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Saneamento como prioridade: o exemplo do Paraná e o que o Brasil pode aprender com a Índia

(Foto: Jonathan Campos/GazetadoPovo/Arquivodo Povo)

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Por muito tempo, associamos a Índia a um país com graves problemas de saneamento, marcado por precariedade e desigualdade. No entanto, nos últimos anos, o país asiático tem surpreendido o mundo ao avançar significativamente nessa área, superando o Brasil na proporção de população atendida com esgoto tratado. A transformação indiana é prova de que, com prioridade política, investimentos consistentes e foco na população, é possível romper barreiras históricas.

Enquanto isso, o Brasil ainda patina: menos da metade da população tem acesso à coleta e tratamento de esgoto. Mas há exceções que merecem destaque – e o Paraná é, sem dúvida, a mais expressiva delas. O estado já atingiu 100% de cobertura com água potável e alcançou 81,5% de coleta de esgoto, com 100% do volume tratado. Essa realidade coloca o Paraná anos à frente da média nacional e mostra que a universalização do saneamento não é utopia, mas um objetivo factível.

Os números impressionam, mas o impacto vai além das estatísticas. Estamos falando de saúde pública, redução de doenças, valorização de imóveis, preservação ambiental e desenvolvimento sustentável. A experiência paranaense é um modelo de como políticas públicas bem planejadas, investimentos contínuos e parcerias com o setor privado podem transformar a vida das pessoas.

Entre 2019 e 2024, a Sanepar investiu mais de R$ 8,9 bilhões nos serviços de água e esgoto em 345 municípios do estado. Para o período de 2025 a 2029, o investimento previsto é de R$ 11,8 bilhões. Parte significativa desses recursos será aplicada por meio de Parcerias Público-Privadas (PPPs), que permitirão que 128 municípios alcancem 90% de cobertura com esgoto tratado até 2033.

Mais do que quantidade, o Paraná também se destaca pela qualidade. Enquanto São Paulo, por exemplo, coleta 93% do esgoto, mas trata apenas 85% (dados da Sabesp, 2024), o Paraná trata a totalidade do esgoto coletado. As Estações de Tratamento de Esgoto do estado vêm aumentando sua eficiência, chegando a quase 90% de conformidade com as normas ambientais em 2025 – um salto de mais de 30% em relação a 2018.

O compromisso com a excelência também está presente na distribuição de água potável. Os laboratórios da Sanepar são referência nacional, com mais de 7,5 milhões de análises realizadas. Essa estrutura robusta contribui diretamente para a saúde pública: segundo estudo do Instituto Trata Brasil, entre 2008 e 2024, o Paraná registrou queda de 3,6% na mortalidade infantil (0 a 4 anos) e de 5,9% entre crianças de 5 a 9 anos. A correlação com o saneamento é clara e inegável.

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Esses avanços também refletem na qualidade de vida. Em 2025, o Paraná foi classificado como o 4º estado com melhor Índice de Progresso Social (IPS) do Brasil, alcançando 63,83 pontos – com mais da metade dos seus municípios (52%) em nível alto nesse indicador. Apesar dos resultados, os desafios permanecem. A universalização do esgoto tratado ainda exige foco especial nas áreas rurais e nas comunidades mais vulneráveis. O Marco Legal do Saneamento, aprovado em 2020, fornece instrumentos para acelerar esse processo, mas sua efetividade depende de vontade política, fiscalização rigorosa e inovação na gestão pública.

O Brasil precisa aprender com a Índia – que transformou uma crise sanitária em uma causa nacional – mas também precisa valorizar e replicar os bons exemplos que já existem internamente. O Paraná mostra que é possível liderar com planejamento, responsabilidade e respeito à dignidade humana. Agora, cabe ao país inteiro decidir se seguirá esse caminho ou continuará adiando um direito básico que deveria ser universal: o acesso ao saneamento.

Wilson Bley é diretor-presidente da Sanepar.

Conteúdo editado por: Jocelaine Santos

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