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| Foto: Cassiano Rosario/Gazeta do Povo

A resposta a essa pergunta pode ser bem óbvia: “Quando ele me der mais benefícios que o carro!” Mas que benefícios são esses que nos fariam abrir mão do transporte individual? 

O mais importante deles é a rapidez de deslocamento, mas há outros essenciais como segurança, confiabilidade e tarifa acessível. E, claro, condições básicas de conforto, limpeza e higiene. Cada item merece ser melhor analisado.

Rapidez é a qualidade mais desejada por todos nós. Queremos perder menos tempo no deslocamento, porque chegar antes significa maior qualidade de vida, e isso não tem preço. Um deslocamento mais rápido depende fundamentalmente da infraestrutura das vias, da oferta de serviços e da prioridade dada aos ônibus. Por isso é tão importante a construção de vias segregadas e vias exclusivas para os ônibus, além da prioridade semafórica. Afinal, quem deve ter prioridade nos semáforos, um automóvel com uma ou duas pessoas, ou um ônibus com 100 passageiros?

Sistemas de vigilância nos ônibus e terminais interligados diretamente com as autoridades de segurança são essenciais

Confiabilidade e pontualidade são outras características básicas para a decisão de usar o transporte público. Tenho de ter certeza de que o ônibus vai passar no horário para não chegar atrasado aos meus compromissos. Confiabilidade depende da qualidade dos ônibus e da infraestrutura viária. Já a pontualidade depende de motoristas bem treinados e de um sistema de gestão (o que inclui um Centro de Controle Operacional, CCO) atuando na operação. 

Segurança é algo básico. Ela deve estar presente nos terminais, nos veículos e no trajeto para casa, escola ou trabalho. Sistemas de vigilância nos ônibus e terminais interligados diretamente com as autoridades de segurança são essenciais. A segurança no sistema de transporte é o primeiro passo para se ter uma cidade segura.

Conforto em sistemas de transporte não significa viajar sentado. Significa ter terminais de qualidade, banheiros limpos, ônibus bem lavados e uma ocupação que respeite o espaço de cada passageiro. Em todos os sistemas de transporte de massa no mundo a maioria dos passageiros viaja em pé nos horários de pico.

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A tarifa acessível é aquela que permite que mesmo os menos favorecidos utilizem o sistema. Por esta razão, em todos os países desenvolvidos a tarifa é fortemente subsidiada. Na Europa, o subsídio varia de 50% a 90% dos custos do sistema. Transporte de qualidade custa mais e este custo não pode ser repassado diretamente para os passageiros, pois tarifas altas são um convite para as pessoas migrarem para o transporte individual.

A questão que fica é se tudo isso não passa de um sonho de verão. A boa notícia é que esse sonho pode se transformar em realidade com inteligência, criatividade e vontade política. Se o estado não tem recursos para criar a infraestrutura necessária, a iniciativa privada deve ser chamada para preencher este espaço. Se o estado oferecer as condições adequadas, as parcerias público-privadas (PPP) podem ser a solução. Já existem até projetos de PPP com as características acima citadas. O investimento necessário para colocar a Grande Curitiba novamente na vanguarda do transporte público mundial é uma pequena parcela do que seria necessário para um metrô.

Se não buscarmos essas soluções para o transporte público, passaremos boa parte das nossas vidas parados em congestionamentos. E esse preço é muito maior, pois impacta diretamente em nossa qualidade de vida.

Ayrton F. Amaral Filho é CEO da Metrocard, associação que congrega as empresas de transporte público da Região Metropolitana de Curitiba.
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