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Em 7 de julho de 2025, Donald Trump, em seu segundo mandato como presidente dos Estados Unidos, publicou em sua rede Truth Social a frase curta, porém explosiva: “Leave Bolsonaro alone!” (“Deixem Bolsonaro em paz!”).
A declaração em defesa de Jair Bolsonaro reverberou instantaneamente nas ruas, nos palácios de Brasília, nos corredores diplomáticos e nas redações da imprensa internacional.
A repercussão foi tamanha que o episódio rapidamente escalou para uma crise simbólica de grandes proporções, com possíveis efeitos geopolíticos duradouros, reposicionando o Brasil como peça-chave em um embate global entre o nacionalismo conservador e a esquerda institucional.
Trump reagia, com essa publicação, às crescentes investigações contra Jair Bolsonaro no Brasil, principalmente àquelas ligadas aos eventos de 8 de janeiro de 2023, quando baderneiros invadiram os Três Poderes em Brasília durante protestos que resultaram em vandalismo e confrontos.
Bolsonaro, impedido de deixar o país por decisão do Supremo Tribunal Federal, também foi barrado de comparecer à posse de Trump em janeiro de 2025 — uma ausência que frustrou setores da direita internacional.
A publicação também ocorreu em meio à consolidação do projeto de Trump para seu segundo mandato, centrado na doutrina “America First” política que tem priorizado interesses nacionais, fortalecido acordos bilaterais e ampliado a influência econômica dos EUA.
Em vez de gestos autoritários, o presidente tem buscado reposicionar os Estados Unidos com foco na competitividade, soberania e liderança direta em temas estratégicos como comércio, segurança e energia.
O post de Trump, portanto, sinaliza não apenas uma afinidade com Bolsonaro, mas também um alinhamento ideológico com lideranças que compartilham dessa visão nacionalista e conservadora.
Reforçando esse posicionamento, o Departamento de Estado dos EUA emitiu uma nota oficial no dia 8 de julho: “Jair Bolsonaro e sua família têm sido parceiros sólidos dos EUA. A perseguição política contra eles e seus apoiadores é uma vergonha e está muito aquém da dignidade das tradições democráticas do Brasil”.
A base bolsonarista recebeu o post e a nota como uma proclamação de inocência internacional. Influenciadores e canais de direita interpretaram as mensagens como uma legitimação da ideia de que Bolsonaro é alvo de perseguição política.
O discurso do “o mundo está vendo” se intensificou nas redes, criando um novo clima de mobilização. A mensagem de Trump trouxe novo ânimo à militância conservadora, que via Bolsonaro perseguido e acuado juridicamente.
Além disso, o reconhecimento tácito da articulação de Eduardo Bolsonaro nos bastidores internacionais, especialmente com o Partido Republicano e figuras-chave da direita global, fortaleceu a ideia de que a direita brasileira ainda tem peso no cenário internacional, mesmo fora do poder.
Já o governo Lula e setores da esquerda reagiram com veemência. A fala de Trump e a nota oficial foram tratadas como uma afronta à soberania brasileira. O presidente respondeu, em um evento no Brics, que “o Brasil não aceita interferência de ninguém”. O PT emitiu notas classificando os gestos como “intromissão indevida” e “tentativa de desestabilização democrática”.
Internamente, a equipe de Lula passou a temer que essas declarações reacendessem protestos e, pior, gerassem uma nova onda de mobilização bolsonarista em um contexto já instável. O governo preferiu não convocar o embaixador brasileiro nos EUA — gesto que seria diplomaticamente interpretado como escalada —, mas deixou claro, nos bastidores, que monitoraria de perto os desdobramentos.
A repercussão da postagem de Trump e da nota oficial foi imediata também nos grandes veículos da imprensa mundial. O The Guardian (Reino Unido) chamou a mensagem de uma “forte defesa” do ex-presidente brasileiro, a BBC relatou que a fala de Trump gerou uma “resposta imediata” de Lula e destacou o confronto inédito entre os dois líderes.
A Al Jazeera classificou a ação como parte de uma estratégia para proteger “um colega líder da direita”, o Le Monde (França) afirmou que “Trump e Lula entram em choque” e apontou que o presidente americano “iniciou as hostilidades”, e o Washington Post chamou atenção para a comparação feita por Trump entre sua situação e a de Bolsonaro, ressaltando a narrativa comum de perseguição judicial.
Essas análises reforçam que, para além do Brasil, o caso está sendo visto como parte de um realinhamento das forças globais.
O apoio de Trump, explicitamente, do governo americano não é gratuito, mas sim estratégico e calculado
Apesar da nota não ter implicações jurídicas diretas, sua publicação oficializou o alinhamento da diplomacia americana com Bolsonaro. Negociações em áreas como meio ambiente, comércio e segurança regional podem ser impactadas.
Já se fala, nos bastidores do Itamaraty, que Lula pode buscar reforçar laços com a Europa, China e os BRICS para compensar um possível distanciamento dos EUA.
A nota e a postagem foram mais do que gestos de amizade pessoal: sinalizam que Trump e seu governo pretendem usar sua liderança para proteger aliados ideológicos, mesmo que isso represente tensão com democracias latino-americanas. Isso pode desencadear apoio de outros líderes conservadores a Bolsonaro, pressionando ainda mais o governo Lula no cenário externo.
Países com governos alinhados à esquerda, como Chile e Colômbia, observaram com preocupação a postura de Washington, que pode abrir precedente para mais manifestações políticas de apoio a lideranças conservadoras sob investigação.
Por outro lado, líderes de direita, como o paraguaio Santiago Peña, podem aproveitar a deixa para se alinhar ao eixo Trump-Bolsonaro.
Internamente, a publicação trouxe fôlego à base bolsonarista, que há meses parecia desmobilizada. A ideia de que “Trump está com a gente” – agora reforçada por um órgão oficial dos EUA – funciona como bálsamo emocional e político.
Pode haver um novo ciclo de manifestações e, com a proximidade das eleições de 2026, esse gesto tende a ser usado eleitoralmente por candidatos bolsonaristas.
A retórica de “perseguição” é reforçada, colocando o STF e o governo Lula no papel de vilões perante parte da população. Enquanto isso, juristas alertam que, mesmo com apoio internacional, Bolsonaro não está imune à Justiça, já que as declarações, embora politicamente fortes, não alteram os fatos jurídicos.
A frase “Deixem Bolsonaro em paz!”, ainda que escrita de forma informal por Donald Trump, agora está respaldada por uma nota oficial de Washington se tornando um gesto geopolítico com peso.
Ao defender o ex-presidente brasileiro, Trump e sua administração reativam a narrativa de que há uma “perseguição” política orquestrada por elites globais e pelo STF discurso central do bolsonarismo.
Essa simples postagem e sua amplificação diplomática mostraram que nenhum dos lados está tão isolado quanto parecia: Bolsonaro ainda conta com apoio de figuras poderosas no exterior; Lula, por sua vez, precisa lidar com um cenário internacional mais adverso do que o previsto.
Ambos terão de recalcular suas rotas. Se houver desdobramentos concretos como pressão em organismos internacionais, sanções indiretas ou obstruções diplomáticas, o Brasil pode estar diante de uma crise internacional sem precedentes na Nova República.
Carlos Arouck, policial federal, é formado em Direito e Administração de Empresas.



