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A decisão do governo americano de impor uma tarifa de 50% sobre as importações vindas do Brasil, ao mesmo tempo em que pegou boa parte do mercado – nacional e internacional – de surpresa, acende um alerta de risco severo para a economia nacional. O ano já trazia instabilidades internas diante dos embates sobre cortes de gastos, pressão cambial e fragilidade da base governista no Congresso.
Dentro desse contexto, analisar os impactos de uma medida que pode tirar até R$ 175 bilhões da economia brasileira e fazer o PIB se retrair em mais de 2%, segundo estudo da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), é fundamental. Isso permitirá que se busquem alternativas de negociação – as quais são, por si só, complexas, diante dos poucos canais abertos de diplomacia entre os governos brasileiro e dos Estados Unidos na conjuntura presente.
Dito isso, como já vem sendo discutido no ambiente de negócios brasileiro, o “tarifaço” afeta, especialmente, pilares importantes da economia brasileira, como a agropecuária e o agronegócio (especialmente nos setores de frutas, carnes, café e vegetais), a indústria de alimentos processados, sucos, além dos segmentos de petróleo, energia, maquinários, celulose e minerais.
É importante salientar ainda que os setores mais impactados pela medida já vivem um contexto de fragilidade: um levantamento da consultoria RGF aponta, nesse sentido, que mais de 220 grandes empresas desses segmentos passam por processo de recuperação judicial.
Ato contínuo, estados do Sudeste (maiores exportadores para os Estados Unidos) e do Nordeste, como Ceará e Sergipe (cuja economia tem forte dependência da relação com os EUA, de acordo com pesquisa do Dieese), já estão se mobilizando localmente para conter os danos da política tarifária por meio de novas linhas de crédito e caminhos para uma potencial recuperação de empresas.
Há de se considerar ainda os danos operacionais e estratégicos para o âmbito logístico, já que a redução no volume de exportações pode provocar aumento dos custos operacionais por perda de escala e pressão sobre transportadoras, operadores portuários e armazenadores. Nesse sentido, aliás, o Sindicato das Empresas de Transportes de Carga de São Paulo e Região (Setcesp) observou, em pronunciamento recente, queda na demanda do transporte rodoviário.
Dado esse cenário crítico, que pode gerar um efeito em cascata de perda de competitividade, cancelamento de contratos e demissões em massa, a busca por alternativas de negociação é, concomitantemente, delicada e urgente
Entidades como a CNI (Confederação Nacional da Indústria), a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec) e, na Câmara, a Frente Parlamentar do Agronegócio manifestam publicamente preocupação, pressionando o governo brasileiro por medidas emergenciais e maior agilidade diplomática.
Há um consenso no ambiente de negócios nacional, no entanto, de que, dado o fato de que a busca pela diversificação de mercados para o Brasil, embora importante, leva tempo e não ocorrerá da noite para o dia.
A saída real envolve a busca de caminhos para a redução da sobretaxa americana sobre nossas exportações, considerando o risco não só de que empresas se inviabilizem, mas de que, do ponto de vista macroeconômico, o país demore para se recuperar dos danos de uma medida que coloca a política comercial nacional em xeque.
E tudo isso ocorre em meio às negociações para a Reforma Tributária e à necessidade de fortalecimento das negociações internas para o avanço de nossa economia. São tempos complexos e que exigem mais do que palavras.
Marcelo Simões é tributarista, sócio e co-fundador da Comtax.



