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| Foto: Miguel Schincariol/AFP

As transações comerciais internacionais tendem a ganhar maior rapidez e volume com a incorporação da tecnologia blockchain, que é a base das criptomoedas, por facilitar o fluxo das transações entre parceiros comerciais de diferentes nacionalidades. Há alguns dias, o banco HSBC anunciou aos quatro cantos do mundo ter realizado, juntamente com o banco holandês Dutch ING, a primeira transação de comércio internacional utilizando somente a tecnologia blockchain, ao intermediar a comercialização de um carregamento de soja da Argentina para a Malásia.

O grande diferencial nesse processo todo foi a possibilidade de se recorrer a uma plataforma que economiza tempo, evita burocracia e permite a finalização da negociação em um prazo mínimo de tempo – operações com criptomoedas são realizadas instantaneamente –, sendo que em uma operação tradicional poderia demorar de dois a cinco dias.

É a tecnologia blockchain que permite a realização de transações mais rápidas e seguras por não depender dos bancos centrais dos países envolvidos na negociação – exportador ou importador – ou dos bancos de Nova York e Londres, que centralizam as operações de câmbio em dólar e euro.

Seria interessante dizer que a operação é mais rápida por não depender do Banco Central do país exportador, nem do Banco Central do país importador ou mesmo dos bancos de Nova York e Londres que centralizam as operações de câmbio em moedas como o dólar americano e o euro. Desta forma, o blockchain descentraliza a verificação que é criptografada e, com isso, reduz-se custo e tempo.

Apesar de ainda causar um certo espanto em parte do empresariado, a tecnologia blockchain vai se consolidar rapidamente

Para viabilizar a transação da soja argentina, a plataforma utilizada foi desenvolvida pelo consórcio R3, do qual HSBC e banco ING fazem parte, e batizada de “Corda Blockchain”.

Apesar de ainda causar um certo espanto em parte do empresariado, a tecnologia blockchain vai se consolidar rapidamente. O bitcoin é apenas uma e, talvez, a mais famosa, das inúmeras possibilidades de uso do blockchain, item que quem atua na área de comércio exterior terá que conviver em breve. É o mesmo que ocorreu com os cartões de crédito e débito, quando há alguns anos se falava no “dinheiro de plástico”. Hoje, quem quer se manter no mercado precisa estar interligado à rede bancária para executar a transferência financeira de valores.

Até então, todas as modalidades de pagamento no comércio internacional apresentavam riscos, vantagens e desvantagens. Prazos e questões cambiais estão entre alguns dos fatores considerados para se definir como comprar ou vender produtos no mercado externo. Carta de crédito, cobrança documentária e pagamento antecipado são algumas das possibilidades existentes atualmente, mas todas exigem documentos e outros requisitos que comprometem a agilidade do processo.

Já o conceito da tecnologia por trás das moedas virtuais – o blockchain –, que são protegidas por operações criptografadas, é o de permitir que as transações sejam descentralizadas e efetuadas diretamente entre os usuários, eliminando a interferência de instituições, órgãos de controle e governos.

Grandes redes bancárias, governos e startups já se atentaram para o potencial do blockchain e estão dedicando especial atenção para descobrir como explorá-lo visando à redução de custos e melhoria de eficiência.

Leia também: Cooperativas de crédito dão lições ao mercado (artigo de Carlos Peres, publicado em 6 de junho de 2018)

Leia também: Cadastro positivo, para quê? (artigo de Helen Ribeiro, publicado em 29 de maio de 2018)

Uma das grandes vantagens do uso de moedas virtuais no comércio exterior está justamente na facilidade e baixo custo para a transferência de valores para qualquer lugar do planeta

Segundo pesquisa da Deloitte realizada no final de 2016 com 308 executivos seniores conhecedores de blockchain em organizações com receita anual superior a US$ 500 milhões, muitos colocam esse tipo de tecnologia entre as maiores prioridades de sua empresa. Para 36%, o blockchain tem potencial de melhorar as operações dos sistemas, reduzindo os custos ou aumentando a velocidade. Outros 37% consideram os recursos de segurança superior do blockchain como sua principal vantagem.

Nos processos de importação e exportação, essa tecnologia pode ser aplicada ao monitoramento e distribuição de contêineres, rastreamento de embarques, acompanhamento dos fretes e uma série de outros serviços.

Ainda que seu uso esteja em um estágio inicial e demore algum tempo para ser integrado à realidade das empresas tanto no Brasil quanto no exterior, o fato de oferecer oportunidades de transações rápidas e seguras e operações que podem ser monitoradas ao longo de sua trajetória já mostra que o blockchain representa um grande avanço para todo o setor de comércio exterior.

Kleber Fontes é diretor do Grupo Casco Comércio Exterio e Logística, consultor e palestrante.
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