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ChatGPT desafia professores
Alunos e professores buscam como usar as ferramentas de inteligência artificial| Foto: Divulgação/Escola Pedro Apóstolo

Estamos assistindo e participando de um importante capítulo da história do mundo, o início da Era da Inteligência Artificial. As próximas gerações estudarão este exato momento como estudávamos sobre a Era do Ferro, Era Industrial etc. Se antes era achismo, agora é fato: a inteligência artificial está substituindo pessoas no trabalho, e os profissionais e empresas que não usarem a IA no dia-a-dia perderão espaço a qualquer momento.

Por qual razão digo isso? A IA é capaz de executar tarefas de baixa e alta complexidade com apenas poucas instruções e em uma velocidade e qualidade invejável a qualquer profissional e time especialista no setor. O que antes demorava horas ou dias, além da necessidade de se ter ótimos profissionais para planejar e executar, agora leva-se apenas alguns minutos ou segundos para se obter, como planejamento de marketing, criação de um plano de pesquisa, criação e correção de provas, ideias de conteúdos, criação e correção de textos acadêmicos, publicações em redes sociais, blogs e jornais, criação de cursos completos sobre qualquer assunto, resumo de artigos e sites, criação de código e até mesmo a criação de imagens, geralmente usadas para posts em redes sociais e também para propagação de fake news, como acompanhamos recentemente com um falso casaco estiloso para o papa Francisco e a falsa prisão de Donald Trump em Wall Street.

Dar poder e autoridade a meia dúzia de pessoas só causará mais problemas.

A evolução rápida da inteligência artificial e a inevitabilidade de uma ruptura nas capacidades profissionais que conhecemos hoje, ocasionando em demissões em massa, exemplo o caso do BuzzFeed que demitiu 12% dos colaboradores de marketing por poucos profissionais que sabem usar a IA no dia-a-dia, levou mais de 100 especialistas e líderes no setor de tecnologia a assinarem uma carta aberta solicitando uma pausa de seis meses no desenvolvimento de inteligências artificiais avançadas, incluindo nomes como Steve Wozniack e Elon Musk. A carta cita o GPT-4, lançamento da OpenAI, e pede, em ar apocalíptico, a pausa da evolução de modelos até que a sociedade tenha uma clara ideia dos riscos e que haja mecanismos de governança e proteção legal às consequências da tecnologia.

Segundo a carta, há uma corrida descontrolada para desenvolver e implantar "cérebros artificiais" cada vez mais poderosos e mais inteligentes do que qualquer ser humano. No texto, os líderes da iniciativa chegam a perguntar se devemos arriscar perder o controle de nossa civilização. Convenhamos, o discurso é fácil de abraçar e muitos que apoiam tal abaixo assinado possuem verdadeira preocupação com o que está por vir. Mas vamos dar um passo para trás, suponha que o abaixo assinado se concretize, você realmente acha que os desenvolvedores e pesquisadores ao redor de cada canto do mundo, como Rússia, China, Irã dentre todos os países, vão parar de evoluir os modelos? É muita ingenuidade. Ingenuidade ou interesse escuso. Afinal, o que está por trás da "tentativa" de pausar a IA?

Desde esta notícia, venho tentando entender a motivação por trás de tal iniciativa, partindo da premissa a impossibilidade do desejo exposto no abaixo assinado se concretizar na prática, já que há uma variedade de códigos abertos e uma corrida empresarial e política atrelada à evolução da IA. Assim sendo, sinceramente, acredito que haja um interesse obscuro de tais líderes em criar uma entidade central e internacional, similar a uma ONU, OMS e FMI, só que voltada à inteligência artificial, ditando regras e ganhando aval a tomar ações extremas, talvez que até justifiquem guerra, "em nome da inteligência artificial humanizada".

Como um defensor do princípio da subsidiariedade, ou seja, acreditar ser mais eficiente que decisões devam ser tomadas pelas pessoas mais próximas ao problema e não distante dele, sou contra qualquer entidade centralizadora e global que queira dar seus pitacos e tenha autoridade para interferir nas decisões do interior da Paraíba, por exemplo.

Obviamente me preocupo com um possível crash global, ainda mais atrelado à desconfiança mundial no sistema financeiro e nas moedas até então estáveis, como o dólar, sem contar a forçação de barra da ONU e principalmente do World Economic Forum em alcançar o tal do "Great Reset", conforme o fundador da instituição – obviamente centralizada e global, por sinal – Klaus Schwab deixa bem exposto no livro Covid-19: The Great Reset. Para mim, tal medida defendida no abaixo assinado só trará mais problemas e, dada a força da notícia e das lideranças, acredito que, infelizmente, em breve veremos uma instituição manda-chuva global – mais uma, para a nossa alegria – sobre o tema.

Como empreendedor no mundo da inteligência artificial, entendo ser utópico impedir os avanços da inteligência artificial e acredito que qualquer tentativa do tipo só trará mais problemas. Para tentar extrair algo bom disso tudo, acredito que as pessoas devam dominar a IA, e só vejo isso sendo possível se as pessoas usarem a IA a favor delas no dia-a-dia, fazendo a IA trabalhar para elas, não o contrário.

Tenho um ar esperançoso no sentido de ver que as pessoas são curiosas e buscam usar a tecnologia. Por exemplo, em dois meses de ZapGPT, mais de 150 mil pessoas já a usaram e trocaram, aproximadamente, 5 milhões de mensagens. Os dados mostram que os estudantes são os que mais usam, via de regra usando para fornecer assistência e orientação em suas tarefas, respondendo a perguntas e fornecendo explicações quando necessário, e isso me dá ânimo, pois é uma geração que já nasce criando o costume de utilizar a IA no dia-a-dia.

E sabe o que é mais curioso? Os estudantes nos conheceram através dos professores, que estão em segundo na lista de heavy users, o que também dá ânimo pois mostra a capacidade e celeridade de adaptação das pessoas. Vemos também advogados, médicos, empresários e até mesmo pais usando, para ajudar os filhos a aprender novos idiomas, fornecendo-lhes práticas de conversação e feedback, por exemplo. Ainda é só o começo e todos nós, empreendedores e usuários, estamos aprendendo como usar a IA a nosso favor.

Por fim, retornando ao tema do momento, vamos supor que acatem a esse abaixo-assinado e passe a existir um tratado universal sobre IA. Agora vamos supor que todos os pesquisadores, empresas e desenvolvedores ao redor do mundo, mesmo com códigos open-source, resolvam respeitar o tratado e parem de evoluir os modelos durante seis meses. Vamos supor que, em seis meses, foram definidas as regras, um protocolo de governança e entidades para cuidar do tema. Agora vamos supor que todos sigam essas regras e quem não siga seja punido pelas entidades. Vamos supor que essas entidades não sejam corruptas e que essas entidades saibam discernir o que é certo do errado, mesmo não conhecendo a realidade de cada canto do mundo.

Quando isso deu certo? Quem irá conferir o poder de veto a estas pessoas? Esse abaixo assinado é repleto de boas intenções, mas parece tão utópico quanto esperar resultados bons e que não sejam autoritários de entidades internacionais que centralizam as decisões. O ponto é: IA se tornou algo inevitável, não tem volta. O vício do homem em tentar replicar ou substituir a criação gerou o que estamos vendo e talvez o que nem consigamos imaginar nos próximos anos. Acredito que cabe às pessoas, o quanto antes, usarem e entenderem como podem usar a IA a favor delas. E apesar de toda preocupação em volta do tema, dar poder e autoridade a meia dúzia de pessoas só causará mais problemas. Algo é certo: quem não dominar a IA, será dominado por ela.

Tiago Morelli é fundador da Enablers DAO e ZapGPT.

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