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A educação e os temas que lhe são pertinentes têm povoado as notícias e as discussões sobre o futuro do Brasil. O mau desempenho dos estudantes brasileiros nos testes internacionais tem sido constante, justamente quando se sabe que, para o país superar a pobreza e sair do clube das nações subdesenvolvidas, a escolaridade média e o grau de qualificação profissional precisam melhorar muito. Essa situação tem posto em xeque o sistema educacional e levantado o problema de por que o aprendizado tem sido tão baixo tanto na educação básica (ensino fundamental e ensino médio) quanto na educação superior (profissionalizante).

O quadro se apresenta cada vez mais grave, a partir da constatação de que hoje há no país um gigantesco desperdício de força de trabalho, retratado nos seguintes dados: 12,7 milhões de desempregados, 4,8 milhões de subempregados (aqueles que trabalham jornadas médias inferiores a oito horas diárias) e 5 milhões de desalentados (os que perderam o emprego, não conseguiram outro e desistiram de procurar). A soma desses três grupos dá 22,5 milhões de pessoas desocupadas ou subocupadas, equivalentes a um quinto dos 104 milhões de brasileiros em condições de trabalhar.

Esse um quinto dos brasileiros fora do processo produtivo formal representa uma gigantesca massa de força de trabalho que, embora consumindo, não está contribuindo para aumentar o produto brasileiro. A coisa, porém, é mais grave. Mesmo que a recessão seja superada e a economia se recupere, o crescimento do produto total do país pode não ser suficiente para absorver todo esse enorme contingente de trabalhadores ociosos e, no curto prazo, efetivamente não será. As razões são várias.

O futuro exigirá que os empregos sejam ocupados pelos trabalhadores do conhecimento

Por volta de 1800, a humanidade fez a primeira revolução tecnológica moderna, com a invenção da máquina a vapor, do trem de ferro, da estrada de ferro e do navio a vapor. A produtividade/hora do trabalho explodiu, o padrão de vida melhorou e, em 1830, a humanidade chegou a 1 bilhão de habitantes. Entre 1870 e 1900, a segunda revolução tecnológica assombrou o mundo com a invenção do motor a combustão (esse dos automóveis, caminhões e ônibus), a indústria do petróleo e com a mais importante invenção de todos os tempos: a eletricidade. Em 1930, a população dobrou e atingiu a 2 bilhões.

Entre 1960 e 2010, a terceira revolução tecnológica nos dá o computador, a internet, a telefonia celular e milhares de máquinas. A vida melhora e a humanidade entra no terceiro milênio com 6,3 bilhões de pessoas. Hoje, somos 7,4 bilhões. Em 2050, seremos 9,4 bilhões. Atualmente, o mundo está na quarta revolução tecnológica, entre 2015-2040. O homem tem duas habilidades: a habilidade física e a habilidade cognitiva. A habilidade física é, como o próprio nome diz, derivada dos braços e da força física. A habilidade cognitiva é a capacidade de pensar, analisar, dominar a natureza, inventar, sentir, comunicar, trocar e ter emoções, e ela deriva da mente, do cérebro, da consciência e da inteligência.

Em todas as revoluções tecnológicas anteriores, as máquinas competiram com o homem nas habilidades físicas, a exemplo dos robôs que substituíram o operário nas fábricas. Agora, na quarta revolução tecnológica, a explosão de conhecimento e de técnicas na inteligência artificial, na biotecnologia e na disrupção tecnológica está levando ao surgimento do robô sapiens, capaz de substituir o homem nas habilidades cognitivas. A inteligência artificial criará máquinas capazes de executar funções cognitivas e reproduzir emoções humanas.

Do mesmo autor: A tecnologia e o futuro do emprego (publicado em 29 de março de 2018)

Leia também: Um robô vai tomar seu emprego? (artigo de Mateus Azevedo, publicado em 13 de setembro de 2018)

Uma das consequências, como diz o escritor Yuval Harari, é que o mundo poderá criar uma “enorme classe sem utilidade”. Certamente, a humanidade inventará novos produtos, novos processos, novas necessidades, novas tarefas e novos empregos. Uma coisa é certa: o futuro exigirá que os empregos sejam ocupados pelos trabalhadores do conhecimento, e diploma poderá servir para concorrer a cargo público, mas não bastará para ter um emprego na economia moderna.

O nível de educação e o grau de qualificação profissional é que dirão se você estará apto ou não para desempenhar as novas funções. Domínio da língua, habilidade de leitura e escrita, domínio da matemática, raciocínio lógico e pensamento analítico serão atributos exigidos não em nível elementar, mas em nível razoavelmente avançado. O sistema educacional será julgado pela capacidade de dotar os estudantes desses atributos, não por quantos diplomas distribui. A aprendizagem de alta qualidade terá de ocorrer desde os primeiros anos do ensino fundamental, pois, na fase de profissionalização, em escola técnica ou na universidade, é quase impossível corrigir as deficiências de aprendizagem nos anos de educação básica. Aí está o desafio.

José Pio Martins, economista, é reitor da Universidade Positivo.
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