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A história recente dos Estados Unidos expõe uma verdade desconfortável: a elite política e intelectual, que se arroga o monopólio da racionalidade, costuma errar de forma sistemática – e sempre com a convicção inabalável de estar certa. Nos anos 1970, a política externa americana orbitava em torno da détente: administrar o conflito com Moscou, aceitar a ditadura soviética como fato consumado e tratar a repressão interna como detalhe irrelevante. A encenação chegou ao grotesco quando Jimmy Carter beijou Brejnev no acordo SALT II, símbolo da submissão de Washington ao “equilíbrio” com o totalitarismo.
Foi nesse ambiente que Ronald Reagan surgiu, não como “visionário ingênuo”, mas como alguém que enxergou o óbvio que os especialistas recusavam: a União Soviética não era eterna, mas um castelo de areia sustentado por petróleo barato, propaganda e medo. Chamou-a de “Império do Mal” e, em vez de administrar o declínio, decidiu precipitar o colapso: corrida armamentista, guerra psicológica, asfixia econômica. Ao contrário dos prognósticos apocalípticos, não houve hecatombe nuclear. Houve, sim, dissidentes encorajados, muros derrubados e a implosão de um sistema que o establishment jurava indestrutível.
Quatro décadas depois, Donald Trump encarna o mesmo choque de realidade. Os especialistas repetiam que não havia paz solução para o narcotráfico. Veio a política de Marco Rubio. Proclamaram que tarifas arruinariam a economia: a indústria americana renasceu. Garantiram que deportações em larga escala eram inviáveis: começaram a ser implementadas. Mais uma vez, a tecnocracia que se apresenta como sacerdócio errou em todas as linhas.
O paralelo é inevitável. Reagan desmontou o mito da eternidade soviética. Trump enfrenta agora o duplo desafio de uma Rússia revanchista e de uma China cada vez mais assertiva – herdeiros de uma mesma lógica imperial -e comunista- que sobrevive do medo e da paralisia ocidental. Enquanto os “especialistas” pregam acomodação e gestão da decadência, líderes disruptivos apontam outro caminho: enfrentar, expor fragilidades e reverter a narrativa.
A pergunta central não é se Trump repetirá Reagan, mas se os Estados Unidos – diante de Pequim e Moscou – terão novamente a ousadia de ignorar os arautos do conformismo. Pois, se a história ensina algo, é que os “especialistas” quase sempre se enganam, mas quase nunca se calam.
Marcos Paulo Candeloro é graduado em História (USP), pós-graduado em Ciências Políticas (Columbia University- EUA) e especialista em Gestão Pública Inovativa (UFSCAR).
Conteúdo editado por: Jocelaine Santos



