao Paraná, havia as notícias da Gazeta do Povo

Mapa da Província do Paraná, em 1881. (Foto: Acervo histórico/Instituto Água e Terra)

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O valor histórico das coleções de jornais é mais relativo na presença de fontes alternativas de documentação – que são tanto maiores quanto mais longo é o período coberto. A história das regiões mais antigas do Brasil vem do século XVI. Embora Paranaguá seja desse tempo e Curitiba, do século XVII, a organização do poder regional, inicialmente como província, é de 1853. Só a partir dessa data começou a formação de documentação oficial nesse nível, juntada no Arquivo Público.

O tempo menor não é o único fator relevante. No momento em que a Gazeta do Povo começou a ser publicada, o censo de 1920 contou uma população de 685 mil habitantes no estado, distribuídos por apenas 13 municípios. Hoje, são 11,9 milhões de pessoas em 399 municípios. Para o caso da região norte do estado, a diferença era muito mais pronunciada. Um século atrás, nos 500 quilômetros que separam Jacarezinho de Guaíra, havia apenas um núcleo urbano: o da atual Jataizinho.

As comunicações entre as partes do estado eram muito precárias. Jacarezinho ficava a pouco mais de uma dezena de quilômetros da Estrada de Ferro Sorocabana e a 400 quilômetros, sem estradas diretas, de Curitiba – de modo que era muito mais fácil fazer negócios e viagens via São Paulo do que com a capital do estado. Mesmo para ir de Curitiba a São Paulo havia a alternativa viável de pegar trem para Morretes, navio para Santos e trem para a capital paulista – li ao menos duas boas descrições do trajeto ao consultar a coleção digitalizada do jornal.

Antes das estradas, trafegavam as notícias

Com esta menção, chego ao ponto. Ajudar a desenvolver as ferramentas de busca do site Memória Paraná trouxe para mim muito conhecimento novo. Claro, boa parte disso deve ser creditada ao fato de que sou de fora. Mas, por outro lado, tenho um ponto: coleções de jornais são instrumento de trabalho antigo para mim. Editei o volume organizado por meu saudoso amigo Sergio Goes de Paula, com a obra de Hipólito da Costa no Correio Braziliense, fundado em 1808. Consultei todas as edições do Jornal do Commercio necessárias para escrever a biografia de Mauá, entre 1822 e 1889. Convivi anos com uma coleção digital não indexada de O Estado de S. Paulo para escrever a biografia de Júlio Mesquita (1862–1927). Leio jornais desde criança; trabalhei décadas como jornalista.

Tudo isso não está aqui senão para dizer: embora não seja paranaense, creio ter tido uma experiência com a Gazeta do Povo que pode ser comentada a partir de comparações com outras semelhantes em outras realidades brasileiras. E ela veio filtrada por ferramentas de busca que iam revelando, de uma maneira muito peculiar, a hercúlea tarefa que era para um jornal de Curitiba cobrir um estado com fluxos físicos e econômicos ainda pouco integrados.

Antes das estradas, trafegavam as notícias. Do modo possível, o jornal noticiava a vida de núcleos urbanos que ainda nem eram distritos; falava das pessoas quando viviam em quase acampamentos, onde logo haveria produção. Levava as notícias da administração estadual e os projetos de integração, como o do paranismo, antes mesmo que picadas fossem abertas. Criava um senso de unidade e civilização na nascente da atual economia integrada e pujante.

Todo esse esforço de união foi lentamente desintegrado pelos limites de consulta à coleção de papel do jornal. Ao aceitar o desafio de procurar a Gazeta do Povo para fazer o projeto, a Companhia Melhoramentos Norte do Paraná encontrou um parceiro para uma ideia: devolver aos paranaenses uma fonte única para lidar com um século de desenvolvimento. Em benefício de todos, como se verá.

Jorge Caldeira é escritor, doutor em Ciência Política e está à frente do Projeto Memória Paraná.

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