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O presidente Donald Trump vem produzindo uma onda de incertezas, sobretudo para os norte-americanos, pelo seu perfil de governo. A economia americana é a maior e mais influente do mundo e Trump tem usado isso como o valentão para intimidar outras partes e, dessa forma, alcançar seus objetivos. É notável como ele tem utilizado a intimidação para reduzir a imigração ilegal, para que os servidores federais peçam demissão e para que os países da Europa Ocidental invistam mais em armamentos. Talvez uma das medidas mais marcantes que Trump tem utilizado é a ameaça da elevação das tarifas para parceiros tradicionais como Canadá, México, países da União Europeia e mesmo China e Brasil.
Além de Donald Trump causar incertezas por anunciar tarifas, voltar atrás e depois anunciar outras tarifas, há clara intenção em reduzir a integração produtiva e comercial dos EUA com outros países, o que gera ineficiências, aumenta os custos de produção e, portanto, a inflação. As empresas buscam produzir onde possuem vantagens em termos de eficiência e, dessa forma, custos de produção, além de ponderarem os riscos dos investimentos. Ao elevar as tarifas, como fez Trump, o primeiro efeito ocorre no preço dos importados. Como há grande integração entre as economias, a elevação no preço dos importados afeta não somente os bens finais, mas boa parte dos custos de produção interna via insumos importados que, em muitos casos, entram mais de uma vez nos EUA no mesmo processo de produção.
A cooperação entre os países e mesmo dentro do próprio país é um elemento relevante para crescimento sustentável. Pena que o país com a maior economia do mundo esteja indo na direção contrária e destruindo boa parte da cooperação entre países e pessoas
Em um segundo momento, as tarifas maiores podem atrair a produção para os EUA das empresas que buscam evitar os custos mais altos de importação. No entanto, elas irão produzir com menor nível de eficiência e maiores custos, o que também significa preços mais elevados. Caso contrário, já estariam produzindo nos EUA antes da elevação das tarifas.
A inflação nos EUA está acima da meta de 2% ao ano, e as tarifas irão elevar ainda mais os preços, o que levará o Banco Central Americano (FED) a manter uma política monetária mais restritiva. O choque de preços decorrente das tarifas, a política monetária mais apertada e as incertezas trazidas pelo jeito valentão de governar irão reduzir o crescimento da economia norte-americana. É possível que, como resultado, a economia dos EUA entre em um período de estagflação ainda em 2025, ou seja, de aumento da inflação com uma estagnação ou recessão.
Como a economia mais importante do mundo, todos os países estão sendo afetados. Aqueles que sofrerão os maiores efeitos são aqueles que possuem os piores fundamentos. Por isso, é importante que o Brasil faça a lição de casa, sobretudo reduzindo os gastos públicos e, dessa forma, os déficits orçamentários para que possa passar pelas turbulências futuras.
O presidente norte-americano Donald Trump pode conseguir alguns benefícios, no curto prazo, pela sua forma de governar, com o aumento de tarifas, por exemplo. Mas além de prejudicar a economia norte-americana, sobretudo em prazos mais longos, vem afetando outros países. A cooperação entre os países e mesmo dentro do próprio país é um elemento relevante para crescimento sustentável. Pena que o país com a maior economia do mundo esteja indo na direção contrária e destruindo boa parte da cooperação entre países e pessoas. Em um mundo cada vez mais dividido, todos perdem.
Luciano Nakabashi é doutor em Economia e professor associado da FEARP/USP.
Conteúdo editado por: Jocelaine Santos



