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No Evangelho de hoje, Jesus introduz o quinto exemplo da sua nova interpretação da lei: "Ouvistes o que foi dito aos antigos: olho por olho, dente por dente" (Mt 5, 38). É uma fórmula que se tornou proverbial. Quando alguém pratica contra nós uma grosseria, e nós lhe pagamos na mesma moeda, para justificar-nos, dizemos: "olho por olho, dente por dente"!

A expressão já assumiu um sentido de: falta de compaixão, recusa de usar de clemência em relação ao culpado. Este, porém não era o sentido original. Façamos uma consideração prévia: esta forma nunca foi aplicada de modo literal; nunca foram arrancados os olhos de ninguém ou tirados os dentes, como castigo. Esta lei tinha sido imposta para defender os réus das vinganças sem limites, das represálias brutais, dos excessos nas punições.

Nos tempos antigos, quem conseguisse capturar o responsável por alguma maldade cometida, submetia a punições tão severas e tão cruéis não só a ponto de dissuadi-lo, como também dissuadir os demais de cometer erros semelhantes. Quem fosse pego em flagrante tinha que pagar não só pelo seu crime, como também por todos os outros crimes cujos responsáveis não tinham sido descobertos.

A vingança era um método antigo e desumano de praticar a justiça, mas servia para manter um pouco de ordem naquela sociedade. A esta altura cabe fazer a pergunta: E os homens de hoje já conseguiram praticar essa forma elementar de justiça? Não estarão, por acaso, ainda, no nível da vingança?

Interpretada no seu verdadeiro sentido, portanto, a "norma olho por olho", é muito boa e Jesus não afirma que ela é inválida. Ele, porém, quer que se avance além desta justiça rigorosa e enfrenta o problema da violência de uma forma totalmente diferente. O primeiro se refere à violência física: "Se alguém bate na face direita..." Quando se dá um tapa em alguém que lado se bate? No esquerdo. Por que Jesus fala do direito? Porque a violência é maior: trata-se da mão virada, uma ofensa muito grave, punida em Israel como um castigo correspondente a um mês ou mais de um mês de salário.

Aos seus discípulos Jesus não recomenda ser melhor ou mais suave nas exigências de reparação. Exige dele uma postura radicalmente nova: "oferece-lhe também o outro lado da face" (Mt 5, 39). Pela lógica dos homens, as propostas de Jesus são autênticas loucuras. Alguém já bolou um bom chiste: "Bonzinho sim, mas não bobo".

Com certeza, as palavras de Jesus não devem ser tomadas ao pé da letra. Ele, também, quando levou uma bofetada, não ofereceu a outra face, mas protestou. O que Ele exige dos seus seguidores é a disposição interior para aceitar a injustiça, para aceitar a humilhação, para não prejudicar o irmão.

Os seguidores de Cristo vivem a convicção de que a única maneira eficaz para interromper o ciclo demoníaco: Ofensa-violência é o perdão. Se à violência se contrapõe outra violência, não só não se elimina a primeira injustiça, mas acrescenta-se outra. Este círculo diabólico somente pode ser quebrado com um gesto original, completamente novo: o perdão. Tudo o mais é ultrapassado, é algo que já se viu, repetido sem parar desde os primórdios da humanidade.

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